Você sabia que o poder público é seu principal sócio?

novembro, 2024‎ ‎ ‎ |

‎Por Juliana Minorello

Um estudo da McKinsey analisou o impacto das atividades do poder público no EBITDA das empresas, e os resultados foram impressionantes: em indústrias avançadas e no setor bancário, por exemplo, o EBITDA em risco pode chegar a 50-60%. No setor de transporte, essa exposição fica entre 45-55%, enquanto em telecomunicações, o impacto é de 40-50%. Setores como energia (35-45%), recursos naturais (30-40%) e serviços de saúde (25-30%) também sofrem impactos significativos. Em maior ou menor escala, seu negócio é impactado por regulamentações, licenças, fiscalizações, subsídios e até mesmo pela proibição de certas práticas.

Diante disso, a pergunta que não quer calar é: como você está se relacionando com esse sócio tão influente? Em vez de ver o governo como um adversário, por que não construir pontes? O diálogo e a colaboração podem transformar esse relacionamento em uma fonte de oportunidades.

A frase clássica “quem não está sentado à mesa, provavelmente é a janta” nunca fez tanto sentido. Se você se isolar, estará deixando a sua empresa à mercê de decisões que podem não estar alinhadas aos seus interesses. E se o seu concorrente estiver mais atento e conectado, quem vai sair perdendo é você.

Como construir um relacionamento estratégico com o poder público?

Então, como pode se aproximar do poder público? Primeiro, é fundamental entender as políticas que impactam seu setor. Isso envolve monitorar as mudanças regulatórias, antecipar possíveis alterações e estar presente nas discussões que envolvam sua área de atuação.

Um ponto importante é participar de audiências públicas e consultas governamentais, que frequentemente ocorrem antes da implementação de novas regras ou regulamentações. Muitas empresas negligenciam essa oportunidade, mas essas audiências oferecem a chance de defender seus interesses e moldar políticas de forma que se alinhem com o desenvolvimento de sua indústria.

Além disso, associações de classe e sindicatos setoriais desempenham um papel crucial nesse processo. Essas organizações geralmente têm acesso direto a formuladores de políticas e podem servir como intermediários valiosos, garantindo que as necessidades e preocupações do setor privado sejam ouvidas. A filiação ativa a essas associações é um movimento estratégico para qualquer empresa que queira influenciar as decisões governamentais que afetam seu negócio.

Manter um canal de comunicação aberto com representantes governamentais é outro passo essencial. Muitas vezes, as empresas falham em estabelecer uma comunicação proativa com autoridades locais e federais. Isso pode ser feito por meio de eventos de networking, reuniões formais ou até mesmo participando de fóruns voltados para políticas públicas. Investimento em responsabilidade social e impacto comunitário

Outro aspecto que fortalece essa relação é o investimento em projetos de responsabilidade social e sustentabilidade, que não apenas melhoram a imagem pública da empresa, mas também ajudam a alinhar os interesses empresariais com as prioridades governamentais. O governo tende a apoiar iniciativas que promovem bem-estar social, inclusão e desenvolvimento sustentável. Empresas que se destacam nesse sentido muitas vezes conseguem benefícios, como incentivos fiscais ou acesso facilitado a licenças e subsídios.

Um exemplo claro é o crescente apoio que o governo brasileiro tem dado a empresas envolvidas com energia renovável e tecnologia limpa. Organizações que demonstram compromisso com esses valores não só ganham o respaldo do público, como também se posicionam melhor para receber apoio governamental. Com isso, vemos que a relação com o poder público pode transcender a simples conformidade com as regras, sendo um fator-chave para a inovação e o crescimento.

Transformando o governo de um regulador em um parceiro estratégico

Por fim, lembre-se de que construir um relacionamento sólido com o poder público não é apenas uma questão de sobrevivência, mas uma estratégia inteligente para garantir que sua empresa prospere em um ambiente regulatório que, em última análise, também é seu.

No entanto, evitar uma postura reativa é fundamental. Muitos líderes empresariais apenas reagem às exigências governamentais, em vez de adotar uma abordagem mais ativa e colaborativa. Quando as empresas se engajam antecipadamente com as políticas que afetam seu setor, elas têm a chance de influenciar o rumo das regulamentações, transformando-se em líderes de mercado que conduzem, e não apenas seguem, as mudanças.

Além disso, ao desenvolver esse relacionamento, é possível acessar um universo de oportunidades de financiamento e apoio que podem ser extremamente vantajosos. Programas de fomento à inovação, como os oferecidos pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), são excelentes exemplos de como o governo pode ser um aliado no crescimento empresarial, especialmente para empresas que buscam expandir sua atuação e investir em tecnologia.

Oportunidades para um futuro próspero

A relação com o poder público não precisa ser conflituosa. Ao contrário, pode ser uma alavanca poderosa para o crescimento e a inovação. Empresas que compreendem o impacto das políticas públicas e agem para influenciá-las, em vez de apenas seguir as regras, estão posicionadas para prosperar em um ambiente regulatório em constante mudança.

Em um cenário onde as regulamentações podem determinar o sucesso ou o fracasso de um negócio, construir pontes com o governo se torna mais do que necessário – é estratégico. Quando as partes se entendem, todos saem ganhando. Portanto, a pergunta não é se você deve ou não se engajar com o poder público, mas como e quando. O momento para isso é agora, e a mesa está posta. Você está pronto para aproveitar a oportunidade?

Juliana-Minorellook

CONSELHEIR@

Juliana Minorello

Juliana Minorello é fundadora e CEO da Pallas Consultoria Governamental e do Passaporte de Aventuras, é professora de gestão e relações externas na Link School of business e de diplomacia corporativa na Future Law. Formada em Direito pela USP – São Paulo, cursou MBA Internacional pela FIA e especializou-se em tecnologia pelas Universidades Berkeley e Stanford. A executiva dispõe de mais de 14 anos de experiência em órgãos públicos e no setor privado, atuando tanto nas áreas de políticas públicas e jurídica. Foi CXO (Chief External Affairs Officer) na Tembici, conselheira na Aliança Bike,  atuou no Tribunal de Justiça e no Ministério Público do Estado de São Paulo e  passou por multinacionais de tecnologia como Groupon, Cabify, e Easy Taxi, sendo hoje referência nas discussões sobre liderança feminina, cidades inteligentes, mobilidade, sustentabilidade e novas tecnologias.

 

Quem também está com a gente

Empresas, Startups, Centros de Pesquisa e Investidores