A transformação digital depende da cultura ou a cultura depende da transformação digital?

‎Por Márcio Di Pietro

Essa pergunta, à primeira vista, parece teórica. Mas, na prática, ela define o sucesso — ou o fracasso — de qualquer iniciativa digital nas empresas.

A transformação digital já não é mais uma escolha. É uma questão de sobrevivência. Mas o erro mais comum é pensar que basta adotar novas tecnologias e tudo se resolve.

Spoiler: não se resolve.

Sem cultura, tecnologia é só fachada. É como trocar os móveis da casa sem olhar os alicerces.

Vamos voltar ao início.

Por que a transformação digital se tornou essencial?

Porque a tecnologia está avançando mais rápido do que as empresas conseguem absorver. E isso não é exagero. Enquanto você lê este texto, a inteligência artificial está mudando o jogo — de novo. Estamos vivendo uma nova revolução tecnológica, como a da internet nos anos 90, mas em velocidade exponencial.

Oportunidades não faltam. Mas apenas quem estiver preparado vai conseguir transformar essas oportunidades em valor real.

E aqui entra o ponto-chave:

Transformação digital é mais do que tecnologia. É sobre como as empresas operam, tomam decisões e geram valor. É sobre agilidade, adaptação, autonomia. É sobre revisar processos, mudar a forma de trabalhar e dar mais espaço à inovação e ao aprendizado contínuo.

E isso só acontece com as pessoas certas. Com uma cultura que estimula colaboração, experimentação, melhoria constante. Empresas realmente inovadoras não são apaixonadas por soluções. São apaixonadas pelos problemas que precisam resolver.

Mas tem um problema.

Muita empresa ainda trata transformação digital como algo “do time de tecnologia”. E ignora o impacto profundo que isso tem sobre a forma como as pessoas trabalham, interagem e pensam.

Transformar digitalmente uma organização exige uma mudança de mentalidade. E mentalidade só muda em uma cultura aberta — onde há espaço para aprender, errar, testar e crescer.

E é aqui que tudo trava.

Culturas rígidas, hierárquicas, baseadas no medo e no controle… simplesmente não funcionam no mundo digital.

Iniciativas digitais precisam de segurança psicológica. De times que se sintam à vontade para propor ideias, experimentar e errar sem medo. Sem isso, a inovação morre antes de nascer.

Cultura organizacional é o sistema operacional da empresa.

Ela define os comportamentos aceitos, os valores praticados e o que é incentivado ou reprimido. Se ela não estiver alinhada com os princípios da transformação digital — agilidade, foco no cliente, transparência, adaptabilidade —, a tecnologia vira enfeite. Um investimento alto com retorno baixo.

E não é só teoria: uma pesquisa recente da McKinsey (final de 2024) mostra que 70% das iniciativas digitais fracassam. O principal motivo? Cultura.

Lideranças com mentalidade industrial — que valorizam previsibilidade, controle e comando — estão desconectadas da realidade digital, que exige velocidade, descentralização e confiança.

Essa desconexão cria um abismo. Difícil de atravessar.

O caminho? Começa com uma cultura de aprendizado constante. Porque o mundo muda. Rápido. E as habilidades de hoje podem não servir amanhã.

Empresas que entendem isso investem no desenvolvimento contínuo. Valorizam a curiosidade. Transformam erros em aprendizado. Reforçam a cultura como motor da evolução.

E quanto mais diverso o time, melhor.

Diversidade de perfis, ideias, vivências. Tudo isso fortalece o pensamento crítico, a criatividade e a capacidade de adaptação.

Empresas inclusivas são mais resilientes, mais inovadoras, mais humanas. Já as homogêneas? Tendem à repetição, à estagnação — e ao fracasso silencioso.

E no centro de tudo: as pessoas. Sempre.

Tecnologia, por si só, não engaja. Não transforma. Não inspira.

O que transforma são pessoas comprometidas, motivadas, conectadas por um propósito. E a cultura é o que sustenta isso.

O RH, aqui, é peça-chave. Precisa se reinventar. Ser mais estratégico. Mais orientado por dados. Mais conectado ao negócio. Ele precisa redesenhar a experiência das pessoas, desde o recrutamento até a liderança.

E falando nela…

A liderança é o espelho da cultura.

Líderes constroem — ou destroem — a transformação. Eles precisam abandonar o modelo comando-controle e adotar uma postura de exemplo, empatia e propósito.

O líder digital não é quem sabe todas as respostas. É quem cria as perguntas certas e dá espaço para que o time encontre as respostas.

As startups entenderam isso rápido.

Elas nasceram digitais. Já vêm com uma cultura baseada em agilidade, colaboração e foco no cliente.

Grandes corporações, por outro lado, precisam fazer um trabalho mais profundo. Revisar suas crenças. Reinterpretar seu legado. Reaprender a operar.

Porque a transformação — cultural e digital — não tem fim. É um ciclo. Um movimento contínuo de adaptação.

E cultura não se impõe por decreto.

Ela nasce do exemplo. Da prática. Das decisões difíceis. Da coerência entre o que se fala e o que se faz.

Se quiser saber quão madura digitalmente é uma empresa, olhe como ela reage ao erro. Se castiga, ainda vive no passado. Se aprende, está pronta para o futuro.

No fim, a pergunta certa não é: “Que tecnologia devemos adotar?”

É: “Qual cultura precisamos cultivar para que a tecnologia faça sentido?”

Porque só com cultura sólida, intencional e alinhada com o futuro… é que a transformação digital deixa de ser um projeto — e vira uma vantagem real.

Quando tecnologia e cultura andam juntas, o impacto é exponencial. Sustentável. Genuíno.

Marcio-Di-Pietro

CONSELHEIR@

Márcio Di Pietro

Atuo há mais de 20 anos na área de tecnologia e inovação, liderando projetos de transformação digital e desenvolvimento de produtos em empresas como TOTVS, Grupo Ri Happy, Avianca Brasil e LATAM Airlines. Minha experiência abrange desde a concepção até a implementação e a escalabilidade de soluções tecnológicas, buscando otimizar processos, garantir ROI e impulsionar os negócios. 

Nos últimos dez anos, estive profundamente envolvido em projetos de inovação e desenvolvimento de produtos, com um forte foco no varejo phygital (físico e online). Criei muitas coisas empolgantes e acredito que desenvolvi uma habilidade crucial: a capacidade de identificar excelentes oportunidades e gerar valor através da inovação. 

 

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