Do Juridiquês ao Impacto: como escritórios de advocacia podem ajudar o jurídico interno a engajar stakeholders

fevereiro, 2025‎ ‎ ‎ |

‎Por Mayara Souza

Como o professor Richard Susskind afirmou em seu livro Tomorrow’s Lawyers:
“Os advogados do futuro não serão aqueles que resistem à mudança, mas sim aqueles que a abraçam e encontram novas formas de entregar valor.”

No ambiente corporativo, o advogado in-house enfrenta o desafio constante de ser percebido como um parceiro estratégico, e não apenas parte de um setor burocrático. Para os advogados de escritórios que prestam serviços para empresas, entender essa dinâmica e auxiliar na construção de uma comunicação mais clara e acessível pode ser um diferencial competitivo. O uso de estratégias de comunicação eficazes, aliadas ao Legal Design, pode fortalecer essa parceria e ampliar o impacto do jurídico interno junto aos stakeholders.

Advogados externos podem agregar valor ao jurídico interno ajudando a traduzir informações complexas para uma linguagem mais acessível. Algumas estratégias incluem reduzir o excesso de formalismo e focar nos pontos críticos para tomada de decisão, fornecer materiais visuais que auxiliem o jurídico interno a comunicar suas recomendações com clareza e impacto, e, bem importante, evitar ser o “mensageiro do apocalipse”. Alarmar a companhia sobre alguma necessidade na intenção de vender serviços pode gerar um trabalho adicional para o jurídico interno, que precisará tranquilizar os stakeholders sobre ainda não ser o momento de determinada ação. A transparência e uma abordagem consultiva são essenciais para manter relações de confiança.

Escritórios de advocacia que adotam essa abordagem podem agregar valor aos serviços jurídicos oferecidos. Algumas sugestões que podem agregar muito valor à parceria:

●     Contratos e documentos legais baseados em UX Design: estruturação de documentos intuitivos, com foco na experiência do usuário, reduzindo ambiguidades, repetições e tornando a leitura mais fluida.

●     Relatórios visuais: uso de infográficos e dashboards para demonstrar riscos e oportunidades de maneira acessível.

●     Redução da necessidade de “tradução” pelo jurídico interno: não são raras as vezes em que uma outra área da companhia está em cópia de um e-mail com escritórios e busca o jurídico interno para entender os próximos passos e estratégias sugeridas. Simplifique a mensagem, “menos é mais”.

●     Fornecer análises estratégicas personalizadas: ajudar o jurídico interno a demonstrar como suas ações impactam diretamente os objetivos do negócio.

●     Métodos de cobrança menos burocráticos: a cobrança por hora pode gerar fricção na relação entre jurídico interno e escritórios externos, é desgastante para todas as partes precisar contestar, questionar ou explicar horas debitadas. Ainda, outros times da empresa geralmente não possuem habilidades técnicas para avaliar se, por exemplo, 48 horas debitadas para a elaboração de uma notificação extrajudicial de 3 páginas sobre uso indevido de marca, são plausíveis – E sim, pode parecer um exemplo absurdo, mas é baseado em fatos reais –. Modelos alternativos, como cobrança por projeto ou fee mensal, podem proporcionar maior previsibilidade e transparência.



Em suma (e de forma visual):

Prática TradicionalAplicação de Legal Design
Contratos longos e cheios de juridiquêsContratos visuais e estruturados por módulos
Contratos longos e cheios de juridiquêsDashboards com indicadores estratégicos
Comunicação via e-mail com excesso de formalismo e informaçãoUso de ferramentas colaborativas e linguagem acessível
Levantar muitas possibilidadesAlinhar possibilidades aos objetivos da companhia – dosando apetite de risco
Time sheetPropostas com valores fixos ou, ao menos, previsíveis



Vivemos em um mundo BANI – Frágil (Brittle), Ansioso (Anxious), Não Linear (Nonlinear) e Incompreensível (Incomprehensible). Essa nova realidade traz desafios para todos nós. Escritórios de advocacia que entendem essa complexidade e ajudam o jurídico interno a navegar nesse cenário com celeridade, apetite de risco, ajustes de rota e oferecendo soluções além do tradicional consultivo se destacam no mercado.

A combinação de comunicação clara, Legal Design e uma abordagem estratégica fortalece a parceria entre as partes e amplia o impacto do jurídico dentro das empresas. Escritórios que trazem previsibilidade em um ambiente frágil, simplificação em um mundo ansioso, flexibilidade para lidar com a não linearidade e clareza para combater a  incompreensibilidade, se tornam aliados indispensáveis para as empresas.

Seguindo os aprendizados do professor Richard Susskind, a advocacia está em um ponto de inflexão: escritórios que continuam a operar da mesma forma podem se tornar irrelevantes, enquanto aqueles que abraçam a mudança e inovam na forma como prestam seus serviços se tornam aliados indispensáveis do jurídico interno. A transformação do setor jurídico não é mais uma possibilidade distante, mas uma necessidade para garantir eficiência, impacto e um verdadeiro valor estratégico para as empresas.

Escritórios e departamentos jurídicos devem buscar um modelo mais eficiente, com uso intensivo de tecnologia, plataformas digitais e metodologias inovadoras, que não apenas resolvam problemas jurídicos, mas também previnam conflitos e otimizem operações empresariais.

Ao adotar essas práticas, advogados externos não apenas ajudam seus clientes corporativos a alcançarem seus stakeholders de forma mais eficaz, mas também se posicionam como aliados estratégicos no sucesso do negócio.

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CONSELHEIR@

Mayara Souza

Formada em direito pela FMU e com MBA em Gestão e Business Law na FGV, tenho mais de 12 anos de experiência com direito e tecnologia, sendo 3 anos de atuação em escritório especializado na área e mais de 9 anos in-house em empresas de tecnologia. Atualmente, estou gerente de jurídico e compliance, responsável pelas áreas de contencioso, contratos, compliance e legal operations do grupo Olist. Atuo também como professora de cursos de Legal Design e Visual Law e sou palestrante em eventos de inovação jurídica.

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