Como engajar a Geração Z na área de cibersegurança?

‎Por Danilo Souza

A transformação digital acelerada pelos últimos anos escancarou uma realidade que já vinha sendo discutida nos bastidores do mercado: a escassez de profissionais qualificados em tecnologia e cibersegurança. O problema não é apenas a alta demanda, mas o descompasso entre o perfil que as empresas procuram e o que os jovens enxergam como uma carreira atrativa.

O “Cybersecurity Workforce Study 2024” da ISC2 revelou que a lacuna global de profissionais em cibersegurança aumentou para aproximadamente 4,8 milhões de vagas não preenchidas, representando um aumento de 19% em relação ao ano anterior. Só no Brasil, estima-se que o setor tenha mais de 100 mil posições abertas com dificuldade de contratação. E o cenário não é diferente para outras áreas de TI, como engenharia de software, ciência de dados e infraestrutura em nuvem.

Diante disso, surge a pergunta: como atrair a nova geração para construir carreira em tecnologia e segurança digital? A resposta exige mais do que anúncios de vagas. É preciso ajustar a mensagem, os canais, os valores e a forma como o setor se apresenta.



A nova geração quer propósito, não apenas emprego

As gerações mais jovens — especialmente a Geração Z (nascidos a partir de 1997) — têm uma relação diferente com o trabalho. Segundo pesquisa da Deloitte Global 2023 Gen Z and Millennial Survey, os principais fatores que influenciam a escolha de carreira dessa geração incluem:

  • Propósito e impacto social
  • Qualidade de vida e saúde mental
  • Crescimento pessoal e aprendizado contínuo
  • Diversidade, inclusão e responsabilidade ambiental

Ou seja, salários e benefícios continuam relevantes, mas não são mais o único fator de decisão. Isso exige das empresas uma mudança na forma como apresentam as oportunidades em TI e Cyber: a carreira precisa ser mostrada como relevante para a sociedade, desafiadora intelectualmente e alinhada com valores pessoais.

“A segurança digital é a nova linha de frente da proteção da sociedade. Proteger dados é proteger pessoas.” — Brad Smith, presidente da Microsoft

Ao traduzir isso em mensagens claras, o setor pode reposicionar a imagem da cibersegurança como algo moderno, necessário e alinhado com as aspirações da nova geração.



O erro comum: linguagem técnica e distante

Um dos principais problemas está na forma como a indústria se comunica. Termos excessivamente técnicos, descrição de cargos frios e jargões incompreensíveis afastam candidatos em potencial. Para muitos jovens, TI e Cyber ainda soam como áreas “difíceis, masculinas, fechadas e excludentes”.

A mensagem precisa ser mais próxima, inspiradora e clara sobre o propósito da carreira. Por exemplo: Em vez de: “Buscamos analista SOC nível 2 com experiência em SIEM e resposta a incidentes”. Tente: “Você gosta de resolver problemas e proteger pessoas contra ameaças digitais? Que tal começar sua carreira em um time que está na linha de frente da segurança digital?”

De acordo com a Vorecol HRMS, a geração Z valoriza aspectos como flexibilidade no ambiente de trabalho, oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional, bem como um propósito claro e alinhado com os valores da empresa..



Quais mensagens realmente funcionam?

Com base em pesquisas de employer branding, marketing educacional e neurociência do comportamento jovem, aqui estão algumas mensagens que tendem a gerar maior conexão com a nova geração:

  • “Faça parte da geração que vai proteger o futuro digital do planeta.”
  • “Seja pago para aprender, crescer e fazer diferença no mundo real.”
  • “Você não precisa saber tudo. A gente te ensina. Só precisa ter vontade de aprender.”
  • “TI e cibersegurança não são só para experts em código. Precisamos de gente criativa, curiosa e com visão.”
  • “Somos diversos, inclusivos e estamos quebrando os velhos estereótipos do mundo tech.”

Essas mensagens conectam valores emocionais com uma proposta concreta de carreira — algo que gera muito mais engajamento do que a tradicional lista de requisitos. Os líderes precisam saber a hora de ser mentor e a hora de ser coach, o mentor dá o direcionamento e ensina com sua experiência e o coach, estimula, empodera sem dar respostas.



