Não é novidade que iniciativas cross departamentais são essenciais para inovação, eficiência e resolução de problemas complexos. Mas o que poucos percebem é que a colaboração real exige uma engenharia silenciosa — feita de sutilezas, acordos tácitos e habilidades de relacionamento que quase nunca são ensinadas formalmente.
Iniciativas travam nos detalhes. Nos não ditos. Nos ruídos.
Na ausência de intenção clara. Nos bloqueios e padrões comportamentais, por exemplo, que uma cultura de aversão ao conflito reforça: Preferimos o atalho silencioso à conversa difícil. Muitas vezes, o que separa uma colaboração fluida de uma travada não está nos processos, mas nos comportamentos invisíveis que os moldam.
Após anos trabalhando com iniciativas cross-functional, reuni 5 pontos que costumam ser decisivos para o sucesso (ou fracasso) da colaboração entre áreas:
1. Falta de clareza no envolvimento
Evitar envolver certas áreas no tempo certo é comum — normalmente porque sabemos que vão “travar” o fluxo: revisar demais, questionar riscos, exigir profundidade onde se busca agilidade. Funcionam como “áreas-alfândega.
Isso muitas vezes acontece por falta de clareza no pedido a estas áreas: O que se espera, com que profundidade e até quando. Em culturas que evitam confrontos, essa comunicação direta é vista como “impositiva” e acaba sendo evitada. O resultado é um processo mais rápido, porém mais frágil. E, pior: basta uma experiência negativa para o bypass virar hábito — nesta sutileza, ele se institucionaliza.
2. O ghosting institucional
Áreas que aceitam participar e depois somem: não respondem, não se posicionam ou avisam “tarde demais” que não têm capacidade. Isso cria ruído, quebra confiança e afasta futuras interações. Muitas vezes, esse sumiço é visto como sobrecarga — mas, na prática, é falta de transparência. Dizer “não consigo agora” é mais colaborativo do que desaparecer. Quando ninguém fala e ninguém cobra, reforça-se um ciclo de desconexão silenciosa.
3. Participar de tudo nem sempre é colaborar
Algumas áreas se incomodam por não serem chamadas para tudo, mas nem sempre sua presença agrega. A pergunta certa não é “por que não me chamaram?”, mas “em que ponto eu realmente agrego valor?”. Há contribuições que vêm ao sair do caminho, não ao entrar na sala. O FOMO organizacional é real — e mais prejudicial do que parece. Colaborar é também saber onde não fazer parte.
4. Aprovação disfarçada de colaboração
Envolver muitos stakeholders parece colaboração, mas frequentemente é só medo de assumir decisões. Cada pessoa consultada pode aumentar o tempo de resposta — sem necessariamente agregar valor. Muitas vezes, essa busca por validação de muitos stakeholders esconde insegurança ou desejo de diluir responsabilidade. Colaboração real pressupõe confiança no julgamento — e agilidade no fluxo.
5. Envolvimento por protocolo não é colaborar
Copiar várias pessoas em e-mails, fazer reuniões sem clareza de papel ou envolver áreas só “por via das dúvidas” pode não significar colaboração — mas gerar ruído. Informar por informar gera barulho e confusão. “Te informo porque o que sai daqui impacta teu processo depois”. Colaborar com intenção significa alinhar papel, objetivo e contribuição. Menos vaidade, mais impacto.
Colaborar de verdade é ter clareza de papéis, agir com intenção e considerar o momento e a relevância de cada contribuição. É na atenção aos detalhes invisíveis que a colaboração se sustenta e ganha consistência.