Sua estratégia de cibersegurança está preparada para os riscos digitais de 2025?

‎Por Sylvio Musto

A evolução tecnológica acelerada dos últimos anos reposicionou a gestão de riscos cibernéticos como um dos temas mais estratégicos para qualquer organização. Segundo o relatório da Deloitte “Cyber Risk and Digital Transformation”, as empresas têm buscado integrar a cibersegurança como pilar central de sua governança e sustentabilidade do negócio. À medida que entramos em 2025, a complexidade dos ecossistemas digitais, a sofisticação dos ataques e a pressão regulatória exigem das empresas não apenas robustez técnica, mas uma mudança profunda de mentalidade. A cibersegurança deixou de ser uma responsabilidade exclusiva da TI para se tornar um pilar central da governança corporativa e da sustentabilidade do negócio.

A primeira grande mudança está na forma como o risco é percebido. Organizações mais maduras agora encaram a segurança cibernética como um risco operacional impactante na reputação, continuidade e confiança do mercado, conforme destacado no relatório “Global Digital Trust Insights 2025” da PwC. Em vez de tratar segurança cibernética como um problema pontual ou técnico, as organizações mais maduras passaram a encará-la como um risco operacional transversal, que impacta diretamente a reputação, a continuidade e a confiança do mercado. Essa visão integrada transforma o CISO em um ator estratégico, com assento nos comitês executivos e interação contínua com áreas como jurídico, compliance, finanças e RH.

Entre as tendências mais relevantes em 2025 está a consolidação do modelo Zero Trust. Conforme apontado pelo relatório da Forrester “​Zero Trust Security: The Business Benefits And Advantages​”, a lógica de “nunca confie, sempre verifique” tornou-se essencial em ambientes onde os perímetros são fluidos e os usuários se conectam de múltiplos dispositivos, redes e localizações. O Zero Trust exige validação contínua de identidade, autenticação multifator, segmentação de rede e monitoramento constante do comportamento. Não se trata de um produto, mas de um framework que precisa ser adaptado à realidade de cada negócio.

Outra estratégia em expansão é o uso intensivo de inteligência artificial para defesa cibernética, conforme apontado pelo relatório “Global Cybersecurity Outlook 2025” do World Economic Forum. Com a quantidade de dados e alertas gerados diariamente pelos sistemas de segurança, os times humanos não conseguem mais acompanhar o volume com eficiência. Ferramentas baseadas em IA e machine learning ajudam a identificar padrões de anomalia, priorizar riscos e responder a incidentes com maior rapidez. Em 2025, a IA não é mais diferencial — é componente obrigatório de uma defesa moderna.

A gestão de riscos cibernéticos também evoluiu para além do perímetro corporativo. A dependência crescente de fornecedores, plataformas terceirizadas e APIs exige uma análise criteriosa de riscos de terceiros. Ataques à cadeia de suprimentos digitais, como os que vimos em anos anteriores, reforçaram a importância de programas de avaliação contínua, cláusulas contratuais de segurança e due diligence aprofundadas em qualquer parceria tecnológica.

Também mencionado no “Global Digital Trust Insights 2025” da PwC, o fator humano continua sendo um dos elos mais frágeis da cadeia de segurança. Em 2025, as estratégias mais eficazes combinam tecnologia com cultura organizacional. Treinamentos recorrentes, simulações de phishing, políticas claras de uso de dados e uma abordagem de “security by design” são práticas cada vez mais comuns. O objetivo é transformar a segurança em um valor compartilhado, e não em uma obrigação imposta.

As novas regulamentações também influenciam diretamente a gestão de riscos. A entrada em vigor de leis mais severas de proteção de dados em diversos países elevou o nível de exigência sobre as empresas. No Brasil, a LGPD passou a ter papel central na estrutura de governança digital, exigindo que incidentes sejam reportados com agilidade, que dados sensíveis sejam protegidos com rigor e que as empresas demonstrem capacidade de resposta. Investir em auditorias independentes e políticas éticas de dados gera vantagens competitivas – também reforçado pela Deloitte no relatório “Future of Risk in the Digital Era”.

