Como a inteligência artificial combate o hacktivismo e protege dados?

janeiro, 2025‎ ‎ ‎ |

‎Por Fabiana Tanaka

Nos últimos anos, a transformação digital acelerada e a crescente interconectividade global trouxeram inúmeros benefícios para empresas ao redor do mundo. No entanto, junto com essa evolução, a exposição a ameaças cibernéticas cresceu de forma exponencial. Entre essas ameaças, o “hacktivismo” — um tipo de ataque cibernético motivado por questões políticas ou ideológicas — tem ganhado destaque, causando perturbações significativas em várias indústrias. Além disso, a proteção de dados sensíveis nunca foi tão crítica, especialmente em um contexto de regulamentações rigorosas, como a GDPR e a LGPD, que exigem das empresas um nível elevado de segurança.

Neste cenário desafiador, a inteligência artificial (IA) emergiu como uma das inovações tecnológicas mais promissoras no campo da cibersegurança. Soluções baseadas em IA estão revolucionando a maneira como empresas globais detectam, previnem e respondem a ataques cibernéticos, oferecendo uma defesa proativa e adaptativa contra o “hacktivismo” e outras formas de ameaças.



O crescimento do “hacktivismo” e a necessidade de soluções avançadas

O hacktivismo representa uma crescente ameaça à infraestrutura digital das empresas. Diferente de ataques puramente criminosos, que buscam lucro financeiro, os hacktivistas têm motivações ideológicas. Eles podem atacar grandes corporações, governos ou qualquer instituição que considerem alinhada a causas opostas às suas crenças. Um exemplo notório foi o ataque do grupo Anonymous em 2020 contra organizações que, segundo eles, contribuíam para injustiças sociais e violações de direitos humanos.

Esse tipo de ameaça é especialmente difícil de prever e combater, já que os ataques geralmente envolvem uma combinação de táticas, como DDoS (ataques de negação de serviço), vazamento de informações e sabotagem de sistemas. A resposta tradicional, baseada em firewalls e sistemas de detecção manual, já não é suficiente para mitigar esses riscos em tempo real. É aqui que a IA entra como uma peça chave para transformar a defesa cibernética.



IA em cibersegurança: transformando a defesa com proatividade

A IA está se mostrando uma aliada poderosa na cibersegurança, sendo capaz de processar grandes volumes de dados em tempo real, identificar padrões anômalos e agir preventivamente contra possíveis ameaças. Existem três áreas principais nas quais a IA tem revolucionado o campo da cibersegurança:



1. Detecção proativa de ameaças

Enquanto os sistemas tradicionais dependem de assinaturas conhecidas para identificar ataques, os algoritmos de IA são capazes de identificar comportamentos suspeitos com base em padrões, mesmo que esses ataques ainda não tenham sido previamente documentados. Isso é particularmente eficaz contra ameaças novas ou variantes de ataques existentes que não teriam sido detectados por soluções tradicionais.

Um estudo recente da IBM Security mostrou que sistemas de cibersegurança com IA reduzem o tempo de detecção de ameaças em 12 dias, em média, em comparação com sistemas sem IA. Esse ganho de tempo é crucial em uma era onde um ataque de ransomware pode criptografar sistemas inteiros em questão de horas.



2. Resposta automatizada e redução de erros humanos

A capacidade de resposta a incidentes cibernéticos também é aprimorada pela IA. Em vez de depender inteiramente de analistas de segurança, que podem demorar para reagir a múltiplos alertas, a IA pode agir automaticamente, isolando sistemas comprometidos, bloqueando tentativas de invasão e enviando alertas personalizados aos times de TI. Isso diminui a dependência do fator humano, que muitas vezes é um elo fraco na defesa contra ataques.

Além disso, a automação impulsionada por IA ajuda a reduzir os falsos positivos, que podem sobrecarregar as equipes de segurança. Com IA, os alertas são mais precisos, permitindo que os especialistas se concentrem em ameaças reais.



3. Previsão de ataques e análise preditiva

Com a IA, as empresas podem se beneficiar da análise preditiva para antecipar futuros ataques com base em padrões históricos e tendências emergentes. Sistemas como Deep Learning e Machine Learning (ML) são capazes de identificar possíveis vulnerabilidades antes que sejam exploradas por hackers, permitindo que medidas corretivas sejam tomadas com antecedência.

