Como desenvolver uma estratégia para diferenciar seu produto no mercado?

junho, 2024‎ ‎ ‎ |

‎Por Cadu Cunha

Ao iniciar uma discussão sobre o lançamento de um novo produto ou desenvolver uma nova feature há sempre o desafio de priorização, seja por falta de recursos ou excesso de demandas, e a dúvida se aquele é o momento ideal para que tal desenvolvimento seja realizado. Como em toda empresa, o desafio de otimizar os seus recursos – nesse contexto, o time de engenharia – em um ambiente de alto dinamismo e competição, requer com que os líderes de produtos maximizem cada vez mais o valor gerado para o negócio e o usuário. No entanto, o processo de aumentar o impacto do lançamento de uma feature/produto (output) precisa estar ligado ao impacto que vai trazer para o negócio (outcome) no longo prazo. É aí que entra a importância de ter clareza de qual é a estratégia do seu produto.

A estratégia de produto nada mais é do que o seu plano de como ganhar em um determinado mercado. A estratégia vai te dar o caminho a ser percorrido ao longo de um período, incluindo o que deve ser feito e, tão importante quanto, o que não será feito.

Dwight D. Eisenhower, general e presidente dos Estados Unidos, dizia que “em uma batalha os planos são inúteis, mas o planejamento é indispensável”. Partir do princípio de uma estratégia de produto é crucial para aumentar as chances de um produto de sucesso.

Direto ao ponto, bora discutir: 1- Por que sua empresa precisa de uma estratégia de produtos e 2- Como criar a sua.

Por que criar a sua Estratégia de Produto?

  • Visão: A estratégia de produto vai deixar claro qual é o caminho a ser perseguido pelo time e, mais importante, para onde ele está indo. Na máxima, o time de produtos deveria conseguir responder a seguinte pergunta: “como o mundo vai ser caso o time consiga executar essa estratégia?”. Essa é uma ferramenta poderosa para deixar explícito o impacto esperado no futuro pelo produto no portfólio da empresa;

  • Foco: Como um bom “produteiro”, o que mais chega na sua caixa de mensagens ou são I -pedidos de novas features e II – questionamentos sobre prazos de lançamento. Com uma estratégia de produtos bem definida e alinhada com a liderança, você consegue focar nas coisas que realmente importam. Os pedidos não vão deixar de chegar, mas dizer “não” vai ser mais fácil;

  • Trade-offs: uma estratégia clara de produto vai te ajudar no processo de tomada de decisão. Ao longo do ciclo de vida do produto, decisões complexas precisam ser tomadas. Se você tem um objetivo cravado, se ancorar nele vai te auxiliar a tomar as decisões corretas de forma mais rápida e prática;

  • Impacto: A estratégia ajuda o time a otimizar para um impacto no negócio, auxiliando-o a focar no que precisa ser otimizado para alcançar o sucesso planejado.

Elementos de uma Estratégia de Produto

De forma prática, acredito que esses são os elementos indispensáveis de uma estratégia de produto. Não existe apenas uma forma de se fazer uma estratégia, no entanto não trate essa lista como exaustiva. Adicione os elementos que fazem sentido no seu contexto.

  1. Defina qual é o objetivo do seu produto: Como mencionamos acima, é importante entender qual é o impacto esperado pelo seu produto. Inclusive, produtos podem ter objetivos diferentes. Há produtos que tem o objetivo de aumentar a receita da empresa, outros para aumentar a frequência de uso/engajamento, outro para crescer a base de clientes e por aí vai. Defina qual é o objetivo do seu produto e qual é o impacto esperado por ele. O output desse exercício deveria ser uma métrica “North star”, a qual você irá otimizar ao longo do ciclo de vida do produto.

  2. Defina o Segmento de Clientes: tratar todos os clientes como iguais já deveria ser um erro grave nesse estágio. Busque entender qual é o seu Perfil de Cliente Ideal (ICP), ou seja, aquele segmento de cliente que vai amar o seu produto e querer contar para todo mundo sobre ele. O processo para descobrir esse segmento pode utilizar diversas abordagens de cruzamentos de dados – demográfica, socioeconômica, comportamental etc. O importante nesse momento é entender que esse é o público para o qual o seu produto será otimizado. Não quer dizer também que outros tipos de clientes não possam utilizá-lo, mas não será o público principal do seu produto.

