Como liderar em ambientes incertos e híbridos?

janeiro, 2025‎ ‎ ‎ |

‎Por Carolina Recioli

O trabalho remoto e híbrido é a nova norma e líderes enfrentam o desafio de guiar equipes por um terreno de mudanças rápidas, ambiguidades e necessidade de constante adaptação. Mas, como liderar quando você não está fisicamente perto do seu time, quando o caminho não é claro e você não tem todas respostas?

Essa temática parece nova e pós pandemia, mas será que é nova mesmo?

Como as empresas com colaboradores em diferentes escritórios, cidades, países, diferentes fusos horários, sobreviviam antes da pandemia? E como faziam as equipes de vendas ou equipes que ficam alocadas em clientes e que já estavam a maior parte do tempo fora do escritório?

Apesar de receber esse nome recentemente, o cenário híbrido sempre foi uma realidade. A diferença é simplesmente o HOME, porque o OFFICE já não era o mesmo e o trabalho não é totalmente síncrono há muito tempo.

Eu, que tive a sorte de trabalhar em times regionais e globais desde o início da minha carreira, o que hoje parece “novo”, para mim sempre foi o natural. Os times que fiz parte sempre estiveram em escritórios, países e fuso horários diferentes. Os rituais, a colaboração e interação entre as pessoas criavam um ambiente de confiança para que o trabalho pudesse ser realizado independente do local que estivéssemos.

Sei que essa não é a realidade de muitos e há quem acredite que o escritório é a garantia de produtividade, de entrega, de cultura e de engajamento. Agora, eu pergunto: quem antes da pandemia e da intensificação do modelo híbrido, nunca teve um colega de trabalho que parecesse enrolar mais do que trabalhar? Houve um tempo em que as empresas restringiam o acesso a sites para tentar garantir o tal foco e produtividade. Mas, como me disse um amigo outro dia, quando gestores achavam que tinham o controle com todos no escritório, as pessoas usavam o ALT+TAB ou proteção de tela quando alguém se aproximava para fingir que estavam trabalhando “focado”.

A verdade é que o controle e o microgerenciamento deixaram de funcionar há bastante tempo. É uma crença que precisamos deixar para trás. Os ambientes estão cada vez mais ambíguos e incertos! São híbridos e assíncronos. O contexto hoje é de falta de previsibilidade, grande quantidade de variáveis desconhecidas e mudanças que estão em outra intensidade e escala após a pandemia da COVID-19 e com a convergência de tecnologias exponenciais.

Nesse mundo ambíguo, não temos as respostas para os problemas que mudam o tempo todo. As lideranças que estavam acostumadas a ter um papel heróico, se sentem inseguras e têm medo, diante de problemas novos todos os dias. Nessa insegurança, tem líder que para buscar os resultados “aperta o cinto” do controle, do microgerenciamento, da centralização e da desconfiança e tem líder que “afrouxa o cinto” dando espaço para a colaboração, flexibilidade, transparência, inovação e confiança.

E se começarmos a enxergar ou aceitar a realidade e ter uma nova mentalidade nas organizações, ao invés de querer voltar a modelos de liderança e gestão do passado que não servem mais?

Eu acredito que o caminho está cada vez menos no controle e mais na colaboração e aprendizado, está menos no individual e cada vez mais no coletivo. Acredito que produtividade é menos sobre a quantidade (de horas, de dias no escritório, de atividades, etc) e mais sobre qualidade e resultado. É mais sobre entender qual é o problema que queremos resolver e encontrar novas respostas.

Em um ambiente híbrido ou remoto é preciso que a liderança seja praticada de forma intencional e consistente por meio de:

  • Comunicação clara e transparente; em ambientes híbridos, a comunicação tende a ser mais desafiadora. Por isso, é essencial que os líderes estabeleçam uma rotina de check-ins frequentes, definam expectativas claras e utilizem ferramentas colaborativas para manter todos informados.

  • Flexibilidade e foco em resultados; em vez de controlar horários ou localização, líderes eficazes focam no que realmente importa: os resultados. A cultura de trabalho remoto exige uma mudança do foco em presença para desempenho. Definir e alinhar objetivos, entregas e resultados com sua equipe é mais importante do que definir quando ir ao escritório.

