A evolução do CFO: como o guardião dos números se tornou o parceiro estratégico do negócio?

‎Por Julio Maia

Durante décadas, o papel do CFO foi associado quase exclusivamente à confiabilidade dos números, ao cumprimento de obrigações contábeis e à gestão rigorosa dos custos. Esse profissional era visto como o guardião das finanças, alguém cuja principal função era garantir que os balanços estivessem corretos, os relatórios entregues no prazo e os gastos sob controle. Esse papel, embora essencial, colocava a liderança financeira em uma posição mais reativa do que propositiva. Assim como tivemos mudanças significativas nas áreas de negócio e tecnologia, para as finanças não foi diferente. Os líderes financeiros identificaram a necessidade de evoluir nesta atual jornada, e precisam estar fortemente alinhados com a estratégia do negócio, geração de caixa sustentável e de longo prazo, e por fim, mas não menos importante, pensar nos trade-offs a cerca das alocações de recursos em prol do ecossistema que o insere.

Essa evolução reflete a própria transformação das empresas em direção a modelos mais dinâmicos, digitais e orientados por dados. Hoje, espera-se que o executivo financeiro vá muito além da análise de desempenho. Ele deve atuar como um conselheiro estratégico, contribuindo ativamente na definição dos rumos da empresa, antecipando cenários, avaliando riscos e oportunidades, em especial a mercados emergentes que sofrem de modo mais severo com as volatilidades, e apoiando decisões críticas de investimento, expansão e transformação digital. A mudança não é apenas de escopo, mas de mentalidade. O novo perfil exige pensar como um empreendedor, como sócio e parceiro do negócio.

O avanço da tecnologia também desempenhou um papel decisivo nessa transformação. A automação de processos contábeis e a digitalização dos controles internos liberaram tempo para a liderança atuar de forma mais analítica e consultiva. Ferramentas de analytics, business intelligence e inteligência artificial passaram a fornecer dados em tempo real, permitindo simulações de cenários, testes de hipóteses e decisões mais precisas. Isso reposiciona a área financeira como uma verdadeira alavanca de competitividade.

Nesse novo contexto, é indispensável o domínio técnico, mas também uma visão ampliada sobre o negócio, entender de esteira de produto, jornada do cliente e como as tecnologias de nuvem impactam diretamente nos negócios voltados para dados. É esse líder quem traduz os impactos financeiros de decisões estratégicas como fusões e aquisições, entrada em novos mercados, lançamento de produtos e mudanças no modelo de receita.

A pandemia de Covid-19 acelerou esse processo. Durante a crise, muitos executivos financeiros assumiram protagonismo ao liderar planos de contingência, renegociação de dívidas, revisão de orçamentos e realocação de recursos. A capacidade de reagir com agilidade, replanejar com base em novos cenários e preservar a liquidez mostrou o valor de quem atua de forma integrada à estratégia. A partir dali, poucas empresas voltaram a enxergar essa posição como puramente operacional.

O novo líder de finanças também precisa entender profundamente o cliente. Isso pode parecer, à primeira vista, uma atribuição típica do marketing ou do comercial. No entanto, em empresas orientadas por dados, o comportamento do consumidor impacta diretamente nas projeções de receita, precificação dinâmica, estratégias de retenção e elasticidade de margem. Ao incorporar o olhar de fora para dentro, contribui para decisões mais acertadas e alinhadas com a realidade de mercado.

Outro aspecto fundamental está relacionado à governança. Com o aumento das exigências regulatórias, dos padrões de ESG e das expectativas de investidores, o responsável pelas finanças passou a ser peça-chave na construção de uma empresa mais transparente, ética e responsável. Participa da definição de métricas não financeiras, acompanha os impactos ambientais e sociais das operações e assegura que o desempenho econômico esteja alinhado aos compromissos públicos da organização. O financeiro não é mais só sobre números; é sobre confiança, reputação e legitimidade, um autêntico papel empreendedor.

A comunicação também ganhou outra dimensão. Hoje, é preciso dialogar com conselhos de administração, investidores, analistas de mercado e outros stakeholders com clareza, precisão e segurança. Esse líder se tornou uma das vozes mais influentes da alta gestão, sendo constantemente demandado a explicar decisões, justificar resultados e apontar caminhos. Isso exige uma forte combinação, um mix entre habilidade narrativa e conhecimento técnico, sabendo trazer contexto além dos números.

A liderança de times financeiros também mudou. Espera-se, hoje, a formação de equipes com mindset analítico, domínio de ferramentas digitais e capacidade de atuar de forma consultiva junto às outras áreas. O perfil do profissional da área evoluiu, e é papel do líder atrair, desenvolver e reter talentos que consigam operar em alta complexidade e contribuir para uma visão mais integrada da empresa.

A colaboração entre áreas se tornou um pilar. O papel exige atuação não apenas ao lado do CEO, assim como toda camada C-Level da companhia, na busca de soluções diante de situações que até ontem eram interpretadas como objeções. Este atual perfil de liderança financeira possui uma mentalidade integradora, conectando os pontos, transformando dados fragmentados, e desenhando estratégias até à execução.

O conceito de performance também foi ressignificado. A gestão atual não olha apenas para o lucro, mas para a eficiência operacional, o uso responsável de capital, o retorno sobre ativos e o impacto no longo prazo. Entende-se que o sucesso da empresa está diretamente ligado à sua capacidade de gerar valor sustentável para todos os stakeholders como: cliente, fornecedores, pessoas e o acionista. 

O perfil do futuro será, cada vez mais, o de orquestrador de valor. É preciso entender profundamente o modelo de negócio, a jornada do cliente, as dinâmicas de mercado e os fatores de risco. O papel agora é garantir que a empresa esteja preparada financeiramente para executar sua visão estratégica e, ao mesmo tempo, identificar oportunidades que possam acelerar esse caminho. Não se trata apenas de proteger o caixa, mas de usar os recursos de forma inteligente para crescer com responsabilidade.

Júlio-Maia

CONSELHEIR@

Julio Maia

Olá, me chamo Julio Maia, Baiano e natural de Salvador. Formado em engenharia mecânica, e apaixonado por finanças, tive passagens em segmentos como: Automotivo, Alimento e Bebidas, Consultoria, e atualmente em tecnologia. Durante esta jornada tive a oportunidade de atuar em áreas com ênfase em FP&A, M&A, Controle e Gestão, Pricing. Lidero atualmente a área financeira e revenue dentro da unidade de negócio focada em software para transportador.

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