Como a conscientização pode transformar a cultura de segurança da informação e privacidade de dados nas empresas?

‎Por Roberto Toscani

Em um cenário onde dados são um dos ativos mais valiosos de qualquer organização, a segurança da informação deixou de ser uma responsabilidade apenas da área de tecnologia. Hoje, trata-se de um compromisso coletivo, que começa com a conscientização e se consolida como parte fundamental da cultura organizacional. A eficácia de políticas e ferramentas de proteção depende, antes de tudo, do comportamento humano. Por isso, investir em programas contínuos de conscientização é mais do que uma medida preventiva, é uma estratégia de sustentação e competitividade no longo prazo.

O fator humano continua sendo o elo mais vulnerável da cadeia de segurança. Campanhas de phishing, engenharia social e ataques direcionados exploram comportamentos previsíveis e descuidos comuns. E-mails maliciosos, links suspeitos, senhas fracas ou compartilhamento inadvertido de informações sensíveis ainda são as portas mais utilizadas pelos invasores. Nesse contexto, não basta instalar firewalls ou adotar soluções de criptografia: é preciso educar as pessoas para reconhecerem e evitarem riscos.

Conscientização, nesse sentido, vai além de treinamentos pontuais ou ações esporádicas. Trata-se de um processo contínuo de aprendizado e engajamento, que integra o tema da segurança ao cotidiano dos colaboradores. Empresas que conseguem incorporar essas práticas ao seu DNA criam um ambiente mais resiliente, onde cada indivíduo se sente responsável pela proteção dos dados, próprios e da organização.

A construção dessa cultura começa pelo exemplo das lideranças. Quando executivos demonstram, na prática, a importância da segurança e da privacidade, essa mensagem ganha legitimidade. Se os líderes ignoram orientações básicas ou tratam o tema com desdém, dificilmente o restante da equipe irá se engajar. A mudança cultural requer alinhamento entre discurso e prática, desde o topo até a base da organização.

Outro aspecto importante é a personalização das ações de conscientização. Campanhas genéricas tendem a perder efetividade. É preciso adaptar as mensagens ao perfil dos colaboradores, aos riscos específicos da empresa e ao grau de maturidade digital de cada área. Utilizar exemplos reais, simulações práticas e linguagens acessíveis torna o aprendizado mais relevante e aplicável.

Além disso, é fundamental que os conteúdos sejam atualizados constantemente. As ameaças evoluem rapidamente e novas técnicas de ataque surgem a cada dia. Programas de conscientização precisam acompanhar esse dinamismo, trazendo casos recentes, estatísticas atualizadas e boas práticas contemporâneas. Isso mantém o tema vivo e reforça a percepção de risco real.

A gamificação tem sido uma estratégia eficaz nesse sentido. Transformar treinamentos em jogos, desafios ou competições amigáveis aumenta o engajamento e facilita a assimilação do conteúdo. Quando os colaboradores aprendem de forma leve, interativa e recompensadora, a retenção do conhecimento é significativamente maior.

Outro ponto relevante é a criação de canais seguros para reporte de incidentes e dúvidas. Muitas vezes, colaboradores hesitam em comunicar comportamentos suspeitos por medo de punição ou constrangimento. Estimular uma cultura de reporte transparente e sem julgamentos fortalece a capacidade de resposta da empresa e mostra que a segurança é responsabilidade compartilhada.

A inclusão da segurança da informação e privacidade no onboarding de novos colaboradores é também uma prática essencial. Desde o primeiro dia, o funcionário precisa entender quais são as expectativas, os cuidados e os comportamentos esperados. Isso evita a criação de lacunas de conhecimento e estabelece uma base sólida de entendimento sobre o tema.

As políticas internas devem ser claras, acessíveis e conhecidas por todos. Regras complexas, escritas em linguagem jurídica ou técnica demais, tendem a ser ignoradas ou mal interpretadas. O ideal é que os documentos estejam disponíveis em formato didático, com exemplos práticos, FAQs e fluxos visuais, que facilitem sua consulta e aplicação no dia a dia.

A conscientização também precisa ser medida. É fundamental monitorar indicadores como taxa de participação em treinamentos, número de incidentes reportados, eficácia de simulações de phishing e adesão a boas práticas. Esses dados ajudam a identificar lacunas, ajustar estratégias e demonstrar o impacto das ações para a alta liderança.

Vale lembrar que a LGPD e outras legislações globais de privacidade reforçam ainda mais a urgência de se criar uma cultura robusta de proteção de dados. O não cumprimento das exigências legais pode acarretar multas, sanções e danos reputacionais irreparáveis. Mas, mais do que cumprir obrigações, trata-se de respeitar a confiança de clientes, parceiros e colaboradores.

Empresas que tratam a segurança como diferencial competitivo se destacam no mercado. A confiança digital virou moeda valiosa. Organizações que demonstram maturidade e comprometimento com a privacidade conquistam mais clientes, atraem melhores talentos e fortalecem sua reputação institucional. Nesse cenário, a conscientização não é um custo, mas um investimento estratégico.

A transformação cultural também exige continuidade. Uma campanha bem feita em um mês não substitui a necessidade de reforço constante. Assim como cultura de inovação, ética ou excelência, a cultura de segurança precisa ser alimentada diariamente, por meio de ações pequenas e consistentes. Cartazes, newsletters, workshops, quizzes, vídeos curtos, tudo isso contribui para manter o tema em evidência.

O envolvimento das áreas de comunicação interna e recursos humanos é fundamental nesse processo. São esses times que conhecem os canais, as linguagens e os momentos certos para disseminar mensagens. Trabalhar de forma integrada entre TI, jurídico, RH, operações e comunicação garante uma abordagem mais eficiente e abrangente.

A inclusão da segurança da informação e privacidade como critério de avaliação de desempenho também pode ser uma forma de reforçar o compromisso. Quando as pessoas percebem que seu comportamento digital impacta suas metas e reconhecimento, a adesão às boas práticas tende a crescer. Claro, isso deve ser feito com equilíbrio, sempre com foco educativo e não punitivo.

Com o avanço da digitalização e o crescimento das ameaças cibernéticas, a proteção dos dados se tornou um tema transversal e crítico. Não há sistema ou ferramenta que substitua o bom senso e a atenção dos usuários. Por isso, a conscientização é, hoje, o principal pilar para garantir a eficácia de qualquer estratégia de segurança da informação e privacidade.

Transformar comportamento não é simples, mas é possível. E quando a conscientização é bem trabalhada, ela muda como os colaboradores enxergam a segurança, não mais como obrigação, mas como parte natural do seu trabalho e da responsabilidade coletiva de proteger o que é mais valioso para a organização.

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Roberto Toscani

Executivo de empresa em tecnologia com proficiência em planejamento estratégico, governança e conformidade, segurança da informação e privacidade, gestão de riscos, sendo que nos 15 últimos voltados para Segurança da Informação e Privacidade em empresas de grande porte.

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