A conformidade regulatória, no entanto, não deve ser vista como o fim, mas como o mínimo. Empresas que vão além das exigências legais e investem em transparência, auditorias independentes e políticas éticas de uso de dados ganham vantagem competitiva. Em um mundo onde a confiança digital é um ativo valioso, a reputação construída com base em segurança se converte em fidelização e valorização de marca.

Outra tendência importante em 2025 é a automação da resposta a incidentes. Com os ataques se tornando mais rápidos e letais, a capacidade de detectar e reagir em tempo real faz toda a diferença. Plataformas de SOAR (Security Orchestration, Automation and Response) integram diferentes ferramentas de segurança, padronizam processos e permitem respostas automatizadas com base em regras pré-definidas. Isso reduz o tempo de contenção e minimiza o impacto.

O crescimento do trabalho remoto e dos modelos híbridos também exige uma revisão das estratégias de proteção. Dispositivos pessoais, redes domésticas e múltiplos acessos exigem camadas adicionais de segurança, como VPNs, MDMs (Mobile Device Management) e políticas de endpoint mais rigorosas. Em 2025, as empresas que ainda não adaptaram suas estruturas à nova realidade de mobilidade digital correm riscos desnecessários.

O aumento no volume e na complexidade dos ataques de ransomware continua preocupando organizações de todos os portes. De acordo com o relatório “Cost of a Data Breach 2024” da IBM, o custo médio global de um vazamento de dados atingiu um recorde de US$ 4,88 milhões, representando um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Além disso, dados armazenados em nuvens públicas apresentaram os maiores custos médios, chegando a US$ 5,17 milhões por incidente. Esses números reforçam que a resposta mais efetiva não está apenas em backups e antivírus, mas em estratégias proativas de defesa, como segmentação de redes, bloqueio de execução de scripts maliciosos e testes regulares de penetração. O investimento em cibersegurança não pode ser visto como custo, mas como apólice de continuidade do negócio, especialmente em um cenário onde cada segundo conta para mitigar os impactos financeiros e reputacionais de um ataque.

O papel do board na gestão de riscos cibernéticos tornou-se crucial em 2025. Conforme destacado no artigo da Deloitte “The Board’s Understanding of Cybersecurity”, os conselhos de administração têm um papel fundamental na supervisão e priorização da cibersegurança como parte da governança corporativa. O artigo ressalta que os boards devem fazer perguntas estratégicas, como: quais são os riscos críticos enfrentados pela organização? A empresa está preparada para responder a um incidente? Além disso, é essencial que os conselhos garantam que políticas e procedimentos de segurança estejam adequadamente financiados e alinhados com os objetivos de negócio. Essa abordagem integrada fortalece a resiliência organizacional e promove uma cultura consciente de cibersegurança em todos os níveis da empresa. A presença de conselheiros com expertise em tecnologia, a inclusão de segurança cibernética na matriz de riscos corporativos e a revisão periódica dos planos de resposta a incidentes são práticas que já fazem parte das empresas mais resilientes.

O conceito de resiliência cibernética passou a guiar as estratégias mais robustas. Não se trata apenas de prevenir ataques, mas de ter capacidade de resistir, responder e recuperar com agilidade. Segundo o relatório “O que esperar do futuro da segurança digital em 2025?” da MIT Technology Review, a ciberresiliência tornou-se um pilar essencial nas estratégias corporativas, garantindo que as empresas possam continuar operando mesmo diante de incidentes graves.

Isso exige não apenas tecnologia, mas processos bem definidos, pessoas treinadas e comunicação eficaz com stakeholders internos e externos. O artigo “Just Call It a Security Incident” da ISACA, destaca que empresas com planos de resposta bem estruturados reduzem em até 40% o impacto financeiro de incidentes de segurança. Além disso, práticas como treinamentos contínuos e simulações de ataques fortalecem a capacidade de reação e minimizam erros críticos.

A reputação de uma empresa, hoje, depende da forma como ela lida com a crise — não apenas se ela consegue evitá-la. Um levantamento da CG One, publicado em março de 2025, aponta que consumidores estão cada vez mais atentos à forma como as empresas respondem a ataques cibernéticos. A transparência na comunicação e a rapidez na contenção dos danos são fatores determinantes para preservar a confiança do público e dos investidores.

