A maioria de nós está familiarizada com o conceito de fit cultural. De fato, ele se tornou uma expressão bastante comum nas práticas de recrutamento e gestão de pessoas. Mas e a contribuição cultural? Quantos de vocês já ouviram falar sobre isso? Se a sua resposta for “nunca”, você não está sozinho(a). Eu também só aprendi sobre isso recentemente, e foi uma verdadeira revelação.
Há cerca de um ano e meio, participei de um painel em um evento com a especialista Vicky Napolitano, onde ela compartilhou o conceito de contribuição cultural. Até então, mesmo atuando na área de recrutamento, eu não sabia da importância desse conceito. Quando compreendi a diferença entre fit e contribuição cultural, mudei completamente minha visão sobre como contratar e construir equipes. E essa mudança pode transformar não apenas os processos de recrutamento, mas também a cultura organizacional como um todo.
Fit Cultural vs. Contribuição Cultural: A Diferença Crucial
O conceito de fit cultural busca alinhar as pessoas às expectativas de uma organização sobre o que constitui o “sucesso”. Em outras palavras, ele visa garantir que as pessoas candidatas se ajustem ao perfil pré-definido de cultura organizacional. Porém, essa abordagem pode ser perigosa. Por ser subjetiva, muitas vezes a avaliação de fit acaba sendo baseada em vieses inconscientes, como preferências pessoais ou estereótipos, que podem excluir talentos valiosos.
Um estudo de 2022 realizado pela Harvard Business Review revelou que 75% dos recrutadores ainda priorizam o fit cultural em suas contratações, muitas vezes sem perceber que isso pode reforçar padrões limitantes e homogeneizar as equipes. O problema é que, ao focar demais no encaixe de uma pessoa candidata dentro de um perfil rígido, corremos o risco de perpetuar desigualdades e de excluir talentos diversos, aqueles que poderiam trazer novas perspectivas, ideias inovadoras e experiências enriquecedoras à organização.
Por que a Contribuição Cultural é o Novo Caminho?
A contribuição cultural propõe uma mudança significativa na forma como avaliamos as pessoas em uma organização. Em vez de medir a aderência de um indivíduo a um conjunto preestabelecido de comportamentos e valores, a contribuição cultural se concentra em como o candidato pode enriquecer, expandir e transformar a cultura da organização. A ideia é avaliar como cada pessoa pode adicionar valor à cultura organizacional, trazendo suas próprias perspectivas, habilidades, e experiências únicas.
Esse foco na contribuição cultural abre portas para uma cultura mais inclusiva, diversa e dinâmica, onde as pessoas são encorajadas a ser elas mesmas e a usar suas vivências para contribuir com a evolução do time e da organização. Como destaca a McKinsey & Company em seu relatório de 2020, empresas com maior diversidade são 35% mais propensas a ter melhores resultados financeiros.
Ao considerar a contribuição cultural, deixamos de buscar apenas o “encaixe perfeito” e passamos a valorizar a diversidade de ideias, o que é essencial para que a organização se adapte mais rapidamente às mudanças do mercado. Em vez de moldar as pessoas colaboradoras para se ajustarem a um modelo fixo, podemos usar as diferenças entre elas para gerar inovação e crescimento.
Os Riscos de Focar Excessivamente no Fit Cultural
Quando nos limitamos a avaliar o fit cultural de forma excessiva, corremos o risco de criar barreiras invisíveis para pessoas talentosas que não se encaixam perfeitamente em um modelo tradicional ou pré-definido. Isso não significa que a cultura organizacional não seja importante; pelo contrário, uma cultura forte é essencial para o sucesso de qualquer organização. O problema surge quando a definição dessa cultura se torna vaga, subjetiva e excludente.
De acordo com um estudo realizado pela Glassdoor em 2023, 61% das pessoas candidatas disseram que uma cultura inclusiva e diversificada seria um fator decisivo na escolha de um novo emprego. Isso demonstra que as pessoas estão cada vez mais buscando ambientes onde possam contribuir de maneira autêntica, sem a necessidade de se encaixar em estereótipos rígidos.
Portanto, em vez de buscar um “fit” perfeito, precisamos nos questionar: até que ponto estamos dispostos a abrir mão de um encaixe imediato para colher, no futuro, os benefícios de uma equipe diversa e inovadora?
Superando o Viés e Valorizando as Diferenças
A cultura organizacional não deve ser uma “zona de conforto” onde todos pensam e agem da mesma forma. Na realidade, uma cultura verdadeiramente forte é aquela que abraça as diferenças, que estimula a troca de ideias e que promove a adaptação e o aprendizado constante. Isso, sim, é o que leva uma organização ao sucesso, pois contribui para que ela seja mais resiliente, adaptável e criativa.
Precisamos entender que avaliar culturalmente vai além de achar alguém “adequado”. As avaliações culturais são subjetivas e, muitas vezes, os critérios utilizados podem ser influenciados por vieses inconscientes que limitam nossa visão sobre o que é realmente importante para o crescimento de um time e de uma organização.
Quando focamos em contribuição cultural, estamos deixando de lado esses vieses e dando espaço para pessoas com diferentes trajetórias e perspectivas, que podem trazer novas ideias e práticas. Isso significa que estamos, de fato, evoluindo e melhorando nossa cultura organizacional, e não apenas mantendo uma zona de conforto.
A Hora de Mudar é Agora!
Considerar a contribuição cultural é uma mudança que vai além de “encaixar” pessoas em uma moldura predeterminada. Ao focarmos na contribuição que cada pessoa pode trazer para nossa organização, passamos a buscar não mais o conformismo, mas a evolução.
E isso pode ser a chave para uma cultura mais rica, diversificada e, claro, mais bem-sucedida. Afinal, como mostrou o estudo da Deloitte em 2021, as empresas que promovem diversidade têm 2,3 vezes mais chances de aumentar a inovação.
Agora, é hora de questionarmos: o quanto estamos disposto(a)s a abrir mão do “encaixe perfeito” para realmente investir em uma cultura que evolui, cresce e traz resultados para todos e todas?