Como escolher a estrutura ideal para a transformação digital?

novembro, 2024‎ ‎ ‎ |

‎Por Marcos Gomes

Em um mundo cada vez mais digital, empresas de todos os setores estão buscando transformar suas operações para competir no ambiente online. No entanto, a criação de uma estrutura organizacional para negócios digitais dentro de uma organização tradicional é um desafio. Líderes empresariais e de tecnologia enfrentam uma questão crucial: a estrutura digital deve operar de forma independente, para acelerar a inovação, ou deve ser integrada a outras áreas da empresa, para evitar conflitos e promover uma visão unificada?

Empresas tradicionais frequentemente enfrentam barreiras culturais e estruturais ao tentar se transformar digitalmente. O livro Leading Digital explora como as empresas enfrentam esses desafios ao integrar práticas digitais e transformar suas operações, oferecendo diretrizes para superar tais barreiras e acelerar a inovação no ambiente digital​. Departamentos estabelecidos podem resistir a mudanças, preferindo manter práticas e processos familiares. Além disso, a falta de agilidade nas estruturas hierárquicas convencionais pode dificultar a inovação, tornando a adoção de novas tecnologias e estratégias digitais um processo lento e repleto de conflitos.

Os estudos da McKinsey indicam que práticas de transformação digital estruturadas aumentam significativamente as chances de superação das expectativas financeiras, especialmente quando há foco em cinco fatores principais: definição clara de prioridades digitais, investimento em talentos digitais, compromisso com a agilidade, alocação contínua de recursos e responsabilidades bem distribuídas entre equipes.

Por exemplo, empresas que aplicam metodologias ágeis e atualizam suas estratégias frequentemente aumentam suas chances de sucesso, sendo duas vezes mais propensas a atingir resultados melhores que o esperado. Isso é reforçado em vários setores onde empresas líderes adotam estratégias integradas, como bancos e varejo, que destacam a importância da transformação digital como um diferencial competitivo essencial para atender às demandas do cliente e se adaptar rapidamente às mudanças do mercado.

Estruturas independentes: autonomia para acelerar a inovação

Uma das estratégias mais comuns para organizações que buscam digitalizar suas operações é a criação de uma unidade de negócios digital independente, separada das demais diretorias. Esse modelo, frequentemente denominado “digital puro” ou “digital stand-alone”, caracteriza-se pela autonomia organizacional e orçamentária. Entre as vantagens dessa estrutura independente, destaca-se a agilidade e inovação: ela permite operar de maneira mais rápida, com processos de decisão simplificados que facilitam uma resposta ágil às mudanças do mercado. A ausência de camadas burocráticas cria um ambiente propício para a inovação, que é incentivada e testada sem restrições. Outro ponto positivo é o foco total no digital, já que, ao atuar de forma independente, a equipe pode se concentrar exclusivamente em objetivos digitais, sem distrações com metas ou responsabilidades dos negócios tradicionais. Esse foco singular oferece uma visão mais clara sobre o crescimento digital, como aumento de receita e engajamento dos clientes. Além disso, uma unidade independente tende a atrair talentos especializados, oferecendo uma cultura organizacional mais próxima de startups e empresas de tecnologia, um ambiente dinâmico e menos burocrático que é atrativo para esses profissionais.

No entanto, há desvantagens a considerar. Um dos riscos é o desalinhamento estratégico, já que a autonomia excessiva pode resultar em um descompasso com os objetivos gerais da empresa. Sem supervisão e integração adequadas, o negócio digital pode acabar seguindo uma direção diferente do restante da organização. Outro ponto negativo é a duplicação de recursos, uma vez que estruturas independentes frequentemente exigem investimentos em recursos redundantes, como TI, marketing e finanças, o que pode levar a um aumento de custos e à gestão ineficiente dos recursos. Por fim, existem barreiras de comunicação e colaboração, pois a separação entre o digital e o tradicional tende a dificultar a colaboração entre equipes, criando silos de informação e limitando a troca de conhecimentos e experiências.

Estruturas integradas: colaboração e sinergia com a organização

Outra opção é integrar as iniciativas digitais nas estruturas já existentes, sob a supervisão de diretorias como Marketing, TI ou mesmo Operações. Esse modelo busca manter o alinhamento estratégico e reduzir os conflitos interdepartamentais, promovendo uma visão unificada.

Esse relatório da Deloitte reforça a importância da agilidade organizacional como fator crítico na transformação digital e como estruturas flexíveis, como o modelo híbrido, ajudam a balancear a autonomia com o alinhamento estratégico, essencial para um ambiente de mudanças rápidas

Vantagens da estrutura integrada

Com a equipe digital inserida nas diretorias tradicionais, as iniciativas digitais são mais facilmente alinhadas aos objetivos da organização como um todo, permitindo uma visão integrada de crescimento, com todos os setores caminhando na mesma direção. A integração possibilita ainda um uso eficiente de recursos, já que a equipe digital pode utilizar infraestruturas de TI e equipes de suporte já existentes, o que reduz custos e evita a duplicação de funções. Além disso, uma estrutura integrada promove maior comunicação e colaboração entre departamentos, facilitando o compartilhamento de insights e melhores práticas, o que fortalece a cultura organizacional e aumenta o engajamento dos colaboradores.

