Como a agilidade desafiaria a lógica do esgotamento?

‎Por Eduardo Marçal

Segundo Byung-Chul Han, vivemos na Sociedade do Cansaço. Nela, a exaustão não vem mais da exploração tradicional do trabalho, mas da auto-exploração. Antes, a figura do patrão supervisionava a produtividade. Agora, nós mesmos a fazemos. A produtividade se infiltra em tudo, até mesmo no lazer. Descansar gera culpa. O tempo ocioso virou um inimigo. Cada espaço precisa ser preenchido. Sempre.

Nesse cenário, somos instigados a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Aliamos multitasking à eficiência. E nos orgulhamos de estar constantemente ocupados. Só que, segundo Han, o multitasking não acrescenta nenhum valor evolutivo à espécie humana. É necessário a outros animais, em que o multitasking é obrigatório para proteger a prole, se alimentar e fugir de predadores.

Em muitos casos gera-se uma dispersão de energia que raramente agrega valor real. Isso se deve ao context switching: A cada vez que alternamos entre tarefas, há um “custo cognitivo”, já que o cérebro leva tempo para reorientar seu foco. No entanto, insistimos a planejar as atividades acreditando que a recuperação da atenção é espontânea. Não é. E tampouco é linear.
Curiosamente, os fundamentos da gestão ágil propõem exatamente o oposto do multitasking. Frameworks como Scrum e Kanban pregam a execução de tarefas com foco e prioridade, evitando a fragmentação do trabalho e diminuindo o WIP. Mais “acabativas”, menos novas iniciativas. Fazer melhor, não apenas mais rápido. Gerar valor, não apenas volume. Assim, é razoável dizer que a agilidade desafiaria a lógica de esgotamento? E poderia resgatar nossa relação mais saudável com o trabalho?

A solução passa por redesenhar a maneira como trabalhamos, como criamos produtos, processos e serviços. Minimizar o Context switching não é uma questão somente de produtividade. Muito menos um assunto reservado pra programadores, UX, produto, ou de gestão de tarefas. Mais do que nunca é uma questão de bem-estar e de retomarmos uma relação saudável com o trabalho.

Eduardo-A.-Marçal_1910

CONSELHEIR@

Eduardo Marçal

É formado em Engenharia de Produção pela UFSC com graduação sanduíche na University of Ulsan na Coreia do Sul. Tem experiência em projetos de transformação, atuando na América do Norte e América do Sul em energias renováveis, varejo, agronegócio e bens de consumo.

Atualmente, trabalha na Atlas Renewable Energy, liderando iniciativas de transformação a nível global, resolvendo desafios que emergem da interseção entre pessoas, processos e tecnologia.

Nas horas vagas, divide seu tempo entre leitura, escrita, contrabaixo e corrida de rua.

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