Nos últimos anos, o aumento da longevidade da população, impulsionado por avanços na medicina, melhorias nos sistemas de saúde e hábitos de vida mais saudáveis, trouxe consigo uma transformação econômica e social significativa. Dentro deste contexto, a chamada “geração prateada” – composta por pessoas com mais de 60 anos – desponta como um dos públicos mais promissores e desafiadores para o setor de tecnologia e saúde.
Esse cenário ganha ainda mais relevância no atual momento, em que inovações disruptivas, como inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e biotecnologia, estão transformando a maneira como pensamos e consumimos saúde. Para health techs, o crescimento desse público e suas necessidades específicas não apenas abrem novas oportunidades de mercado, mas também exigem estratégias inovadoras para entregar valor e impacto real.
A revolução demográfica e seus impactos no setor de saúde
O aumento da longevidade é um fenômeno global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa de vida global aumentou de 66,8 anos em 2000 para 73,1 anos em 2019. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa deve dobrar até 2050, representando cerca de 30% dos brasileiros.
Esse cenário transforma as dinâmicas do mercado de saúde. A geração prateada, apesar de ser frequentemente associada a doenças crônicas, também apresenta um perfil cada vez mais diverso. Há idosos ativos e conectados, interessados em prevenir problemas de saúde e manter uma qualidade de vida elevada. Além disso, a digitalização está rompendo barreiras geracionais: de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2022, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, e divulgada pelo “O Hoje”, 58% dos idosos brasileiros utilizam seus celulares como principal meio de conexão à internet.
Para health techs, isso significa um mercado em crescimento com demandas variadas, que vão desde dispositivos médicos e plataformas de monitoramento remoto até soluções de telemedicina e gestão de medicamentos.
Inovações que estão impactando a geração prateada
Com o avanço das tecnologias de saúde, a geração prateada tem se beneficiado de soluções inovadoras projetadas para melhorar sua experiência e atendimento. Entre as inovações mais impactantes, destacam-se os dispositivos de monitoramento remoto e o uso de Internet das Coisas (IoT). Smartwatches e pulseiras inteligentes, por exemplo, monitoram batimentos cardíacos, níveis de oxigênio no sangue e até mesmo detectam quedas – uma preocupação frequente entre idosos. Complementando essas soluções, sensores IoT instalados em residências permitem um acompanhamento mais abrangente, alertando familiares ou médicos em situações de emergência. Essa tecnologia não apenas oferece mais segurança, mas também promove a autonomia, possibilitando que os idosos vivam de forma mais independente. Empresas como a FitBit e a brasileira Hi Technologies têm liderado o desenvolvimento de dispositivos acessíveis e conectados para atender a essas necessidades.
A telessaúde teve um aumento significativo a partir de 2020 e, através de diferentes jornadas e linhas de cuidado, tem transformado o cuidado com a geração prateada. Impulsionada pela pandemia, essa modalidade de atendimento eliminou a necessidade de deslocamentos e trouxe conveniência, especialmente para aqueles com mobilidade reduzida ou residentes em áreas remotas. No Brasil, a regulamentação da telemedicina abriu caminho para que health techs expandissem seus serviços, oferecendo soluções práticas e eficientes para o público idoso.
Além disso, a inteligência artificial tem desempenhado um papel crucial no diagnóstico precoce de doenças crônicas, como Alzheimer, diabetes e hipertensão. Por meio da análise de grandes volumes de dados clínicos, essas soluções permitem identificar sinais precoces de enfermidades, viabilizando intervenções rápidas e personalizadas. Isso resulta não apenas na redução de custos para o sistema de saúde, mas também em uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. Um exemplo notável dessa aplicação é o uso de IA para triagem pré-clinica. A empresa TopMed ganhou recentemente o Prêmio Inovativos 2024 por fornecer essa opção de acesso para usuários do SUS. Para os idosos, o atendimento inicial realizado por uma ferramenta de inteligência artificial para avaliação de sintomas, pode auxiliar da definição do atendimento médico mais adequado.