  • Criação de rituais de conexão e engajamento; em contextos híbridos e remotos, a sensação de isolamento pode afetar o engajamento dos funcionários. Rituais como reuniões semanais, sessões de brainstorming e até momentos de descontração virtual são fundamentais para fortalecer o vínculo e o espírito de equipe. Se o modelo for híbrido, vale sim definir com o time momentos de conexão presencial.

Evoluímos tanto em ferramentas tecnológicas e deveríamos aproveitar melhor essas plataformas como Slack, Microsoft Teams, Google Chat e Zoom não só para facilitar a comunicação, como também ajudar na organização de tarefas, gestão de projetos e no monitoramento do desempenho possibilitando a gestão assíncrona de forma efetiva.

O uso da tecnologia para facilitar a gestão de times híbridos e ágeis é fundamental, mas hoje mais do que nunca, precisamos de lideranças transformadoras. Pessoas com um novo mindset e novas habilidades que possam navegar nesse ambiente incerto, promovendo um lugar onde as pessoas se sintam seguras e motivadas a colaborar, ser vulneráveis, aprender, buscar soluções e entregar resultados.

Cada vez mais as equipes precisam de um ambiente que valorize a experimentação, a aprender com acertos e erros, e a gerenciar riscos por meio de testes e adaptação rápida para chegar aos resultados. Esse artigo da Mckinsey traz uma reflexão interessante sobre a Nova Liderança que deve ir além da competição para a co-criação para criar valor e resultados. Ele cita as seguintes práticas de liderança que favorecerm a colaboração e rápida adaptação para chegar a resultados em ambientes ambíguos:

  • Atuar em ciclos curtos de decisão, ação e aprendizagem.

  • Re-priorizar regularmente o portfólio de iniciativas para simultaneamente executar os negócios de hoje, co-criar os negócios de amanhã e abandonar os negócios de ontem.

  • Engajar e liderar as pessoas, ajudando-as a entender – e a se entusiasmar com – o fato de que mudanças significativas serão agora uma constante.

Liderança transformadora: inspirando pessoas, mudanças e inovações

A liderança transformadora se destaca em ambientes de tecnologia e incerteza, pois inspira e motiva a equipe a ir além do esperado, a buscar soluções para problemas não conhecidos, a identificar novas oportunidades. Esse estilo de liderança não apenas busca resultados, como também promove uma visão de longo prazo que impulsiona a inovação e a adaptação.



Características da liderança transformadora

Visão de futuro: Líderes transformadores inspiram suas equipes ao compartilhar uma visão de futuro e do impacto que desejam alcançar. Em ambientes incertos, essa visão serve como um guia, dando propósito às ações diárias.

Incentivo à inovação e agilidade: A liderança transformadora incentiva os colaboradores a questionarem o status quo, a colaborarem, a aprenderem e a buscarem novas soluções para problemas complexos, criando uma cultura de inovação contínua e aprendizado.

Foco no desenvolvimento pessoal e profissional: Esse tipo de líder se preocupa genuinamente com o crescimento de sua equipe, promovendo treinamentos e mentorias para desenvolver competências que preparem os colaboradores para desafios futuros.

Resiliência e inteligência emocional: Manter o equilíbrio emocional e demonstrar empatia são fundamentais. Líderes que compreendem suas próprias necessidades emocionais e da equipe conseguem manter o moral elevado e fortalecer a confiança.

As práticas e rituais de liderança, especialmente em contextos de incerteza e modelos de trabalho híbridos, devem ser intencionais para promover ambientes de maior agilidade, adaptação e times de alta performance. Líderes verdadeiramente conectados às suas equipes, que praticam o feedback contínuo e a celebração de conquistas, conseguem ir além dos altos níveis de desempenho, construindo ambientes de cultura sólida, equipes resilientes, engajadas e adaptáveis. Em um mundo cada vez mais imprevisível, a liderança eficaz é o diferencial competitivo para empresas que desejam prosperar.

