Como a IoT pode transformar causas sociais e ambientais em ações concretas?

‎Por Gustavo Morais

A internet das coisas, ou simplesmente IoT, deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma ferramenta poderosa na resolução de problemas reais que afetam diretamente comunidades vulneráveis e ecossistemas em risco. Seu uso vai muito além da automação industrial ou da comodidade doméstica; quando bem aplicada, a IoT se revela uma aliada indispensável em projetos de impacto social e ambiental, principalmente em regiões carentes de infraestrutura tecnológica. O grande diferencial da IoT está na capacidade de conectar o mundo físico ao digital, gerando informações acionáveis em tempo real, permitindo que decisões antes intuitivas se tornem precisas, eficientes e sustentáveis. Baseadas em dados.

O Brasil, com sua diversidade geográfica e socioeconômica, representa um terreno fértil para essas soluções. Regiões com histórico de escassez hídrica, como o semiárido nordestino, encontram na IoT meios de melhorar a distribuição e o uso da água, elemento vital para a subsistência de milhões. Com sensores em reservatórios e conectividade via 5G ou satélite, é possível prever com exatidão quando uma cisterna precisará ser reabastecida, priorizando os locais mais críticos e otimizando rotas logísticas de caminhões-pipa. Isso não apenas economiza recursos, como também garante transparência e uma vida mais digna  de populações historicamente desassistidas.

Em áreas urbanas periféricas, a IoT pode monitorar a qualidade do ar, a poluição sonora e até o acúmulo de resíduos em locais estratégicos, oferecendo dados em tempo real para as prefeituras atuarem antes que os problemas se agravem. Por meio de sensores de baixo custo e plataformas open source, é possível integrar comunidades à rede de monitoramento, estimulando a cidadania digital e o senso de pertencimento. A população deixa de ser apenas objeto de políticas públicas para se tornar sujeito ativo na construção de cidades mais sustentáveis.

Projetos de agricultura urbana e permacultura em favelas também se beneficiam com a automação proporcionada por dispositivos IoT. A rega controlada por sensores de umidade, a medição da acidez do solo e o controle de temperatura são hoje práticas viáveis com investimentos acessíveis. Ao democratizar a tecnologia, criam-se pontes entre inovação e inclusão, fortalecendo redes locais de produção de alimentos e promovendo a segurança alimentar em comunidades que sofrem com a escassez de recursos.

Em escolas públicas de regiões isoladas, o uso de sensores ambientais pode monitorar a iluminação, ventilação e temperatura das salas de aula, promovendo ambientes mais adequados à aprendizagem. A energia solar, cada vez mais presente nos projetos IoT, garante a autonomia desses dispositivos, evitando dependência de redes elétricas instáveis. A combinação entre sustentabilidade e conectividade cria uma infraestrutura resiliente, capaz de operar mesmo em cenários de crise ou desastres naturais.

Em áreas de preservação ambiental, drones equipados com sensores IoT realizam o monitoramento remoto da fauna, detectando mudanças de comportamento, deslocamentos atípicos ou focos de incêndio. Os dados são transmitidos para centrais de controle que, por meio de inteligência artificial, conseguem agir de maneira preventiva. Assim, a IoT torna-se aliada na luta contra o desmatamento ilegal e no controle de queimadas, especialmente na Amazônia e no Pantanal, onde o acesso físico às áreas de risco é limitado.

A coleta seletiva inteligente é outro exemplo de como a IoT impacta positivamente o meio ambiente. Lixeiras com sensores de volume informam, em tempo real, a necessidade de esvaziamento, reduzindo o tempo ocioso dos caminhões de coleta e evitando o transbordamento em locais públicos. Em algumas cidades, esse tipo de sistema já foi associado a plataformas de incentivo que oferecem bônus a moradores que separam corretamente os resíduos. Esse engajamento transforma o cidadão em coautor de políticas ambientais.

Em comunidades ribeirinhas ou quilombolas, a tecnologia pode parecer, à primeira vista, uma realidade distante. No entanto, projetos piloto com dispositivos de baixo consumo e energia solar mostram que é possível conectar até mesmo os locais mais remotos a redes de informação. A instalação de sensores em fontes de água naturais, por exemplo, ajuda a detectar contaminações antes que afetem toda a comunidade, permitindo ações sanitárias imediatas.

A telemedicina, impulsionada pela pandemia, também pode ser estendida por meio da IoT em regiões sem acesso a hospitais. Sensores vestíveis monitoram a saúde de idosos e pessoas com doenças crônicas, enviando alertas automáticos em caso de anomalias. Em locais onde a presença física de médicos é inviável, essas informações podem salvar vidas, reforçando a saúde preventiva e a eficiência no uso dos recursos públicos.