  3. Entenda com profundidade quais são as dores e as necessidades do seu ICP: como mencionado acima, segmentos de clientes não são iguais, portanto, eles possuem dores diferentes e resolvem elas de formas distintas. Esse é o momento que você vai conhecer o seu cliente a fundo – fazer pesquisas, criar e validar hipóteses etc. Não deixe de entender também como essas dores são resolvidas hoje. O importante é não ficar na superficialidade da dor, mas entender sua raiz e começar a pensar como o seu produto pode resolvê-lo de uma forma radicalmente diferente de como é resolvido hoje.

  4. Fatores externos de mercado: avalie as tendências – comportamentais do usuário, tecnológicas etc. – que o mercado vai passar ao longo dos próximos anos. Entenda as dinâmicas regulatórias (leis, normativas etc.) que estão em andamento e como isso afetará o mercado daqui em diante. A estratégia de produto não é algo para agora, mas para os anos que estão por vir. Sendo assim, seu produto precisa ser desenvolvido olhando para um futuro próximo, não no contexto atual de mercado.

  5. Diferenciais da Empresa: entenda como você pode alavancar seus diferenciais competitivos para acelerar o sucesso do seu produto. Independente de qual ele seja (distribuição, vantagem em custo, qualidade do atendimento, plataforma tecnológica, entre outros), entenda como utilizá-lo para potencializar ainda mais a proposta de valor do seu produto.

Ao final, esse exercício deverá trazer para o seu time: I – uma visão de longo prazo do produto, II – uma descrição clara do que precisa ser feito para chegar nessa visão, ou seja, suas respectivas fases e o que significa sucesso em cada uma delas, III – as hipóteses a serem validadas durante o percurso e IV – os riscos da estratégia e seus possíveis mitigadores.

Com a clareza do plano, agora é só executar. Apesar de aparentar ser um processo simples, temos alguns pontos de atenção nessa etapa:

  • Não comunicar exaustivamente: a estratégia de produto e a visão de longo prazo é um combustível para o time continuar focado no que realmente importa e motivado para chegar lá. Sendo assim, comunique de forma exaustiva sua estratégia – apresente em rituais do time, faça o “recap” no all-hands da empresa etc.

  • Tornar-se uma fábrica de features: como mencionado acima, o output da estratégia é um plano de ação de como chegar no objetivo final. Como falamos aqui, focar no output (entregar uma feature) e não no outcome (impacto para o negócio/usuário), pode tornar sua estratégia em um roadmap pré-estabelecido e imutável. Evite essa situação ao tornar esse processo o mais flexível possível: dívida sua estratégia em milestones, defina métricas de sucesso e objetivos claros para cada um deles, reaja aos aprendizados ao longo do caminho e adapte-se aos novos inputs (vide último ponto!).

  • Valor gerado para o usuário vs negócio: cuidado para não ir para os extremos – ou você só resolve a dor do cliente sem pensar no negócio, ou só beneficia o negócio e não gera valor para o usuário final. A beleza (e desafio) da estratégia de produtos é que ela tem que gerar valor para os dois lados – cliente final e negócio. Cada empresa tem o seu momento e sua estratégia de crescimento, mas evite entrar no cenário de “tiro no pé”. Casos como, “o usuário paga menos taxa, mas você tem um produto de margem negativa”, é o pior dos cenários para encontrar. Ache o “sweet spot” entre valor para o usuário e valor para o negócio e garanta um lifetime value positivo ao longo do tempo.

  • Estratégias futuristas: prever o futuro não rola nem com bola de cristal. Estratégias futuristas e não executáveis não são o melhor caminho. Tente olhar sua estratégia para os próximos 3 anos de produto. Muito menos do que isso você vai otimizar para o curto prazo. Mais do que isso é lidar com um nível de incerteza muito alto. Aliás, não confunda essa estratégia com a da empresa – é comum a empresa ter um plano com horizonte maior de tempo, mas a do produto em si precisa ser mais flexível e corrigida com maior frequência.

  • Estratégia engessada: não se prenda ao documento da estratégia – ao longo do caminho você vai validar hipóteses, aprender coisas novas sobre o usuário, receber novos inputs de uso do produto. A estratégia não é escrita em pedra, mas sim um direcional para onde o time está indo. O caminho é flexível, logo, aproveite a jornada (e se adapte) ao longo dela.

Desenvolver uma estratégia de produto é a melhor ferramenta para ajudar você a construir um produto competitivo no longo prazo. Não é um processo linear e sua execução não é simples. No entanto, ela será o Norte e o combustível para manter o seu time engajado e potencializar o impacto dele.

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CONSELHEIR@

Carlos Eduardo Cunha

Head de Produtos, Nubank.

Carreira desenvolvida no mercado de Fintechs nas áreas de Produtos, Estratégia, Marketing de Produto e Novos Negócios. Atuo hoje como líder de produtos no Nubank.

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