Quais informações são realmente indispensáveis para uma boa gestão de negócios?

‎Por Bruno Rissi

Em um ambiente corporativo cada vez mais competitivo e imprevisível, a qualidade da informação que chega até os gestores pode ser o diferencial entre o sucesso e a estagnação de uma empresa. A tomada de decisão precisa estar alicerçada em dados concretos, atualizados e contextualizados, capazes de oferecer uma visão clara das operações, do mercado e do comportamento do consumidor. No entanto, ainda é comum observar líderes que se baseiam em impressões, suposições ou em indicadores isolados para direcionar estratégias, o que pode gerar decisões desconectadas da realidade e ineficazes a longo prazo.

Informações relevantes para a gestão do negócio são aquelas que dialogam diretamente com os objetivos estratégicos da organização. Elas devem permitir a antecipação de riscos, a identificação de oportunidades e a avaliação do desempenho em tempo real. Para isso, é fundamental que os dados sejam coletados de forma estruturada e estejam alinhados com a realidade do mercado em que a empresa atua. A simples coleta de dados não garante valor se não houver um processo de análise que transforme esses números em insights práticos e acionáveis.

A governança da informação é um aspecto crítico nesse cenário. Não basta ter acesso aos dados; é necessário garantir a confiabilidade, a integridade e a segurança dessas informações ao longo de toda a cadeia de decisão. Empresas que investem em sistemas de BI (Business Intelligence), painéis de controle bem definidos e metodologias de análise conseguem navegar com mais segurança, pois conseguem enxergar padrões, prever comportamentos e ajustar rotas com agilidade. Essas práticas são cada vez mais exigidas por conselhos e investidores, que esperam relatórios claros, completos e auditáveis.

Além disso, é necessário considerar a relevância temporal das informações. Dados atrasados ou desatualizados perdem valor e podem induzir a erros. É por isso que a fluidez da informação é tão importante: ela deve circular de forma rápida e organizada por todos os níveis da organização. Quanto mais ágil for esse fluxo, maiores as chances de a empresa responder rapidamente às mudanças do ambiente externo, sejam elas tecnológicas, econômicas ou comportamentais. E nesse ponto, a cultura organizacional precisa favorecer a transparência e o compartilhamento de informações entre departamentos.

Outro aspecto fundamental é a diferenciação entre dados operacionais e dados estratégicos. Embora ambos sejam importantes, os dados estratégicos fornecem uma visão mais ampla e de longo prazo, enquanto os operacionais estão ligados à rotina e ao funcionamento diário. Saber separar o que é ruído do que é relevante exige maturidade analítica e processos de curadoria que priorizem o que realmente impacta os resultados. Um excesso de informações irrelevantes pode gerar o fenômeno da “paralisia por análise”, onde o excesso de dados impede a tomada de decisão.

As informações financeiras, por exemplo, sempre foram o núcleo da gestão de qualquer empresa. Mas, isoladas, elas não bastam. É necessário complementá-las com dados de mercado, indicadores de satisfação do cliente, performance logística, produtividade dos times, tendências tecnológicas e até variáveis macroeconômicas. Essa visão 360 graus é o que permite ao gestor antecipar cenários e manter a empresa em rota de crescimento sustentável, mesmo diante das turbulências.

Com o avanço da transformação digital, o volume de dados disponíveis se multiplicou de maneira exponencial. Isso gerou um novo desafio: a capacidade de filtragem e interpretação. Ferramentas como IA, machine learning e analytics passaram a ser aliadas indispensáveis para cruzar grandes volumes de dados e revelar padrões invisíveis ao olhar humano. Empresas que dominam essas tecnologias têm uma vantagem competitiva considerável, pois conseguem tomar decisões baseadas em previsibilidade e não apenas em reatividade.

Contudo, mesmo com tecnologia de ponta, o fator humano ainda é insubstituível na análise crítica das informações. É preciso que os líderes estejam preparados para interpretar os dados à luz do contexto, combinando conhecimento técnico com sensibilidade estratégica. Por isso, programas de formação contínua, capacitação analítica e desenvolvimento de soft skills se tornaram tão relevantes quanto os investimentos em sistemas e ferramentas.

É importante também não negligenciar as informações oriundas do ecossistema externo. Parcerias, concorrência, mudanças regulatórias e o comportamento do consumidor são fontes riquíssimas de dados que precisam ser incorporadas à inteligência do negócio. Muitas vezes, os sinais de mudança vêm de fora antes de se manifestarem internamente. Estar atento a essas variáveis pode ser decisivo para evitar disrupções e identificar novas oportunidades de posicionamento.

Empresas orientadas por dados relevantes tendem a ser mais inovadoras, pois conseguem mapear tendências com mais precisão e agir com velocidade. A inovação, nesse sentido, não é fruto do acaso, mas do alinhamento entre informação, análise e execução. Quando todos os times da empresa operam com base em indicadores claros e acessíveis, o potencial criativo aumenta, pois há mais segurança para testar hipóteses, corrigir erros rapidamente e escalar soluções que funcionam.

