Lecionar vai muito além de transmitir conhecimento. Lecionar é um exercício contínuo de aprendizado, escuta e reinvenção. A sala de aula, seja física ou virtual, é um dos ambientes mais desafiadores e transformadores que existem, porque exige mais do que saber, exige sensibilidade, adaptação e propósito.
Nenhuma aula se repete. Mesmo quando o conteúdo é o mesmo, os alunos são diferentes, os contextos mudam, e a professora também já não é mais a mesma de ontem. Lecionar é uma atividade viva.
Podemos dizer que uma boa aula não é medida pela quantidade de informações transmitidas, mas pela transformação que provoca nos alunos e, inevitavelmente, também no professor. Ensinar é ter a humildade de reconhecer que a construção do saber é coletiva, e que o papel de quem leciona não é impor respostas, mas abrir caminhos para o pensamento crítico.
Lecionar é mais do que domínio técnico. É empatia, escuta ativa e adaptabilidade. Muitas vezes, um conceito complexo só se torna acessível quando encontra uma metáfora próxima da realidade do aluno. E, para isso, o professor precisa conhecer o mundo de quem está à sua frente, seus repertórios, suas referências e, sobretudo, suas angústias e curiosidades.
Ensinar é um ato de coragem: a coragem de se expor, de errar em público, de não ter todas as respostas e ainda assim estar ali, presente, comprometido com o processo de formação de outros seres humanos.
É criar espaços de reflexão num mundo que valoriza cada vez mais a velocidade e cada vez menos a escuta. É lembrar que formar alguém é tocar, mesmo que de forma invisível, o seu projeto de mundo.
Em tempos de transformações tecnológicas aceleradas, o papel do professor é diariamente colocado em xeque. Muitos se perguntaram se diante da inteligência artificial, das plataformas digitais e do acesso ilimitado à informação, ainda faria sentido o ato de ensinar. Mas a experiência tem mostrado que o conhecimento técnico pode até ser automatizado, mas o encantamento, o senso crítico, a escuta e a discussão são insubstituíveis.
A aula que transforma é aquela em que o aluno se sente visto, ouvido e desafiado. E esse ambiente não se constrói com slides prontos, constrói-se com presença.
Lecionar cansa, sim, mas também alimenta. Porque é nas pequenas conquistas diárias, nos olhares de compreensão, nas perguntas inesperadas e nos “agora entendi”, no fazer pontes entre teoria e prática, entre passado e futuro, entre indivíduo e sociedade.
A prática de lecionar também nos ensina sobre limites. Não conseguimos alcançar todos os alunos, não conseguimos resolver todos os problemas, e isso pode ser frustrante. Mas é importante lembrar que a educação é uma maratona, não uma corrida de cem metros. Cada passo conta, cada avanço é significativo, mesmo que pequeno. O impacto da docência nem sempre é imediato, mas é, muitas vezes, duradouro.
Muitos dizem que a docência é uma vocação. Outros defendem que é uma escolha. Talvez seja um pouco dos dois. E disposição para se reinventar constantemente.
A cada ciclo letivo, a cada nova turma, o professor recomeça. É um novo pacto de confiança, um novo exercício de mediação entre conhecimento e realidade, entre conteúdo e subjetividade.
Quem leciona sabe: não se sai de uma aula o mesmo de quando se entrou. Porque ao ensinar, também nos deixamos ensinar.