No campo da educação ambiental, escolas e ONGs têm utilizado a IoT como ferramenta pedagógica. Alunos monitoram, por exemplo, o crescimento de plantas em hortas escolares com sensores de umidade e luminosidade, aprendendo na prática conceitos de sustentabilidade, ciência e cidadania. Essa abordagem interdisciplinar fortalece o vínculo entre tecnologia e responsabilidade socioambiental desde a base da formação educacional.

A redução do desperdício de energia também é favorecida pela automação inteligente. Sensores instalados em prédios públicos identificam padrões de uso e desligam automaticamente luzes e equipamentos em horários ociosos. Esse tipo de eficiência operacional reduz o custo para os cofres públicos e reforça o compromisso ambiental do setor governamental, que serve como exemplo para a iniciativa privada.

A rastreabilidade de alimentos e produtos artesanais também é ampliada com o uso de etiquetas inteligentes. Em cooperativas de pequenos produtores, a IoT permite registrar cada etapa da cadeia produtiva, garantindo origem, práticas sustentáveis e qualidade. Isso agrega valor ao produto final e fortalece economias locais, ao mesmo tempo em que responde à crescente demanda dos consumidores por transparência.

A mobilidade urbana, um dos grandes desafios das cidades, pode se beneficiar de sensores de tráfego instalados em pontos críticos. Com os dados certos, semáforos adaptativos e sistemas de transporte público inteligentes são capazes de diminuir o tempo de espera, reduzir a emissão de poluentes e melhorar a experiência do cidadão no deslocamento diário. A IoT deixa de ser invisível e passa a ser sentida no cotidiano da população.

Mesmo em situações de emergência climática, a IoT pode fazer a diferença. Sistemas de alerta antecipado para enchentes ou deslizamentos de terra utilizam sensores de solo e pluviômetros conectados à rede. Em regiões sujeitas a eventos extremos, como o litoral brasileiro durante o verão, esses sistemas salvam vidas e otimizam as ações de defesa civil. Prever é sempre melhor que remediar, e nesse sentido, a IoT mostra seu verdadeiro potencial.

O conceito de “cidades inteligentes” só será completo se for também inclusivo. De nada adianta investir em sensores de tráfego em bairros nobres se comunidades inteiras ainda enfrentam problemas básicos de saneamento. Por isso, o olhar social na aplicação da IoT é essencial para equilibrar desenvolvimento e justiça social. Projetos que integram gestores públicos, universidades, empresas de tecnologia e sociedade civil têm mais chances de sucesso e continuidade.

A escalabilidade dos projetos de IoT é outro ponto crucial. Não basta criar protótipos eficazes se eles não puderem ser reproduzidos em larga escala. A escolha de componentes acessíveis, o uso de software livre e a capacitação de técnicos locais são elementos-chave para garantir que soluções sociais e ambientais se tornem políticas públicas duradouras. A replicabilidade é a ponte entre o laboratório e a transformação real.

O papel das universidades e centros de pesquisa é fundamental na criação dessas soluções. A interdisciplinaridade entre engenheiros, biólogos, sociólogos e gestores públicos dá origem a propostas mais completas e conectadas com a realidade. A IoT, quando pensada de forma coletiva, amplia horizontes e rompe com o paradigma da exclusão digital, promovendo a inclusão inteligente.

Empresas também têm uma responsabilidade crescente nesse contexto. Programas de ESG que incluem iniciativas de IoT com impacto social ganham destaque no mercado e atraem investidores preocupados com retorno financeiro e impacto positivo. A inovação, portanto, passa a ser medida não apenas por eficiência, mas também por contribuição concreta para o planeta e as pessoas.

Ao fim, a IoT representa mais do que uma revolução tecnológica: é uma nova forma de olhar o mundo, onde sensores, dados e conectividade se colocam a serviço do bem comum. Quando aliada à empatia, à ética e ao propósito, a tecnologia torna-se ferramenta de transformação genuína. O futuro da IoT não está apenas nos dispositivos que conectamos, mas nas vidas que conseguimos melhorar com eles.

Gustavo-Morais

CONSELHEIR@

Gustavo Morais

Sou um profissional apaixonado por tecnologia e inovação, com uma trajetória consolidada na área de serviços ao consumidor. Atualmente, atuo como Chief Digital Officer (CDO) na AeC, onde lidero iniciativas estratégicas de transformação digital e otimização de processos, sempre com foco em resultados e melhoria contínua.

Minha experiência inclui posições de destaque como Board Member na Live University, CTO na SmartBank e diversos outros papéis de liderança. Tenho uma sólida formação acadêmica, com um Mestrado em andamento no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), um MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e graduação pela Universidade Federal de Pernambuco.

Possuo habilidades robustas em transformação digital, computação em nuvem, metodologias ágeis, estratégia empresarial e cartões de crédito. Sou um entusiasta da inovação e acredito que a colaboração e a troca de conhecimentos são fundamentais para o crescimento profissional e pessoal.

Estou sempre aberto a novas conexões e oportunidades que possam agregar valor e expandir meus horizontes.

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