Desvantagens da estrutura integrada

A inserção do digital nas estruturas convencionais pode introduzir burocracia e processos de aprovação lentos, o que dificulta a adaptação às mudanças do mercado. Essa falta de agilidade representa uma desvantagem crítica em um ambiente digital que evolui rapidamente. Além disso, surgem conflitos culturais, já que as unidades digitais costumam ter uma cultura mais ágil e experimental, enquanto os departamentos tradicionais tendem a ser mais avessos ao risco. Esse choque cultural pode gerar atritos e reduzir a eficácia das iniciativas digitais. Outro desafio é a dificuldade em atrair talentos digitais, pois profissionais com experiência nessa área costumam preferir ambientes mais dinâmicos e inovadores, o que torna difícil atrair e reter esses talentos em um modelo integrado e, muitas vezes, mais burocrático.

Diante desses obstáculos, muitas empresas optam por uma estrutura híbrida, que combina elementos dos modelos independentes e integrados. Nesse caso, a unidade digital possui autonomia parcial, reportando-se diretamente à alta gestão ou a um comitê estratégico, enquanto mantém interações frequentes com outras áreas da empresa.

Vantagens do modelo híbrido

O equilíbrio entre agilidade e alinhamento é uma das primeiras vantagens que podemos citar, o modelo híbrido permite que a unidade digital seja ágil o suficiente para inovar e testar novas ideias rapidamente, enquanto ainda está alinhada com os objetivos estratégicos da empresa. A flexibilidade de recursos também é uma vantagem, uma vez que a unidade digital pode utilizar recursos compartilhados com outras áreas, evitando a duplicação de funções e aumentando a eficiência.

Por fim, mais adesão cultural, pois ao manter um canal de comunicação entre o digital e as unidades tradicionais, o modelo híbrido facilita a adoção da cultura digital em toda a organização, promovendo uma transformação mais fluida e colaborativa.

Desvantagens do modelo híbrido

A complexidade na governança é uma dessas desvantagens; estabelecer uma governança clara é mais difícil em modelos híbridos. A autonomia parcial pode criar ambiguidades na tomada de decisões e tornar a gestão mais complexa. Também há os riscos de conflitos de prioridades, as equipes digitais podem ter prioridades diferentes das unidades tradicionais, o que pode levar a conflitos. Isso exige uma comunicação constante e clara para evitar desentendimentos e garantir alinhamento.

Além disso, há a dificuldade em definir limites de autonomia; é desafiador estabelecer até onde vai a autonomia da unidade digital sem comprometer a sinergia com o restante da organização.

Qual modelo escolher?

A escolha entre uma estrutura independente, integrada ou híbrida depende da maturidade digital da empresa, de seus objetivos estratégicos e do perfil cultural da organização. Empresas que priorizam a inovação e a agilidade podem preferir uma estrutura independente, enquanto aquelas que valorizam a sinergia e o alinhamento estratégico podem optar por um modelo integrado.

No entanto, para a maioria das empresas, o modelo híbrido oferece um equilíbrio ideal, proporcionando a agilidade necessária para crescer no ambiente digital e, ao mesmo tempo, mantendo o alinhamento com os objetivos organizacionais.

A transformação digital é um processo contínuo e dinâmico. As empresas devem estar dispostas a ajustar suas estruturas conforme necessário, buscando sempre otimizar a eficiência e a colaboração. A chave para o sucesso está em construir uma estrutura que permita ao negócio digital prosperar, sem causar conflitos desnecessários e promovendo uma visão coesa de crescimento.

Marcos-Villa-Real-de-Souza-Gomes

CONSELHEIR@

Marcos Gomes

Executivo de negócio com sólida experiência nas áreas de Negócios Digitais (abrangendo e-commerce e Marketplace), omnichannel, Marketing e Vendas, projetos de Transformação, CRM, BI, Tecnologia da Informação e Operações, atuando em modelos DTC, B2C e B2B em empresas nacionais e multinacionais de grande porte dos segmentos de Moda e Calçados,

Tecnologia, Bens de Consumo Agro e Serviços.

Liderança de negócios em estratégias de alavancagem com foco em ganho de Market share, rentabilidade e turnaround de resultados, liderando e desenvolvendo equipes multifuncionais e atuação em diferentes culturas organizacionais. Perfil orientado a resultados, geração de valor e ganho de eficiência através das pessoas e tecnologia.

Atuação com visão estratégica e alta capacidade de execução e adaptação, construção e reestruturação de negócios e operações.

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