Como blindar dados financeiros em um mundo digital cada vez mais vulnerável?

‎Por Douglas Lima

A transformação digital no setor financeiro trouxe inúmeras oportunidades para melhorar a experiência do cliente, ampliar o acesso a serviços e aumentar a eficiência operacional. No entanto, com esses avanços vieram desafios significativos relacionados à privacidade e à segurança da informação. Nenhum outro setor lida com dados tão sensíveis, críticos e cobiçados quanto o financeiro. Transações bancárias, informações de crédito, dados cadastrais e históricos de consumo formam um conjunto extremamente valioso, tanto para negócios quanto para cibercriminosos.



O cenário de riscos no setor financeiro

Os desafios específicos do setor financeiro começam pela própria complexidade de sua operação. Instituições lidam com milhares, ou milhões, de transações por dia, envolvendo sistemas legados, aplicativos móveis, integrações com fintechs e plataformas em nuvem. Essa multiplicidade de canais, combinada com a pressão por velocidade e inovação, amplia a superfície de ataque e dificulta o controle centralizado dos dados.

Além disso, a confiança é o principal ativo do setor. Um único incidente de vazamento de dados pode comprometer não apenas os ativos digitais da empresa, mas sua reputação e a fidelidade de seus clientes. Isso cria um cenário onde a excelência em privacidade e segurança precisa estar no centro da estratégia de negócio, e não apenas como uma camada técnica ou uma exigência regulatória.



Principais ameaças ao ecossistema financeiro

Entre as principais ameaças enfrentadas pelas instituições financeiras, o phishing continua sendo uma das mais comuns e eficazes. Campanhas cada vez mais sofisticadas exploram engenharia social para enganar usuários e capturar credenciais de acesso. Muitas vezes, os ataques imitam comunicações legítimas do próprio banco, induzindo clientes ou até colaboradores a entregar informações sensíveis sem perceber.

O ransomware também representa um risco crescente. Com a capacidade de criptografar sistemas inteiros e exigir resgates milionários, ele interrompe operações críticas e pode comprometer não apenas dados, mas toda a infraestrutura de uma instituição. O setor financeiro, pela criticidade de suas operações e pelo alto valor que movimenta, é um dos alvos preferenciais desses ataques.

O vazamento de credenciais, por sua vez, é uma ameaça silenciosa e persistente. Senhas fracas, reutilizadas ou mal armazenadas ainda são a porta de entrada para muitos incidentes de segurança. Uma vez em posse dessas credenciais, os atacantes conseguem movimentar-se lateralmente pelos sistemas, escalar privilégios e acessar informações de alto valor, muitas vezes sem serem detectados por longos períodos.



Medidas técnicas para proteção efetiva

Para enfrentar esse cenário, medidas técnicas robustas são indispensáveis. A criptografia de dados, tanto em repouso quanto em trânsito, é um requisito básico para proteger informações contra interceptações e acessos não autorizados. Dados financeiros precisam estar cifrados desde o momento da coleta até o armazenamento final, com chaves bem gerenciadas e rotinas de rotação periódica.

A autenticação multifator (MFA) é outra barreira essencial. Contar apenas com login e senha já não é suficiente. Ao adicionar camadas de verificação, como biometria, tokens físicos ou códigos temporários, a instituição reduz drasticamente o risco de invasão por credenciais comprometidas. A MFA não deve ser vista como um obstáculo à experiência do usuário, mas como um pilar fundamental de confiança digital.

O monitoramento contínuo é o que fecha esse tripé técnico. Ferramentas de detecção e resposta a incidentes (SIEM e SOAR) permitem que a equipe de segurança identifique comportamentos anômalos em tempo real, detecte tentativas de acesso indevido, movimentos laterais e outros sinais de intrusão. Essa vigilância constante é o que permite conter danos e responder com agilidade quando um ataque acontece.



A governança como alicerce da proteção

Contudo, segurança técnica sozinha não é suficiente. A governança de dados tem um papel central na blindagem das informações financeiras. É ela que define regras claras sobre o ciclo de vida dos dados, estabelece políticas de acesso, classifica informações segundo seu grau de sensibilidade e garante que todos os envolvidos estejam cientes das responsabilidades associadas ao seu tratamento.

Nesse contexto, o papel do DPO (Data Protection Officer) se torna cada vez mais estratégico. Não se trata apenas de garantir conformidade com a LGPD ou o GDPR, mas de atuar como facilitador entre as áreas técnica, jurídica e de negócio. O DPO é quem deve assegurar que os princípios de minimização de dados, finalidade específica e transparência estejam incorporados aos processos, produtos e sistemas desde sua concepção.