Uma estratégia eficaz em 2025 é a simulação de cenários de crise. Também mencionado no relatório “Global Cybersecurity Outlook 2025” do World Economic Forum, exercícios como tabletop, war games e testes de incidentes reais são fundamentais para preparar as equipes de segurança e aumentar a agilidade na resposta a ataques. O relatório destaca que essas simulações não apenas ajudam a identificar lacunas nos planos de resposta, mas também promovem uma maior integração entre as áreas envolvidas, garantindo que todos saibam suas responsabilidades em momentos críticos. Em um cenário onde cada segundo conta, essas práticas tornam-se indispensáveis para minimizar os impactos de crises cibernéticas. Ter um plano de resposta bonito no papel não é suficiente. É preciso testar, revisar e alinhar constantemente as responsabilidades de cada área envolvida.

O investimento em segurança também precisa estar proporcional ao risco. Em muitos casos, vemos empresas com alta exposição e baixa maturidade alocando recursos insuficientes. Em 2025, a mensuração do risco cibernético já pode ser feita com base em modelos quantitativos que conectam ameaças digitais ao impacto financeiro potencial – um método que, segundo a análise da Gartner, permite justificar orçamentos, priorizar investimentos e alinhar a segurança à estratégia de negócio.

A colaboração entre empresas, governo e academia será outro diferencial importante. Compartilhar inteligência sobre ameaças, participar de fóruns setoriais e contribuir para a construção de padrões coletivos de defesa fortalece o ecossistema como um todo. Essa ideia é corroborada por iniciativas como o simpósio realizado pela ABIN, que reúne especialistas de diversos setores para promover uma cooperação interinstitucional que torna mais difícil a ação dos atacantes em um sistema cada vez mais conectado. Cibersegurança não é uma corrida individual, mas uma maratona coletiva. Quanto mais conectado estiver o sistema, mais difícil será para o atacante avançar.

A integração entre ESG e cibersegurança também vem ganhando força. Investidores e consumidores passam a avaliar se as empresas não apenas adotam práticas sustentáveis no meio ambiente e na governança, mas também se protegem contra riscos digitais. A segurança da informação passa, assim, a ser vista como uma dimensão imprescindível da responsabilidade corporativa. Esse movimento é evidenciado na análise “Cibersegurança e ESG: A nova fronteira no controle de riscos terceiros”, que destaca a importância de incorporar critérios ESG aos processos de segurança para garantir a sustentabilidade dos negócios, e esse movimento tende a se intensificar nos próximos anos.Por fim, a principal tendência em 2025 é a mudança cultural. A gestão de riscos cibernéticos precisa sair da sala técnica e ocupar o centro das decisões estratégicas. Isso só ocorrerá quando a alta liderança compreender que não há inovação sem segurança, nem transformação digital sem confiança, e que uma vantagem competitiva sustentável depende intrinsecamente da proteção de dados. Conforme apontado no relatório “Tendências do Gartner para 2025: o que líderes de segurança precisam saber”, a adoção de uma cultura de segurança integrada à estratégia corporativa é fundamental para enfrentar os desafios de um ambiente digital em constante evolução. Cibersegurança, hoje, é sobre proteger valor — e garantir o futuro do negócio.

Sylvio-Musto-Neto

CONSELHEIR@

Sylvio Musto Neto

Sylvio Musto é Supervisor de Auditoria Interna (Tech & Cyber) no Mercado Livre e Professor de Tecnologia, com mais de 15 anos de experiência em TI e Segurança da Informação. É pós-graduado em Gestão de Segurança da Informação pela UNICIV e em Liderança e Gestão Estratégica de Pessoas pela FIA Business School. Com vasta experiência em auditoria interna e segurança cibernética, ele instrui profissionais e compartilha insights sobre segurança cibernética, auditoria interna, governança de TI e inovação tecnológica. Mantém um perfil ativo no LinkedIn com mais de 8 mil seguidores, onde publica conteúdos sobre tendências tecnológicas, melhores práticas em segurança da informação e desenvolvimento profissional na área de tecnologia

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