Lançar um MVP ou produto em beta é, por definição, um ato de vulnerabilidade. O produto ainda não está pronto, os recursos são limitados e tudo está sujeito a mudanças rápidas. No entanto, é justamente nesse estágio inicial que a comunicação deve ser mais precisa, transparente e envolvente. O primeiro contato com os usuários define o tom da relação e pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma iniciativa que continua se moldando. Criar engajamento desde o início não é apenas possível, é uma necessidade estratégica.
O grande erro de muitas startups e times de produto é tratar o MVP como uma versão “envergonhada” daquilo que está por vir. Essa abordagem, silenciosa e sem clareza, tende a afastar os “early adopters”, aqueles tão importantes primeiros usuários. No lugar de gerar curiosidade e pertencimento, cria-se a sensação de um produto instável, sem rumo. Por isso, comunicar um MVP exige clareza de propósito: por que esse produto existe? Que problema ele já resolve agora? E qual é o caminho visível de evolução que ele seguirá?
A narrativa precisa ser construída com honestidade, sem promessas inalcançáveis, mas com uma visão clara de onde se quer chegar. Essa visão, quando bem comunicada, convida os usuários a fazerem parte do processo. É nesse ponto que o engajamento nasce: na sensação de cocriação e pertencimento. O usuário precisa entender que sua participação ativa é bem-vinda, valorizada e que suas opiniões influenciam os próximos passos.
O tom da comunicação, portanto, deve equilibrar entusiasmo com humildade. É necessário demonstrar segurança na proposta, sem esconder as limitações temporárias. Expressões como “estamos aprendendo com você”, “esta versão é só o começo” ou “nos diga o que achou para nos ajudar a evoluir” são poderosas porque reforçam o papel ativo do usuário como parte da experiência.
Outro fator decisivo para engajamento é a escolha dos canais de comunicação. Em vez de investir em ações amplas e genéricas, é mais efetivo apostar em comunidades pequenas e qualificadas. Identificar os primeiros cem usuários certos pode valer mais do que dez mil cadastros dispersos. Comunicar-se com esses usuários diretamente, via e-mail, grupos fechados ou plataformas de comunidade, permite construir um relacionamento próximo e contínuo.
As mensagens devem ser curtas, frequentes e acionáveis. Nada de campanhas institucionais com linguagem neutra e impessoal. MVPs exigem uma voz humana, próxima e transparente. Contar o que está funcionando, o que ainda falta melhorar e o que segue, cria uma sensação de acompanhamento real, quase como um diário de bordo compartilhado entre o time e os usuários.
Mais do que informar, a comunicação nesse estágio deve inspirar. O usuário que embarca em um beta não está buscando uma solução perfeita, mas sim a chance de experimentar algo novo antes dos outros. Isso precisa ser valorizado. Usar expressões como “você está entre os primeiros a testar” ou “acesso prioritário às novidades” ajuda a reforçar o senso de exclusividade.
Além disso, oferecer pequenos reconhecimentos a esses primeiros usuários é uma estratégia poderosa. Seja um selo digital de beta tester, um desconto futuro ou simplesmente o agradecimento público por suas contribuições. Esses gestos criam vínculos duradouros. O usuário sente que faz parte da história do produto e não apenas que o está consumindo.
É importante também mostrar o impacto real das contribuições recebidas. Quando uma sugestão de um usuário é implementada, comunicar isso com clareza reforça a sensação de colaboração. Mensagens como “essa nova funcionalidade nasceu de uma sugestão enviada por nossos primeiros usuários” são altamente eficazes para consolidar confiança e fidelidade.
A comunicação deve ser dinâmica e adaptável. Conforme o produto evolui, a forma de falar sobre ele também precisa mudar. Não faz sentido usar o mesmo discurso da primeira semana após dois ou três ciclos de aprendizado. O time deve estar atento ao que os usuários estão dizendo – e, também, ao que não estão dizendo. Silêncios também comunicam e muitas vezes revelam desinteresse ou confusão.
Nesse sentido, métricas qualitativas e quantitativas precisam caminhar juntas. Monitorar aberturas de e-mails, respostas, NPS, mas também observar o tom das mensagens recebidas, as dúvidas recorrentes e os elogios espontâneos. Cada ponto de contato é uma chance de ajustar a rota da comunicação para gerar mais conexão.
O papel do fundador ou líder do time de produto também é central nesse momento. Quando essas lideranças se expõem e se comunicam diretamente com os usuários, criam pontes emocionais. Vídeos curtos, cartas abertas ou lives de acompanhamento são formas acessíveis e autênticas de estreitar esse relacionamento.
A consistência também é essencial. Não adianta criar uma campanha linda no lançamento e depois desaparecer. Manter uma cadência de atualizações, mesmo que breves, mantém o canal de diálogo aberto. É preferível enviar um e-mail curto com uma pequena novidade do que passar semanas em silêncio aguardando grandes anúncios.
Outro aspecto pouco explorado, mas bastante eficaz, é o storytelling de bastidor. Mostrar o time trabalhando, os rascunhos de telas, as dificuldades enfrentadas na construção do produto…Tudo isso aproxima. Em um mundo saturado por promessas de perfeição, a vulnerabilidade comunica a verdade.
É fundamental lembrar que engajamento não se compra, se conquista. E ele nasce quando as pessoas sentem que têm voz, que são ouvidas e que fazem parte de algo maior. No contexto de MVPs e betas, essa sensação é ainda mais forte, pois tudo está em construção, inclusive a comunidade de usuários.
Comunicar bem nesse estágio é mais do que informar: é criar uma cultura de escuta ativa, de valorização das opiniões e de experimentação constante. Produtos bem-sucedidos são aqueles que começam a ganhar defensores antes mesmo de estarem prontos.
Por fim, a comunicação inicial de um MVP não pode ser apenas sobre o produto. Ela precisa ser sobre o propósito, sobre a visão e sobre a jornada que está sendo construída. O produto é o meio, mas o que engaja é o sentido. E quem entende isso desde o começo constrói mais do que um bom produto, mas uma comunidade sólida e leal em torno dele.