A atuação do DPO também é fundamental para gerenciar os riscos e responder de forma adequada aos titulares dos dados. Em caso de incidente, é ele quem lidera os processos de comunicação, apuração e mitigação. Sua presença ativa no comitê executivo, nos projetos de transformação digital e nas auditorias internas é o que assegura que a segurança e a privacidade não sejam esquecidas em nome da agilidade ou do custo.



O fator humano: a linha de frente da proteção

Outro ponto importante é a conscientização. Colaboradores precisam ser continuamente treinados sobre os riscos digitais, políticas internas e boas práticas de segurança. A cultura de proteção de dados começa nas pessoas. De nada adianta investir milhões em tecnologia se um colaborador, desatento, clicar em um link malicioso ou compartilhar credenciais sem perceber.

A segmentação de acessos é outra prática crucial. Nem todos os funcionários precisam ter acesso a todos os dados. Aplicar o princípio do menor privilégio, onde cada usuário acessa apenas o que é estritamente necessário para sua função, reduz a superfície de ataque e limita o impacto de um eventual comprometimento de conta.

Além disso, é fundamental revisar constantemente os fornecedores e parceiros com quem a instituição compartilha dados. Muitos ataques hoje exploram vulnerabilidades em terceiros. Ter cláusulas contratuais claras, exigir padrões mínimos de segurança e realizar auditorias periódicas ajudam a mitigar esses riscos e a proteger toda a cadeia.



Reflexões estratégicas para o futuro

A proteção de dados financeiros em um mundo digital exige, portanto, uma abordagem integrada, que combina tecnologia de ponta, processos bem estruturados, governança sólida e uma cultura de segurança disseminada em todos os níveis da organização. O setor financeiro, por sua natureza, não pode se dar ao luxo de ser reativo. Ele precisa ser proativo, resiliente e transparente.

Você já parou para pensar: sua instituição enxerga a proteção de dados como um custo ou como um investimento estratégico? A segurança está integrada aos processos de inovação ou é apenas uma camada aplicada posteriormente?

Reflita sobre: como sua organização equilibra a velocidade da transformação digital com a necessidade de proteger informações sensíveis? Existe uma cultura onde qualquer colaborador se sente confortável para apontar riscos de privacidade, mesmo que isso signifique desacelerar um projeto?

A confiança dos clientes está diretamente ligada à capacidade das instituições de proteger seus dados. Em tempos de digitalização acelerada, essa confiança é conquistada com ações concretas, investimentos consistentes e uma postura ética diante da privacidade. Blindar os dados é, mais do que uma exigência regulatória, um imperativo de sobrevivência e liderança em um mercado onde a confiança se tornou a moeda mais valiosa.
Lembre-se: no mundo financeiro digital, o valor dos dados transcende seu uso imediato. Protegê-los não é apenas cumprir normas, mas honrar a confiança depositada por cada cliente que escolheu sua instituição como guardiã de seus ativos mais sensíveis.

Douglas-Lima

CONSELHEIR@

Douglas Lima

Líder de Privacidade, Proteção de Dados e Governança de TI

Profissional orientado a resultados, com mais de 20 anos de experiência em Gestão de Projetos, Governança de TI, Privacidade e Proteção de Dados nos segmentos de Consultoria, Serviços e Financeiro. Especialista em LGPD, Inteligência Artificial e Transformação Digital.

Liderou a implementação de programas de conformidade em privacidade e proteção de dados, assegurando a adesão às regulamentações nacionais e internacionais, como LGPD, GDPR e CCPA. Atuou no desenvolvimento e execução de políticas de governança, garantindo conformidade com normas como ITIL, COBIT, ISO 27001 e ISO 20000.

Com forte experiência na definição, monitoramento e análise de KPIs estratégicos, impulsionou a eficiência e segurança no uso de dados, além de liderar iniciativas de transformação digital e integração de tecnologia de ponta aos processos corporativos.

Atuou na gestão de grandes volumes de dados (Big Data), colaborando diretamente com áreas como TI, Marketing, Vendas e Operações. Participa ativamente de comitês estratégicos, como ANETI, IDCiber e APDADOS, contribuindo para a evolução da privacidade e segurança da informação.

Responsável pelo desenvolvimento de treinamentos e formação de equipes de alta performance, orientadas a resultados e conformidade regulatória.

 

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