A versatilidade dos modelos de negócios num ecossistema digital que muda a relação entre as pessoas com as marcas no mundo todo.
Nesse artigo, Fernanda Safe compartilha experiências e insights da sua imersão em inovação na China, onde explorou cases reais de inteligência artificial no Retail Tech, Fashion & Beauty, veículos autônomos e super apps.
Antes de abordar sobre as suas experiências na China, Fernanda comenta sobre os desafios de carreira para integrar as novas tecnologias em ecossistemas complexos, conectando cadeias de valor do início ao fim.
Nessa jornada, foram diversos modelos de trabalho e culturas bem diferentes, com oportunidades de liderar projetos globais de inovação, desenvolvendo e aplicando soluções de tecnologia avançada com machine learning, IoT e Big Data com foco em gerar eficiência operacional promovendo a transformação em diversas indústrias.
“Quando decidi ir para a China tinha objetivos ambiciosos, porém comuns. Queria experimentar a inovação nas suas mais variadas formas, ampliar o meu repertório e as minhas referências em negócios, além de observar como as marcas mais tradicionais estão se conectando com as gerações mais jovens, já que estamos falando de um país extremamente populoso, onde estas já não querem mais seguir os modelos “normais” de consumo, tão pouco de trabalho.”
Por isso, fica evidente que muitas pessoas da Geração Z estão produzindo conteúdo “gratuito” para chamar atenção das suas marcas favoritas, consequentemente ganhando relevância e notoriedade, atuando como KOC – key opinion customer. Ou seja, uma pessoa que experimenta produtos de marcas que se identificam e “vendem” na sua rede, funcionando como um “mini-influencer”, sem ser remunerado por isso num primeiro momento.
Dado isso, precisamos mergulhar nas experiências que vivi de varejo tech na China. Porém, falar de “Retail Tech” sem entrar em meios de pagamento, inteligência artificial, social commerce, liveshops e super apps é quase impossível por lá. Na China, você encontra diversas facilidades dentro de super apps.
Vale lembrar que a China até 10 anos atrás tinha um “modus-operandi” bem diferente – e quem acompanha o crescimento econômico do país, sabe o quanto ela evoluiu. A tecnologia não era tão forte como nos dias de hoje. E hoje, você não compra nada se não estiver com o WeChat ou o Alipay no seu celular.
A dependência das telas e de um smartphone é gigante, e ele é o maior veículo de interação para você criar relações rápidas com marcas e apps que eu nem conhecia. Então vamos entender o porquê.
Tudo na China é muito vivo. Uma população com quase 2 bilhões de pessoas movimenta muitos mercados e retroalimenta um ecossistema extremamente dependente das novas tecnologias. Não vou falar de política, mas eu vi o capitalismo real nas ruas das cidades de Pequim e principalmente Shanghai.
Inteligência artificial, o score do usuário, IoT, Big Data, Super apps e Live Shops estão moldando a economia global e são assets estratégicos para as empresas e marcas do varejo se diferenciarem do “awareness ao loyalty”, sempre com a intenção de se conectar rapidamente com as pessoas com poder consumo, vendendo mais e melhor a partir do “Customer behavior”, entendimento do poder de consumo e do engajamento – mas isso não significa ofertar experiências 100% online. O modelo O2O (on to off e off to on) prevalece por aqui.
Explorar as novas tecnologias e os modelos que oferecem em cada app me fez enxergar não só como as coisas acontecem por aqui, e mas também o reflexo da alta capacidade de execução de um país, extremamente populoso, que saiu da fome, para um alto padrão de consumo – revolucionando e transformando o setor automotivo, financeiro e tipos de consumo no varejo em geral.
Então impressiona ver como tudo funciona em torno de um app social que é o WeChat e o outro, que é um meio de pagamento como o Alipay. Se você não estiver dentro você “não existe” para o sistema.
Ambos têm mini-apps dentro deles, mas o interessante é que o Alipay surgiu para centralizar tudo que você precisa dentro dele. Facilidades como pedir um táxi da “Didi”, comprar passagens e reservar hotéis com preço acessível, ou até mesmo usar o QR code para pegar o metrô acontecem de forma nativa e eficiente dentro do app. O meio de pagamento padrão é o cartão de crédito online – e ele precisa estar cadastrado dentro do app – não adianta ser físico! Além disso, o principal método é o QR Code – então quando você quer pagar por algo numa loja, eles definem o valor na maquininha e você faz o scan para concluir a transação automaticamente do valor devido diretamente no cartão cadastrado.
Enquanto o alipay facilita o pagamento o WeChat facilita a comunicação. O WeChat nasceu como uma rede social, e foi integrando outras funcionalidades para permitir transações internas. Ambos são fontes riquíssimas de dados “1st party data” e traçam o perfil de consumo com base no score do usuário. Isso determina se a pessoa está apta a comprar o novo carro da Xiaomi seja numa loja ou online ou um suco numa vending machine!
Falando em inovação e na rapidez de transformação da China temos a BYD, Great Wall Motors, Huawei e Xiaomi na briga das vendas de carros elétricos e a Baidu, correndo contra a Tesla com a super inteligência dos autônomos. Já são mais de 1200 carros autônomos rodando na China, entre Pequim e Shanghai. É possível experimentar robotáxis sem motorista nessas cidades.
Ser criativa e futurista, permite a China moldar padrões, e virar modelo para diversos países. Isso a gente já sabia, certo? O que não sabíamos é como ela está enfrentando desafios para se relacionar com países no mundo todo, já que possui um sistema que opera em um sistema super fechado.
A Modelagem de negócios é bem forte aqui e guia a evolução da nova economia. Os apps geralmente abrangem modelagens B2B, B2C, C2C, D2C, C2M, OMO e outras siglas que são vistas em funcionalidades específicas para cada target dentro dos apps.
B2B – business to business (empresa para empresa) – Um banco ofertando serviço para uma telco e vice-versa por exemplo
B2C – business to consumer (empresa para consumidor) – quando você compra um plano que a Netflix ofertou
C2C – consumer to consumer (consumidor para consumidor) – como por exemplo a OLX no Brasil, iCarros e Webmotors para venda de carro entre pessoas
D2C – direct to consumer (direto para o consumidor) – como é o caso de compras de eletrodomésticos na CNova da Cônsul
C2M – consumer to manufacturer
OMO – on-to-off e off-to-on – quando a marca usa meios off-line para levar o consumidor para a compra online e vice-versa
Então, quanto mais versátil for o negócio, mais chance de ampliar receita atacando públicos diferentes. E foi assim que o TikTok conquistou 80 Milhões de usuários no mundo e pudemos ver em primeira mão, algumas funcionalidades que ainda nem chegaram no resto do mundo, que posicionam essa rede como uma engine de busca, um Marketplace que vende tudo e não apenas uma rede social.
Conclusão: ainda não sabemos se a China conseguirá ultrapassar os EUA, em termos de economia, mesmo com toda a sua criatividade para desenhar o futuro que já acontece em alguns países hoje. Em termos de tecnologia estão avançando cada vez mais e monetizando cadeias de valor inteiras ampliando as capacidades de vendas online com super apps.
Fica claro que para um ecommerce dar certo, ele precisa embarcar tecnologia de ponta e criar capacidades logísticas que abrangem mais de um modelo.
Sendo assim, vamos continuar acompanhando a evolução do ecossistema de inovação da China para aplicar conceitos e tecnologias nos nossos negócios além de criar experiências omnichannel integradas no phygital, unindo as capacidades do on e off para vender mais e melhor.