Criatividade e a Inocência da Descoberta

‎Por Márcio Di Pietro

O que é, de fato, ser criativo?

Em tempos em que a criatividade virou palavra de ordem — nos negócios, na educação, na vida — talvez valha voltar à pergunta essencial: o que é realmente ser criativo? Não no sentido publicitário ou no discurso corporativo, mas na raiz da coisa. Criatividade como força vital, como fome quase juvenil de entender o mundo, de dar forma ao inexplicável, de brincar com ideias como quem desmonta um brinquedo só pra ver como funciona.

A motivação por trás deste texto

Escrevo isso por estar, de verdade, me sentindo sufocado. Sufocado por um exército de ferramentas, frameworks, buzzwords sobre transformação, inovação, disrupção… e agora, pelo uso da IA para acelerar tudo.

Sim, tudo isso é válido. Mas parece haver uma corrida invisível: quem vai lançar o próximo agente? O próximo produto revolucionário? Todo mundo tentando fazer tudo ao mesmo tempo — agora. E, no meio dessa pressa, se perde o tempo da criação.

Criatividade precisa de fôlego. De espaço. De silêncio. Por mais que a tecnologia avance e novas técnicas surjam a todo momento, os princípios da criatividade continuam os mesmos: explorar, sentir, brincar, conectar o inesperado.

É tentador pular direto para a tecnologia da vez. Mas, antes disso, é preciso entender por que estamos criando. E para quem. Acredito, com esperança genuína, que ainda podemos resgatar esse olhar mais profundo, mais honesto, sobre como construímos grandes ideias e grandes produtos.

Uma frase que gosto é: “Devagar que estou com pressa”; ou como dizia Saramago: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. A sensação é que estamos fazendo o oposto. Estamos apressados e perdendo tempo por não respirar.

O espírito da descoberta

No domingo, assisti a um novo vídeo do Pedro Loos , do canal Ciência Todo Dia, sobre a Teoria da Relatividade. Sou apaixonado pelo tema. É como aquela música que você já ouviu um milhão de vezes, mas que, sempre que toca, você escuta até o fim.

O vídeo, como quase tudo que o Pedro faz, é sensacional — mas esse em especial me pegou em cheio. Fiz um paralelo entre o processo criativo de Albert Einstein e o momento que vivemos, que descrevi nos parágrafos anteriores.

Einstein, um dos maiores símbolos da genialidade criativa, não carregava uma postura austera ou sobrecarregada. Pelo contrário: era leve, curioso, quase infantil em seu encantamento com o universo. Uma vez disse que seu laboratório cabia numa caneta — e com ela escreveu ideias que mudaram a forma como compreendemos o tempo e o espaço.

Não era sobre recursos. Nem sobre ambientes inspiradores. Era sobre liberdade interior. Einstein não estava preso a dogmas, passados ou legados. Era livre, como um garoto descobrindo algo pela primeira vez. E isso mexeu muito comigo. A criatividade crua, simples, baseada em simplesmente explicar o inexplicável. Tentar o que ninguém tentou. Sem julgamentos. Sem medo de errar.

A rebeldia produtiva

Steve Jobs, em seu famoso discurso em Stanford, imortalizou a frase: “Stay hungry. Stay foolish.” Amo essa frase até hoje.

A essência do pensamento criativo está aí — na recusa em se acomodar, em parecer esperto demais, em seguir o caminho óbvio.

Ser tolo, nesse contexto, não é ser ingênuo. É estar aberto. É não se levar a sério demais a ponto de perder a leveza. É não ter medo de errar. É permitir-se explorar, testar e recomeçar, sabendo que os resultados podem mudar com o tempo.

A burocratização da criatividade

Criatividade se tornou um processo pesado e mensurável. A certeza sobre o objetivo elimina a descoberta genuína, e a pressa pelos resultados tira o prazer da jornada.

Enquanto alguns precisam de estruturas complexas e gurus, Einstein só precisava de uma caneta. Jobs, de um “não” na faculdade e da inquietação sobre por que as coisas não podem ser diferentes. Outros têm quase nada, exceto liberdade interior.

Repito: apaixone-se pelo problema, não pela solução.

IA é solução… Sim, talvez a mais fantástica e disruptiva de todos os tempos — mas ainda assim, é uma solução. Métodos de desenvolvimento de produtos são soluções. Customer Success, UX, frameworks — tudo super válido. Ferramentas poderosas para melhorar produtos, conquistar mercado, encantar clientes.

Desde que usadas com foco no problema. Com foco verdadeiro no problema, uma curiosidade juvenil criou a fórmula mais conhecida da história da humanidade. Pense nisso.

Imagino o que Einstein desenvolveria hoje tendo a IA como aliada.

Resgatar a inocência

Sou apaixonado por tecnologia. Super empolgado com os avanços da IA — foco máximo dos meus estudos e experiências. Mas achei importante escrever esse artigo. Primeiro, pra mim mesmo. Depois, entendi que pode ser a angústia de muita gente nesse momento.

A gente está esquecendo o que, de fato, significa criatividade.

Talvez o nosso desafio não seja aprender a ser criativo. Mas desaprender o que nos ensinaram sobre como criar.

Redescobrir a leveza. A curiosidade. A coragem de errar. A inocência de quem vai lá e faz. Porque, no fundo, a verdadeira inovação nasce assim: Sem o peso do mundo nas costas. Apenas com a liberdade de ir pra frente.

Marcio-Di-Pietro

CONSELHEIR@

Márcio Di Pietro

Atuo há mais de 20 anos na área de tecnologia e inovação, liderando projetos de transformação digital e desenvolvimento de produtos em empresas como TOTVS, Grupo Ri Happy, Avianca Brasil e LATAM Airlines. Minha experiência abrange desde a concepção até a implementação e a escalabilidade de soluções tecnológicas, buscando otimizar processos, garantir ROI e impulsionar os negócios. 

Nos últimos dez anos, estive profundamente envolvido em projetos de inovação e desenvolvimento de produtos, com um forte foco no varejo phygital (físico e online). Criei muitas coisas empolgantes e acredito que desenvolvi uma habilidade crucial: a capacidade de identificar excelentes oportunidades e gerar valor através da inovação. 

 

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