Essas tecnologias, integradas ao cotidiano da geração prateada, estão redefinindo o conceito de saúde e cuidado, garantindo maior segurança, praticidade e bem-estar para um público que merece atenção especial em sua jornada.
Desafios e barreiras no atendimento à geração prateada
Atender à geração prateada representa uma oportunidade significativa, mas também impõe desafios específicos que as empresas de tecnologia em saúde precisam superar. Um dos principais obstáculos está na adaptação tecnológica e usabilidade. Embora o número de idosos que utilizam smartphones esteja crescendo, muitos ainda encontram dificuldades para lidar com interfaces complexas ou com a falta de familiaridade com as novas tecnologias. Por isso, as soluções destinadas a esse público devem priorizar a simplicidade e a acessibilidade, com interfaces intuitivas que facilitem o uso e suporte técnico personalizado que ofereça segurança e confiança.
Outro ponto crítico é a questão da privacidade e confiança. O uso de dados sensíveis, como informações de saúde, exige um nível elevado de proteção para garantir a privacidade dos usuários. Esse aspecto é especialmente relevante para a geração prateada, que tende a ser mais cautelosa em relação ao compartilhamento de suas informações. Empresas que desejam conquistar a confiança desse público precisam adotar práticas transparentes e estar em conformidade com legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), demonstrando um compromisso real com a segurança dos dados.
Além disso, a educação digital surge como um fator essencial para o engajamento desse público. Muitos idosos ainda precisam de suporte para compreender o valor das tecnologias de saúde e aprender a utilizá-las de forma eficiente. Programas de educação digital, tutoriais e atendimentos personalizados podem ser grandes diferenciais para as empresas que buscam não apenas atender às necessidades da geração prateada, mas também promover sua inclusão no universo digital.
Superar esses desafios requer um equilíbrio entre tecnologia e inovação, com boa dose de empatia e humanização. As empresas que conseguirem alinhar esses elementos estarão melhor posicionadas para atender a um público em crescimento e com demandas específicas, contribuindo para melhorar sua qualidade de vida e consolidando sua posição no mercado de saúde digital.
Estratégias para health techs aproveitarem o crescimento da geração prateada
Para capturar o potencial desse mercado, as empresas precisam desenvolver estratégias alinhadas às necessidades e preferências da geração prateada. Aqui estão algumas recomendações:
Personalização do atendimento
A saúde personalizada é uma tendência crescente. Oferecer soluções adaptadas ao histórico clínico, hábitos e preferências dos pacientes idosos aumenta o engajamento e os resultados.
Parcerias com o sistema de saúde
Health techs podem contribuir com operadoras de planos de saúde e hospitais, por exemplo, oferecendo serviços que serão parte das jornadas híbridas oferecidas para a geração prateada. Essas parcerias permitem escalar soluções e alcançar mais pacientes.
Investimento em pesquisa e desenvolvimento
Compreender profundamente as necessidades do público 60+ é essencial. Investir em P&D para criar tecnologias inovadoras pode posicionar a empresa como líder nesse mercado.
Comunicação efetiva e inclusiva
A forma como as health techs comunicam suas soluções também é crucial. Evitar jargões técnicos e priorizar uma linguagem clara e acessível pode melhorar a aceitação e o uso das tecnologias pelos idosos.
Portanto, a combinação do aumento da longevidade e do crescimento da geração prateada representa uma oportunidade sem precedentes para o mercado de saúde e tecnologia. Este público, cada vez mais ativo e conectado, demanda soluções que equilibrem inovação tecnológica, simplicidade e acessibilidade.
Para as health techs, o momento é agora: aquelas que se adaptarem rapidamente às necessidades desse público terão um papel central na transformação da saúde nas próximas décadas. Ao mesmo tempo, é essencial superar desafios relacionados à usabilidade, privacidade e educação digital para criar experiências positivas e impactantes.
Em um mundo onde a tecnologia redefine constantemente os limites do que é possível, a geração prateada prova que nunca é tarde para inovar – e que a saúde digital pode ser a chave para um futuro mais inclusivo e saudável para todos.