A importância de mostrar trajetórias reais

A nova geração quer se ver nos lugares onde pretende estar. Mostrar profissionais reais — de diferentes perfis, idades, gêneros, raças e formações — é fundamental para quebrar barreiras invisíveis.

Campanhas como a “Cybersecurity is for everyone”, promovida pela Cybersecurity & Infrastructure Security Agency (CISA) nos EUA, mostraram que histórias reais humanizam o setor, aumentam a diversidade de candidatos e aproximam o público jovem das possibilidades da área.

Iniciativas semelhantes no Brasil, como a trilha educacional gratuita “Jornada da Cibersegurança” da Microsoft em parceria com o Senai-SP, também têm buscado democratizar o acesso à formação e mostrar caminhos de entrada acessíveis, inclusive para quem vem de contextos sociais mais diversos.



Não basta comunicar bem. É preciso criar oportunidades reais

Atrair jovens exige mais do que uma boa narrativa. É necessário baixar as barreiras de entrada e oferecer rotas reais de capacitação e evolução profissional. Algumas estratégias eficazes incluem:

  • Programas de estágio estruturados com mentoria
  • Trilhas de formação técnica acelerada, em parceria com edtechs
  • Bolsas de estudo para grupos sub-representados na tecnologia
  • Laboratórios práticos e simulações reais de ameaças
  • Hackathons e desafios gamificados para quem está começando

Também há os profissionais que descobriram o setor tardiamente e que, se tivessem conhecido as possibilidades antes, teriam começado a carreira mais cedo. Ou seja, existe um “gap de descoberta” que precisa ser resolvido com ações de comunicação, educação e incentivo direto à entrada no setor.



Onde comunicar? Os canais certos para falar com a nova geração

Para alcançar essa audiência, os canais tradicionais de RH já não são suficientes. As empresas que querem atrair jovens para TI e Cyber precisam estar onde eles estão:

  • TikTok, Instagram e YouTube com conteúdo leve e visual
  • Twitch e Discord para ações de engajamento com comunidades gamers
  • LinkedIn com conteúdo voltado a “first jobbers” e trilhas de carreira
  • Plataformas de aprendizado como Alura, DIO, Rocketseat e Coursera, com presença ativa e patrocínio de desafios

Além disso, parcerias com escolas técnicas, universidades e ONGs de formação digital têm sido eficazes para gerar pipeline de talentos mais alinhado com os valores que o setor precisa hoje.

Danilo-Barbosa-de-Souza

CONSELHEIR@

Danilo Souza

Com mais de 20 anos de experiência em Gestão, Auditoria e Governança de TI, focado em Infraestrutura e Segurança da Informação, com atuação em empresas nacionais e multinacionais de grande porte e de referência nas áreas de Tecnologia da Informação e Cybersecurity, Varejo, Finanças e Logística.

Forte atuação em mapeamento e desenho de processos para elevar o nível de maturidade de Cyber segurança nos ambientes, experiência com gestão de projetos, contratos e orçamento de segurança da informação e governança de TI, sólida experiência em desenvolvimento de políticas, normas e procedimentos de segurança da informação, bem como no desenvolvimento de programa de conscientização de segurança da informação e reporte à diretoria executiva e vice-presidente, proporcionando resultados significativos e mensuráveis pelas áreas parceiras.

Responsável pela implementação de testes de segurança no desenvolvimento de produtos, implementação de diversos controles de segurança da informação, racionalização de investimentos em segurança da informação, adequação de processos e sistemas à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), desenvolvimento de iniciativas de Governança de TI, desenvolvimento de Plano estratégico (PDTI), criação de indicadores para monitoramento dos controles e medição dos resultados, além de atendimento a auditorias internas e externas de TI.

Liderança de colaboradores multidisciplinares diretos e indiretos, com foco no desenvolvimento de pessoas, criando uma equipe de alta performance para resolução de conflitos e gestão de crises.

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