A IA substituirá os profissionais de marketing?

‎Por Marcelo Fernandes

A inteligência artificial vem transformando o cenário empresarial e, no marketing B2B (Business to Business), não é diferente. Ela promete automação, personalização e eficiência em níveis nunca antes vistos. No entanto, ao mesmo tempo em que a IA é vista como uma revolução, ela também está envolta em uma série de mitos que podem confundir empresários e líderes de tecnologia.

Afinal, a IA substitui os profissionais de marketing? Ela é realmente capaz de prever comportamentos com exatidão? E quais são os limites dessa tecnologia?

“A IA vai substituir os profissionais de marketing”

A resposta para essa pergunta é “sim e não”. Se você realiza tarefas repetitivas com baixo valor agregado, pode ser que você seja substituído por alguma ferramenta de IA.

No entanto, para as funções mais complexas é mais difícil que isso ocorra, uma vez que existem muitos questionamentos sobre direitos autorais e a capacidade dos modelos de IA para criarem ações que realmente façam sentido e estejam profundamente alinhadas com os objetivos de uma empresa.

Apesar dos avanços da IA, ela não substituirá os profissionais de marketing. Em vez disso, a IA funciona como uma ferramenta poderosa que complementa o trabalho humano.

Ferramentas baseadas em IA, como automação de e-mails, segmentação de leads e geração de relatórios de desempenho, são criadas para otimizar tarefas repetitivas, liberando tempo para que os profissionais possam focar em estratégias mais criativas e complexas.

De acordo com um estudo da McKinsey, 63% das empresas que implementaram IA no marketing reportaram aumento na eficiência das operações, mas nenhum indicou que isso eliminou completamente a necessidade de intervenção humana. A criatividade, a empatia e o pensamento estratégico continuam sendo elementos fundamentais que a IA ainda não pode replicar.

Exemplo prático:

Já tentei utilizar uma ferramenta popular de mercado para me fornecer informações sobre o perfil e objetivo de certa empresa. Embora inicialmente a resposta rápida possa parecer incrível, uma análise mais profunda mostrou que os objetivos e tendências apresentados sobre aquela empresa estavam baseados em aspectos gerais do mercado.

Ou seja, deve-se tomar muito cuidado com as análises da IA e de onde seus bancos de dados são provenientes.

“A IA é muito cara e apenas grandes empresas podem usá-la”

Embora, no passado, as soluções de IA fossem realmente acessíveis apenas para grandes corporações, hoje a realidade é muito diferente. Graças à popularização de plataformas baseadas em IA, como HubSpot, ActiveCampaign e ChatGPT, pequenas e médias empresas (PMEs) também podem se beneficiar dessa tecnologia.

Uma startup de tecnologia pode utilizar ferramentas como o ChatGPT para criar conteúdo de blog otimizado para SEO ou outras ferramentas para analisar tendências de vendas, supply chain, comportamento de clientes e prever comportamentos de compra. Essas soluções estão disponíveis por preços acessíveis e não exigem grandes investimentos iniciais. No entanto no caso de criação de conteúdo qualquer um deve se preocupar muito com a questão dos direitos autorais.

“A IA sempre acerta nas previsões e decisões”

Embora a IA tenha capacidades impressionantes de análise preditiva, ela não é infalível. Os modelos de IA são tão bons quanto os dados que recebem. Se os dados forem incompletos, enviesados ou imprecisos, os resultados serão igualmente falhos.

No marketing B2B, isso é particularmente relevante, pois o comportamento do cliente corporativo é muitas vezes mais complexo e menos previsível do que o comportamento do consumidor final.

Uma ferramenta de IA pode prever que um determinado segmento de clientes tem alta probabilidade de comprar um produto com base em tendências passadas. No entanto, fatores externos como mudanças no mercado, novas regulações ou crises econômicas podem invalidar essas previsões

“A IA garante personalização completa e imediata”

Uma das maiores complexidades do marketing B2B é o fato de quem nas empresas existem grupos de decisores que avaliam uma determinada compra, ou seja, uma solução para um problema.

Embora a IA seja uma aliada poderosa na personalização, é muito difícil mapear as experiências de vários públicos alvo distintos simultaneamente. A possibilidade de mapeamento do comportamento de clientes acessando seu site é real, porém o cruzamento destes dados para que se extraiam conclusões ainda é muito difícil.

Muitos dos decisores talvez não tenham tempo e não estejam navegando em seu site, mas podem contar com suas equipes (os “decisores escondidos”) para avaliar múltiplas ofertas.

Dependendo do tipo de produto ou serviço vendido por uma empresa a outra, o uso de IA para personalização pode ser inviável, pelo menos por enquanto.

“A IA é apenas para automação, não para estratégia”

A IA é frequentemente associada à automação de tarefas repetitivas, mas seu potencial vai muito além disso. Com as ferramentas certas, a IA pode ser usada para identificar tendências de mercado, otimizar a alocação de recursos e até mesmo desenvolver estratégias baseadas em dados.

O futuro é promissor, mas as empresas precisam organizar primeiro seus dados se quiserem obter vantagens sobre a análise de todas as interações que são feitas com ela.

Empresas B2B podem usar ferramentas de IA para analisar a concorrência, identificar lacunas no mercado e recomendar canais ou mensagens mais eficazes. Além disso, algoritmos avançados podem ajudar a prever o retorno sobre investimento (ROI) de diferentes iniciativas de marketing, ajudando na priorização das estratégias.

A Inteligência Artificial ainda terá que caminhar muito para redefinir o marketing B2B, já que uma grande parcela dos resultados possíveis depende da organização da própria empresa ao redor de uma estratégia centrada na organização de seus dados, para então utilizar as ferramentas de IA de forma estrutural.

Contudo, é crucial separar os mitos das verdades para maximizar os benefícios dessa tecnologia e evitar expectativas irreais.

Portanto, a IA não substitui os profissionais de marketing, mas os empodera. Ela não é inacessível, mas exige planejamento estratégico. E embora não seja infalível, suas capacidades analíticas e preditivas podem transformar o marketing B2B quando combinadas com a inteligência humana.

Para líderes de tecnologia e empresários, o desafio não é apenas adotar a IA, mas integrá-la de forma estratégica, garantindo que as decisões sejam baseadas em dados confiáveis e alinhadas aos objetivos do negócio.

Marcelo-Fernandes

CONSELHEIR@

Marcelo Fernandes

25 anos de experiência na área de Marketing B2B e Tecnologia. tendo atuado como head de marketing América Latina e recentemente em posição Global. Atualmente na SAP, trabalhei em empresas como Microsoft, Huawei, Ericsson, Intralinks. Minha formação inclui MBA em Gestão Internacional, Pós Graduação em Marketing e Finanças, Engenharia Elétrica e diversos cursos na áreas de gestão e liderança. Sou membro do leadership team da ITSMA (US) e StrategicABM (UK).

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