A área de marketing, por exemplo, deixou de ser guiada por intuição e passou a operar fortemente com base em dados de comportamento, segmentação e performance de campanhas. O mesmo vale para recursos humanos, que hoje utilizam people analytics para entender melhor seus talentos, prever riscos de turnover e desenhar planos de desenvolvimento personalizados. Esse movimento se repete em toda a estrutura organizacional, promovendo uma gestão mais integrada e inteligente.

Informações também são o elo entre a empresa e seus stakeholders. Investidores, clientes e parceiros esperam transparência, clareza e coerência nas decisões e nos resultados. Um bom sistema de informações ajuda a construir reputação, reduzir riscos reputacionais e gerar confiança. Por outro lado, a ausência de dados confiáveis pode comprometer a imagem da organização e gerar dúvidas sobre sua capacidade de execução.

Na prática, a construção de uma cultura orientada por informações começa com a liderança. Quando os líderes valorizam a análise crítica, cobram indicadores de desempenho com consistência e incentivam a troca de dados entre os times, a empresa tende a evoluir mais rápido. Por isso, a gestão da informação deve ser tratada como um ativo estratégico e não apenas como uma função operacional.

O papel da tecnologia é, portanto, facilitar esse processo, mas não substituí-lo. Plataformas robustas, dashboards em tempo real, sistemas integrados e automações inteligentes são ferramentas que viabilizam a gestão da informação. Mas o valor só é entregue quando há uma governança sólida e pessoas preparadas para extrair o melhor de cada dado disponível. Nesse ponto, a união entre TI, dados e estratégia se torna indispensável.

Empresas que investem em dados, mas não definem métricas claras ou não alinham seus KPIs com o plano estratégico, correm o risco de gerar relatórios bonitos, mas ineficazes. A informação precisa estar a serviço de uma narrativa de valor, que conte a evolução da empresa, seus aprendizados e seus diferenciais competitivos. Caso contrário, transforma-se em burocracia digital.

Além da estrutura interna, é preciso estar atento às regulamentações relacionadas ao uso de dados. A LGPD no Brasil e outras legislações globais exigem não apenas transparência, mas responsabilidade sobre o uso das informações. Isso demanda políticas claras, compliance e educação interna sobre boas práticas de segurança da informação. Informação relevante também é informação ética e protegida.

Por fim, não há modelo único. Cada organização precisa definir quais são as informações críticas para sua operação e seus objetivos. A clareza sobre o que medir, por que medir e como reagir a esses dados é o que transforma informação em ação. A maturidade da gestão está diretamente relacionada à maturidade da informação.

Gestores que compreendem o valor de uma informação bem tratada passam a ver dados não como números frios, mas como uma linguagem que revela os sinais do presente e as possibilidades do futuro. Nesse cenário, o sucesso de um negócio não depende apenas do que se sabe, mas do que se escolhe monitorar, interpretar e agir com inteligência. Informação relevante não é luxo, é condição básica para crescer, adaptar-se e liderar.

Bruno-Rissi

CONSELHEIR@

Bruno Rissi

Iniciei minha carreira em 2015 na 4Partners Auditores, que posteriormente se tornou representante da Baker Tilly no Brasil. Durante minha trajetória na auditoria, atuei em diversos setores, incluindo academias, concessionárias, seguradoras, corretoras e fundos de investimento. Além disso, participei de projetos de due diligence para fusões, aquisições e IPOs.

Como Sênior e, posteriormente, Supervisor, liderei a implantação da metodologia Global Focus e do sistema Caseware, utilizados globalmente pela Baker Tilly, para todos os escritórios do Brasil. Fui responsável por ministrar treinamentos e desenvolver os papers da implementação, garantindo alinhamento metodológico e eficiência nos processos da empresa.

Em junho de 2021, entrei para o Flow Podcast, um projeto que sempre admirei, como CFO interino. Em janeiro de 2022, fui efetivado como CFO. Durante minha gestão, realizamos toda a estruturação empresarial e societária da companhia, que posteriormente se transformou no Grupo Flow, consolidando-se como um ecossistema de mídia.

Ao longo desse processo, participei de todas as etapas de desenvolvimento empresarial: da criação de controles básicos à implementação de um ERP robusto, com soluções tecnológicas customizadas para nosso modelo de negócio. Enfrentamos também a crise gerada pelo maior cancelamento da internet, o que exigiu uma reestruturação completa do negócio. Esse período desafiador resultou na consolidação do Grupo Flow como um ecossistema de mídia, abrangendo produtoras de conteúdo, agência de publicidade, plataforma de tecnologia e outras. Após minha passagem como executivo do grupo, conquistei a posição de membro do conselho e sócio, onde sigo contribuindo em decisões estratégicas.

Atualmente, assumi um novo desafio como CFO da WEGA Marine, empresa consolidada no mercado de shipchandler, onde aplico minha experiência em estruturação tecnológica, controles e governança para impulsionar seu crescimento e fortalecimento.

LinkedIn
Twitter
Facebook
WhatsApp
Email

Quem também está com a gente

Empresas, Startups, Centros de Pesquisa e Investidores