Essa capacidade preditiva é especialmente importante em um contexto de hacktivismo, onde os ataques podem ser planejados em resposta a eventos políticos ou sociais. A análise de padrões de comportamento em redes sociais e fóruns da dark web pode ajudar as empresas a identificar sinais de uma possível operação de hacktivismo direcionada.



Proteção de dados sensíveis: IA no cumprimento de regulamentações

Além de combater ameaças externas, a IA também desempenha um papel essencial na proteção de dados sensíveis, ajudando as empresas a se manterem em conformidade com leis como a GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados) na Europa e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil. A violação de dados pode resultar em multas pesadas e danos irreparáveis à reputação da empresa, o que torna a prevenção e a rápida resposta a incidentes uma prioridade.

As soluções baseadas em IA podem monitorar continuamente o acesso e a movimentação de dados sensíveis dentro da empresa, identificando atividades incomuns que possam indicar uma tentativa de roubo ou vazamento de informações. Essas soluções são capazes de categorizar automaticamente os dados com base em sua sensibilidade e aplicar diferentes níveis de proteção conforme necessário.

Ferramentas de Data Loss Prevention (DLP) com IA oferecem uma camada extra de proteção ao identificar e bloquear a transferência não autorizada de dados confidenciais. A inteligência artificial permite que essas ferramentas evoluam de forma contínua, aprendendo a reconhecer novos padrões de comportamento que podem sinalizar uma ameaça iminente.

A IA também está impulsionando inovações no campo da criptografia e autenticação. Soluções como a criptografia dinâmica — onde as chaves são alteradas automaticamente em intervalos regulares — dificultam ataques prolongados. Já a autenticação inteligente, baseada em IA, analisa uma combinação de dados, como biometria, comportamento do usuário e localização geográfica, para garantir que apenas pessoas autorizadas tenham acesso aos sistemas.



Para que a inteligência artificial seja uma aliada eficaz na defesa cibernética, as empresas precisam adotar uma abordagem estratégica que inclua:

  • Investimento em Soluções Baseadas em IA: Softwares de segurança com IA integrada, como o Cortex XDR da Palo Alto Networks ou o Watson for Cybersecurity da IBM, podem automatizar a detecção e resposta a ameaças.

  • Treinamento e Educação: É crucial que as equipes de TI e de segurança da informação estejam atualizadas sobre as últimas inovações e saibam como operar as novas ferramentas.

  • Revisão Contínua de Processos: A cibersegurança é um campo dinâmico, o que significa que as soluções precisam ser constantemente revisadas e atualizadas para enfrentar as novas ameaças.



A inteligência artificial está se tornando o pilar central das estratégias de cibersegurança, oferecendo soluções inovadoras que permitem não apenas detectar e responder a ataques de forma mais rápida e eficiente, mas também antecipar ameaças antes que elas aconteçam. Empresas globais que investirem em tecnologias baseadas em IA estarão mais preparadas para enfrentar os desafios impostos pelo hacktivismo e pela necessidade crescente de proteção de dados.

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CONSELHEIR@

Fabiana Tanaka

Fabi Tanaka é uma executiva experiente na área de Segurança da Informação, com uma carreira que se estende por mais de 17 anos. Ela atuou em diversos segmentos, como saúde, varejo, logística, benefícios, meios de pagamento e bancário. Atualmente, Fabi é Diretora de Segurança da Informação e Privacidade de Dados na Leroy Merlin e Membro Global do Comitê Executivo de Cybersecurity no Grupo Adeo (holding), onde desempenha um papel fundamental na gestão da segurança, resiliência, defesa cibernética e privacidade de dados.

Além de sua atuação corporativa, Fabi é uma palestrante ativa e docente convidada em instituições de ensino renomadas, como FIAP, USCS e INSPER, onde compartilha seu vasto conhecimento e experiência. Ela também contribui para a comunidade tecnológica e de diversidade como co-autora de livros, incluindo o “TI de Salto capa dura”. Com uma sólida trajetória, Fabi Tanaka é reconhecida por sua liderança, expertise técnica e dedicação ao fortalecimento da cibersegurança.

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