O setor logístico está passando por uma revolução digital intensa. A entrada das logtechs – startups e empresas de tecnologia especializadas em logística – trouxe inovação e uma gama de soluções para digitalizar e otimizar processos em toda a cadeia de suprimentos. Em contraste com a realidade de alguns anos atrás, onde grandes empresas de software não conseguiam cobrir todas as necessidades do setor, hoje existe uma verdadeira “explosão” de soluções de logtechs. Esse crescimento acelerado gerou um cenário onde o problema não é mais a carência de ferramentas, mas sim uma possível sobreposição e fragmentação de soluções.
A ascensão das logtechs: um novo paradigma na logística
Nos últimos anos, as logtechs têm surgido como uma resposta à necessidade crescente de digitalização da cadeia de suprimentos. Com a globalização e o aumento da complexidade das operações logísticas, a demanda por eficiência, rapidez e rastreabilidade tornaram-se cruciais. As logtechs propõem uma série de inovações, desde plataformas de gestão de frete e rastreamento até soluções de warehouse management system (WMS) e otimização de rotas.
De acordo com um estudo publicado na Revista de Administração Mackenzie, a implementação da Internet das Coisas (IoT) na gestão estratégica da logística pode melhorar a eficiência operacional das empresas, permitindo tomadas de decisão mais proativas e interconexão de recursos. Além disso, dados da Statista indicam que, em 2020, o mercado global de logística foi avaliado em aproximadamente US$8,6 trilhões, com a região Ásia-Pacífico representando a maior parcela desse valor.
Quando grandes empresas de software dominavam o mercado, o principal problema era a falta de flexibilidade para cobrir todos os aspectos da cadeia logística. Um sistema de ERP (Enterprise Resource Planning), por exemplo, podia não oferecer soluções específicas para gestão de fretes, integração com transportadoras, ou monitoramento de ativos em tempo real. Hoje, o problema oposto ocorre: há uma abundância de logtechs com soluções hiper-especializadas, mas que frequentemente apresentam funcionalidades sobrepostas.
Redundância e complexidade no ecossistema de ferramentas
Um dos principais desafios trazidos por essa saturação é a redundância de funcionalidades. Empresas acabam investindo em várias plataformas que, em essência, possuem funcionalidades próximas ou mesmo similares. Uma empresa pode adotar uma ferramenta para otimização de rotas, outra para rastreamento de entregas e ainda uma terceira para monitoramento em tempo real, sendo que muitas dessas soluções oferecem funções concorrentes. Esse “overlap” de soluções leva a um cenário onde há uma grande demanda de integrações, aumento de custos operacionais e complexidade na gestão de dados. De acordo com um estudo do Gartner, as empresas gastam de 10% a 15% de seus orçamentos com integração de sistemas.
Ainda que os cenários de APIs tenham trazido agilidade para um mundo que precisa ser hiperconectado.
Estratégias para escolher as soluções certas em um mar de opções
Diante desse cenário de fartura e sobreposição de soluções, como as empresas podem fazer escolhas mais estratégicas e coerentes? Abaixo, exploramos algumas abordagens recomendadas para gestores de logística e TI.
- Estabeleça critérios de seleção para produtos que podem evoluir. Começar num escopo de cobertura pequeno, mas que possam ampliar esta abrangência ( com outros módulos, por exemplo )
- Priorize soluções que resolvam problemas reais, que entreguem valores claros e mensuráveis.
- Explore produtos que oferecem APIs robustas e integração fluida.]
- Antes de adotar novas ferramentas, é essencial realizar uma avaliação profunda das necessidades do negócio, envolvendo mapear processos e identificar soluções que já estejam no seu ambiente.
- Revise constantemente seu ecossistema de soluções e monitore tanto as soluções de fornecedores estabelecidos, como novos entrantes. Considere que o mercado está em evolução e adaptação.
Oportunidade na fartura
Para gestores e líderes de tecnologia para a Logística, as soluções precisam trazer a melhor relação de custo-benefício para as empresas e considerar:
- Redução da complexidade operacional: As soluções precisam simplificar seus processos e minimizar a necessidade de sobrecarga em qualquer área.
- Melhoria na experiência do usuário: Independente de múltiplas soluções ou uma grande solução integrada, a experiência do usuário precisa ser privilegiada.
- Aprimoramento da análise de dados: Considere que dados mestres precisam ser robustos e estar bem mapeados, quando divididos entre diversos sistemas. E as fontes quando distintas trazem maior complexidade para serem tratadas como relevantes para tomadas de decisão com o menor tempo possível.
Este momento positivo, de fartura de soluções tecnológicas no setor de logística é um reflexo do esforço em modernizar e superar desafios históricos no Brasil.
Apesar disso, ele exige um olhar mais estratégico das empresas na seleção e implementação dessas soluções. O mercado pode passar por um processo natural de consolidação, onde os players mais robustos e integrados prevalecerão, enquanto soluções muito específicas ou que não entregam valor suficiente podem desaparecer. Para as empresas que as utilizam, o desafio é saber escolher produtos que realmente agregam valor sustentável.
Empresas que conseguem ter uma visão mais ampla sobre o ecossistema de soluções e otimizar suas soluções logísticas terão mais chances de se destacar em um mercado altamente competitivo e dinâmico.
Em um cenário onde as opções são vastas, escolher com critério é mais do que uma necessidade: é uma estratégia para assegurar a sustentabilidade e eficiência da operação logística no longo prazo.