Rituais de liderança para construir times de alta performance

Para formar equipes de alto rendimento, é necessário mais do que apenas habilidades técnicas. Rituais de liderança desempenham um papel essencial nesse processo, veja alguns rituais que apoiam líderes e equipes a performarem melhor:

Reuniões de alinhamento semanal com a equipe; reuniões regulares ajudam a manter todos na mesma página e permitem ajustes de curso rapidamente. Essa prática é particularmente útil para garantir que os objetivos e as metas estejam claros e que a equipe esteja comprometida com os resultados. Também auxilia a resolver problemas / barreiras que aparecem durante o percurso de forma mais rápida. Dependendo do tamanho do time, as semanais podem ser realizadas apenas com o time direto, e um ritual mensal pode ser útil para manter a comunicação e o alinhamento do avanço dos resultados e das prioridades entre as demais equipes de um mesmo time.

Dailys; é um ritual da cultura ágil, muito usado nos times de tecnologia e pode ser um excelente ritual em muitos outros times. Tratam-se de reuniões rápidas de 15-30 min para manter o time alinhado, acompanhar a evolução da entrega e remover obstáculos. Alinha-se sobre o que foi feito ontem, o que será feito hoje e se existe alguma repriorização necessária ou impedimento para ser tratado. Essa prática permite que os times caminhem de forma mais rápida.

Reuniões de alinhamento 1:1; é importante manter um ritual individual com as pessoas do seu time direto, semanalmente ou quinzenalmente. Esses momentos ajudam a fortalecer a construção de relacionamento e confiança. Aqui é importante ir além das tarefas do dia-a-dia e  praticar a escuta ativa, usando o espaço para entender como a pessoa está se sentindo, como está sua motivação e como você como líder pode apoiá-la.

Feedback constante e coaching; oferecer feedback de forma consistente é fundamental para o desenvolvimento profissional e pessoal dos colaboradores. Líderes de alta performance adotam uma postura de coaching, ajudando a equipe a identificar e superar desafios. Estabeleça rituais formais de feedback em que possam conversar sobre as evoluções, fortalezas e pontos de desenvolvimento, bem como alinhar sobre o futuro.

Celebrar conquistas e aprender com erros; em ambientes de alta pressão, celebrar as pequenas vitórias é importante para manter o moral elevado. Estabelecer uma cultura onde os erros são vistos como oportunidades de aprendizado pode fazer toda a diferença no desenvolvimento de um time resiliente.

Rituais de aprendizado contínuo; incentivar o aprendizado, não só apenas de treinamentos regulares, workshops, mas principalmente incentivando trocas de experiências, boas práticas, conhecimento entre a própria equipe. A liderança deve influenciar para que a busca do conhecimento seja uma atitude de todos do time e promover o ambiente de aprendizado manterá sua equipe motivada e inovadora.

A cultura organizacional é um reflexo direto dos valores e práticas promovidas pela liderança. Em ambientes tecnológicos, onde a inovação é crucial, os líderes desempenham um papel fundamental na construção de uma cultura que estimule a criatividade, a colaboração e a adaptação.

Valores que fortalecem a cultura organizacional incluem a autonomia e a confiança, a transparência e a integridade, além da diversidade e inclusão. Quando líderes confiam em suas equipes e incentivam a autonomia, os colaboradores se sentem empoderados para contribuir de forma significativa. Equipes mais inovadoras se enriquecem por ambiente de diferentes perspectivas e ideias. Líderes que promovem a inclusão e valorizam a diversidade contribuem para uma cultura organizacional mais rica e preparada para os desafios futuros.

A transparência também é um valor fundamental, especialmente em tempos de incerteza. Líderes que comunicam de forma aberta, mesmo sobre desafios e mudanças, criam um ambiente onde as pessoas sentem segurança e pertencimento. Quando líderes confiam e incentivam a autonomia, acompanhando e orientando para os resultados, a inovação floresce e todos crescem com isso.

Que passos você tem dado para construir a confiança, a transparência e a colaboração na sua equipe para enfrentar os desafios?

Carolina-Recioli_1910

CONSELHEIR@

Carolina Recioli

Psicóloga pelo Mackenzie, com MBA pela Fundação Dom Cabral. Atua há mais de 20 anos em Recursos Humanos com passagens importantes em empresas de Tecnologia e Bens de Consumo como Mercado Livre, Unilever, Unisys. Atualmente é Diretora de Talent Management & HRBPs na Hotmart. Liderou times locais, regionais e globais em diversas áreas de Business atuando  como Business Partner, Learning, Aquisição, Engajamento e Desenvolvimento de Talentos, Cultura e Diversidade.

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