A inclusão financeira é um desafio complexo e urgente, especialmente em países emergentes como o Brasil, onde milhões de pessoas ainda vivem à margem do sistema financeiro tradicional. De acordo com o Instituto Locomotiva, aproximadamente 34 milhões de brasileiros estavam desbancarizados em 2021. Isso significa que essas pessoas não possuíam conta bancária ou a utilizavam com pouca frequência, restringindo-se, em muitos casos, ao uso de dinheiro em espécie, sem acesso pleno a serviços financeiros como crédito e seguros. Esse cenário é um obstáculo para o desenvolvimento econômico e social, limitando o acesso a oportunidades e perpetuando desigualdades.
Nos últimos anos, no entanto, a inteligência artificial surgiu como uma ferramenta poderosa para mudar essa realidade. A tecnologia está sendo usada por bancos, fintechs e instituições governamentais para criar soluções inovadoras que visam ampliar o acesso a serviços financeiros para populações historicamente excluídas. Para empresários e líderes de tecnologia, entender como a IA pode transformar a inclusão financeira é uma oportunidade para impulsionar a inovação, conquistar novos mercados e contribuir com o desenvolvimento social.
Destaco abaixo duas ocasiões de uso importantes e reais de IA no mercado de crédito e uma preocupação que devemos ter sobre o tema.
Inteligência artificial como ferramenta para expansão do crédito
Segundo a pesquisa Fintechs de Crédito Digital, realizada pela PwC e a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), investimentos em inteligência artificial é peça central no planejamento de 53% das fintechs no Brasil.
O acesso ao crédito é um dos principais fatores de inclusão financeira, permitindo que indivíduos e pequenas empresas financiem suas atividades e invistam em seu crescimento. No entanto, muitas pessoas que necessitam de crédito estão fora do sistema bancário formal, seja pela falta de histórico financeiro ou por critérios rígidos de concessão. Aqui, a IA pode desempenhar um papel transformador.
Case Jeitto
Aqui no Jeitto temos apostado fortemente em inteligência artificial e isso já está apresentando resultados significativos na concessão de crédito. Em parceria com a Provenir, líder global em software para tomada de decisão baseada em IA, desenvolvemos uma tecnologia que permite maior customização da oferta de crédito de acordo com o perfil de cada cliente (seja em valor emprestado ou parcelas), o que gera uma taxa de aprovação três vezes maior do que a média de mercado e tempo de espera de apenas três minutos.
Utilizando apenas o CPF e o celular, a IA consegue cruzar mais de 400 dados para fazer a oferta ideal para o cliente, sem precisar de cartão pessoal, anuidade, filas ou taxas. Utilizando essa ferramenta, já liberamos mais de 2 bilhões em crédito para os brasileiros das classes C e D.
Essa tecnologia, desenvolvida pela Provenir, ficou em 1° lugar no Prêmio Best Performance, organizado pelo CMS Group, na categoria Inovações de Plataforma e Experiência do Cliente em Crédito Digital.
O projeto dobrou a base de clientes do Jeitto, aumentou em 10% a nossa taxa de aprovação de crédito e registrou alta de 8% no ticket médio de empréstimos, além de ter reduzido em 30% a inadimplência.
Com um índice de inadimplência menor do que o mercado, o Jeitto utiliza IA desde o primeiro contato com o cliente para aumentar a assertividade do produto ofertado e melhorar a experiência da plataforma.
Inteligência artificial na educação financeira
A educação financeira é fundamental para promover o uso consciente dos serviços financeiros e evitar o endividamento excessivo. Contudo, a baixa familiaridade com o sistema bancário e a falta de conhecimento sobre planejamento financeiro ainda são barreiras para muitos brasileiros. Para superar esse desafio, várias instituições têm apostado em assistentes virtuais baseados em IA para ajudar os usuários a tomar decisões financeiras informadas.
Chatbots para educação e atendimento
Os chatbots baseados em IA, como o assistente virtual utilizado pelo Banco Original, têm se mostrado eficazes em interagir com os usuários, fornecendo orientações sobre planejamento financeiro, tipos de crédito e até gestão de dívidas. Essas ferramentas são programadas para responder a perguntas comuns e fornecer orientações passo a passo, ajudando os usuários a entender melhor os produtos financeiros disponíveis e suas próprias finanças.
Outro recurso interessante são as plataformas de gamificação, que incentivam os usuários a aprenderem sobre finanças de forma interativa. A Neon, por exemplo, utiliza elementos de gamificação para ensinar noções de finanças pessoais e recompensar o aprendizado. A IA permite que esses sistemas analisem o progresso do usuário e ajustem os conteúdos de acordo com suas necessidades e dificuldades, oferecendo uma experiência de aprendizado personalizada e contínua.
Inteligência artificial: desafios e considerações éticas
Embora a IA tenha um grande potencial para promover a inclusão financeira, sua implementação também traz desafios significativos. Problemas de privacidade, risco de discriminação algorítmica e a complexidade técnica da inteligência artificial são fatores que precisam ser cuidadosamente geridos para garantir que a tecnologia realmente beneficie os mais necessitados.
Para que a IA possa realizar análises precisas, ela depende de grandes volumes de dados pessoais. A coleta e o uso de dados sensíveis, no entanto, levantam preocupações de privacidade. As instituições precisam adotar políticas rigorosas de proteção de dados, seguindo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e outras regulamentações para garantir a segurança das informações dos usuários.
Outro desafio é a discriminação algorítmica. Se os algoritmos forem baseados em dados enviesados, eles podem perpetuar desigualdades em vez de mitigá-las. Por exemplo, um modelo de crédito que usa o histórico de emprego pode discriminar indiretamente contra grupos vulneráveis. Para evitar isso, é crucial que as empresas e desenvolvedores auditem regularmente seus algoritmos e implementem práticas de IA justa e transparente.