O ESG vai acabar? Entenda o futuro dessa agenda corporativa

‎Por Alexandre Lima

Nos últimos anos, a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) ganhou destaque globalmente, impulsionada por pressões regulatórias, exigências dos investidores e uma crescente consciência dos consumidores. No entanto, à medida que o conceito se torna mais difundido, também surgem críticas e questionamentos sobre sua eficácia e continuidade. Afinal, o ESG vai acabar? Ou estamos apenas testemunhando uma evolução desse conceito?

A ascensão e as críticas ao ESG

A adoção do ESG por grandes corporações veio acompanhada de incentivos financeiros, como maior acesso a investimentos sustentáveis e melhora na reputação das empresas. Contudo, nem todos enxergam essa agenda como um movimento positivo. Alguns críticos alegam que o ESG se tornou mais um modismo corporativo, com empresas adotando práticas superficiais sem um impacto real – um fenômeno conhecido como “greenwashing”.

Além disso, setores mais tradicionais da economia argumentam que as exigências do ESG podem aumentar custos operacionais e burocráticos, impactando a rentabilidade das empresas. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas gestões estaduais retiraram investimentos de fundos ESG, alegando que esses critérios não devem interferir nas decisões econômicas. O mesmo tem ocorrido com fundos de investimentos focados em negócios de impacto/ESG.

Além disso, o Financial News London destacou que as receitas de fundos ESG na Europa mostraram um crescimento mínimo em 2024, indicando uma desaceleração significativa em relação aos anos anteriores. Preocupações com greenwashing e uma reação negativa contra investimentos ESG, especialmente nos EUA, contribuíram para essa estagnação.

ESG como estratégia de gestão de riscos

Apesar das críticas, o ESG tem se consolidado como uma estratégia de mitigação de riscos. Empresas que incorporam boas práticas ambientais e sociais tendem a estar mais preparadas para enfrentar crises climáticas, escassez de recursos e pressões regulatórias. No aspecto de governança, a transparência e o compliance reduzem riscos de fraudes e processos judiciais.

Estudos da McKinsey indicam que empresas com fortes iniciativas ESG apresentam menor volatilidade financeira e são mais resilientes em tempos de crise. Investidores também estão mais atentos aos riscos socioambientais, exigindo relatórios detalhados e comprovação de impactos reais.

O ESG está mudando, não desaparecendo

O que estamos vendo não é o fim do ESG, mas uma evolução de como ele é aplicado e medido. Reguladores em diversos países estão criando diretrizes mais rígidas para garantir que as empresas realmente implementem práticas sustentáveis, evitando o marketing enganoso.

Por exemplo, a União Europeia estabeleceu a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), que obriga empresas a apresentarem dados concretos sobre suas iniciativas ESG. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também tem avançado na regulamentação da divulgação de informações ESG.

A última edição do estudo International Business Report (IBR) apresenta um aumento recorde de 80% nas intenções de investimento das companhias de médio porte brasileiras em ações voltadas para boas práticas de environmental, social and governance (ESG), o maior desde o começo do levantamento, em janeiro de 2024.

Segundo o relatório trimestral conduzido pela Grant Thornton, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, e realizado com 4 mil empresários de 31 países, o dado representa um crescimento de 2 p.p. em relação ao último período, acima das médias global, 60% e da América Latina, 62%.

Outra tendência é o aumento das parcerias empresariais para resolverem, conjuntamente, desafios complexos, com a descarbonização de determinado setor da economia. Petrobras e Vale, por exemplo, desenvolveram um mecanismo de investimento conjunto para reduzir suas emissões, ao longo da cadeia de produção.

Tendências para o futuro do ESG

  • Maior regulação e transparência: As empresas serão cada vez mais cobradas por dados auditáveis sobre suas práticas ambientais, sociais e de governança.
  • Foco na materialidade: O ESG está migrando para um modelo mais alinhado à materialidade, ou seja, concentrando-se nos aspectos que realmente impactam os resultados financeiros e operacionais da empresa.
  • Integração com tecnologia: A utilização de IA, blockchain e outras ferramentas digitais ajudará a monitorar e garantir a autenticidade das iniciativas ESG.
  • Valoração de empresas sustentáveis: Investidores continuarão buscando negócios alinhados a critérios ESG, pois estes têm demonstrado maior resiliência e valorização no longo prazo.

O ESG não está acabando, mas sim se transformando. O futuro aponta para uma abordagem mais robusta, baseada em evidências e menos sujeita a narrativas vazias. Empresas que enxergarem essa evolução como uma oportunidade de crescimento e diferenciação tendem a prosperar em um mercado cada vez mais exigente e consciente. Assim, longe de ser um conceito passageiro, o ESG deve continuar evoluindo e influenciando decisões empresariais nos próximos anos.

Alexandre-Lima_1910

CONSELHEIR@

Alexandre Lima

Pai do Martim e marido da Re.

Conselheiro da Rede Líderes, executivo e professor de ESG. 

Atualmente, gerente de ESG no Jeitto e já atuou na implementação de iniciativas de impacto socioambiental em organizações.

No iFood, criou a área de ESG e já esteve em áreas de sustentabilidade em indústrias e no terceiro setor. 

É mentor voluntário da YCL (Youth Climate Leaders) e do INOVA 2030, do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.

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