Como as empresas podem atrair e desenvolver os melhores talentos em cibersegurança?

‎Por Evandi Silva

O desafio de formar e reter profissionais de cibersegurança está entre os mais urgentes enfrentados pelas organizações no cenário digital atual. A crescente sofisticação dos ataques e a expansão dos ambientes tecnológicos elevaram a demanda por especialistas ao ponto de superar, em larga escala, a oferta disponível no mercado. Essa escassez não se resolve apenas com salários atrativos; exige uma abordagem estratégica que começa muito antes da contratação e continua muito depois da integração.

Atrair talentos em cibersegurança começa com um posicionamento claro de propósito. Profissionais dessa área, muitas vezes motivados por causas, buscam empresas que demonstrem um compromisso genuíno com a proteção de dados, a ética digital e a inovação contínua. Quando uma organização comunica claramente seu papel na construção de um ecossistema digital seguro, ela se torna magnética para talentos que desejam fazer a diferença com seu trabalho.

Outro ponto crítico é a cultura de valorização técnica. Em muitos ambientes corporativos, profissionais de cibersegurança ainda enfrentam resistência ou subvalorização por parte de áreas que não compreendem a complexidade do seu trabalho. Atrair bons profissionais exige um ambiente em que o conhecimento técnico seja reconhecido, respeitado e ouvido nas decisões estratégicas.

A qualificação dos profissionais, por sua vez, não deve ser tratada como um item do checklist de contratação. Bons talentos em cibersegurança têm perfis diversos: alguns vêm da engenharia, outros da análise de risco, alguns são autodidatas que começaram como entusiastas. As empresas que olham além do diploma e valorizam competências práticas e pensamento crítico conseguem formar times mais diversos e eficazes.

A forma como o processo seletivo é conduzido também interfere diretamente na atração de talentos. Processos excessivamente burocráticos ou testes padronizados podem afastar perfis altamente criativos e analíticos, que muitas vezes não se encaixam nos modelos tradicionais de avaliação. Avaliações técnicas contextualizadas, entrevistas conduzidas por especialistas da área e espaço para apresentar projetos reais são elementos que agregam valor ao processo.

Além disso, a relação com a comunidade técnica é estratégica. Empresas que apoiam eventos, promovem hackathons, patrocinam conferências ou incentivam a participação ativa de seus times em fóruns e comunidades open source conseguem maior visibilidade e atraem perfis altamente conectados com a evolução da área.

O desenvolvimento desses profissionais após a contratação é igualmente decisivo. Cibersegurança é uma disciplina dinâmica, em que o conhecimento se renova com frequência. Um bom programa de capacitação deve ir além de cursos e certificações, oferecendo tempo para estudo, incentivos à pesquisa aplicada e suporte para testes em ambientes controlados.

Mentoria é outro elemento-chave. Profissionais juniores que têm acesso a líderes técnicos engajados, com tempo e método para orientar, conseguem evoluir mais rápido e com menos erros. Criar uma cultura em que o compartilhamento de conhecimento seja parte do cotidiano é mais eficiente do que programas isolados de desenvolvimento.

A retenção de talentos em cibersegurança depende, ainda, de autonomia e propósito. Delegar responsabilidades reais, permitir a atuação direta na tomada de decisões e mostrar claramente o impacto do trabalho de cada pessoa na proteção da organização são práticas que elevam o engajamento e a permanência no time.

Do ponto de vista da liderança, é fundamental entender que o talento técnico não floresce sob microgestão ou ambientes de baixa confiança. Times de cibersegurança precisam de espaço para explorar soluções, testar hipóteses e reagir rapidamente a incidentes. Isso exige uma gestão orientada a resultados, mas com compreensão do ciclo de aprendizado técnico.

Outro aspecto que ganha força na atração de talentos é a diversidade. Perfis diferentes trazem visões complementares e aumentam a capacidade de prever, detectar e responder a ameaças. Empresas que constroem ambientes inclusivos não apenas cumprem seu papel social, mas ganham em performance técnica.

O uso de tecnologia de ponta também é um fator de atração. Profissionais de segurança querem trabalhar com ferramentas modernas, ter acesso a ambientes em nuvem, utilizar IA aplicada à defesa digital e participar da construção de soluções robustas. Oferecer esses recursos não é luxo, mas um investimento que retorna em forma de inovação e retenção.

Programas de rotação entre áreas e exposição a projetos estratégicos ajudam na formação de profissionais mais completos. Permitir que um analista de segurança atue também com time de produto, participe de auditorias ou contribua na governança de dados amplia a visão sistêmica e reforça a importância da segurança como um elemento transversal no negócio.

A relação com o erro também precisa ser revista. Em cibersegurança, aprendemos com falhas, incidentes e simulações. Organizações que punem o erro técnico ou escondem vulnerabilidades acabam minando a confiança da equipe. Incentivar uma cultura de aprendizado contínuo, com autocrítica construtiva e melhoria constante, é uma forma de manter os melhores profissionais engajados.

Além disso, oferecer caminhos claros de crescimento é fundamental. Muitos profissionais deixam empresas porque não enxergam possibilidades de evolução. Estruturar trilhas de carreira técnicas, com reconhecimento de níveis de maturidade e desafios crescentes, permite que talentos se desenvolvam sem precisar migrar para funções gerenciais para ganhar relevância.

A clareza de propósito também precisa ser reforçada nos momentos de crise. Profissionais de segurança muitas vezes atuam sob pressão, lidando com incidentes de alto impacto. O suporte da liderança, o reconhecimento do esforço e a transparência nas decisões fazem toda a diferença na hora de manter a equipe coesa e motivada.

Em termos de branding empregador, as empresas que melhor atraem talentos em cibersegurança são aquelas que mostram, de forma consistente, que segurança é prioridade. Isso se traduz em comunicação clara, investimento em estrutura e valorização da área nos relatórios e estratégias corporativas.

Por fim, é preciso lembrar que bons profissionais de segurança têm opções. Estão entre os perfis mais disputados do mercado. Para atrair e manter esses talentos, as empresas devem deixar de tratá-los como recursos e começar a vê-los como parceiros estratégicos no enfrentamento dos riscos do século XXI. Segurança não é um apêndice de TI; é o pilar invisível da confiança digital.

Evandi-Silva

CONSELHEIR@

Evandi Silva

Com mais de 18 anos de experiência em Cibersegurança e Segurança da informação, iniciei minha jornada na área técnica com implantação de tecnologias de segurança e arquitetura de controles, operação de tecnologias, desenho de políticas e modelos para incorporação do Security by Design/By Default, Modelagem de ameaças, testes de penetração e segurança para Cloud e esteiras de desenvolvimento de softwares.

Como liderança em Cibersegurança tive a oportunidade de desenvolver estruturas desde sua concepção para cenários de baixa maturidade de segurança com entrega e execução do plano diretor de segurança e planejamento estratégico de curto e longo prazo.

Também tive o desafio de lidar com a cibersegurança de ambientes complexos e regulamentados do mercado de telecomunicações, varejo, datacenter e financeiro com a entrega de processos e gerenciamento de resposta a incidentes, CSIRT, modelos de proteção contra malwares e continuidade de negócios.

Hoje estou como o líder de Cibersegurança do Banco Digio e sou responsável por liderar todas as frentes de segurança, desde a camada de acessos, concepção de projetos , resposta a incidentes, operação de segurança, iniciativas Devsecops, privacidade , cloud security e alinhamento do planejamento estratégico com a alta gestão.

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