Como integrar gerações para melhorar a inovação corporativa?

novembro, 2024‎ ‎ ‎ |

‎Por Mauro Wainstock

Em um mundo corporativo cada vez mais complexo, dinâmico e competitivo, as empresas buscam por diferenciais que possam impulsionar seu crescimento e longevidade. A troca agregadora entre diferentes faixas etárias no ambiente de trabalho, impulsionada pelo envelhecimento populacional, é uma oportunidade poderosa para impulsionar a inovação. Pela primeira vez na história, temos quatro gerações trabalhando lado a lado: Baby Boomers, Geração X, Millennials (Geração Y), Geração Z e, em breve, a Geração Alfa. Cada uma delas traz posturas, habilidades e experiências únicas que, se integradas de forma produtiva e harmônica, podem resultar em resultados mais criativos e lucrativos.

Para líderes de tecnologia e empresários, entender e fomentar este movimento pode gerar insights valiosos para a inovação, maior engajamento de talentos, fortalecimento da cultura organizacional e, consequentemente, a redução do turnover.

Uma das principais vantagens desta ação é a riqueza de insights que traz para a resolução de problemas. Segundo o relatório “Diversity Matters” da McKinsey, empresas que investem no pilar étnico em suas equipes executivas são 36% mais propensas a superar seus concorrentes em rentabilidade. E o impacto do gênero também é notável: aquelas com alta diversidade de mulheres em posições de liderança têm 15% mais chances de superar a média do setor.

Esses estudos indicam que a pluralidade propicia mais assertividade na tomada de decisões e amplia a satisfação dos funcionários, levando a um ciclo virtuoso crescente.

Cada geração tem uma forma diferente de encarar os desafios. Enquanto os Baby Boomers tendem a valorizar a experiência e a estabilidade, a Geração X costuma ser mais pragmática e orientada para resultados. Já os Millennials são conhecidos por sua adaptabilidade e afinidade com tecnologia, enquanto a Geração Z traz um forte senso de justiça social e uma visão global.

Isto na teoria. Na prática, estamos falando em misturar pessoas que vão muito além de caixas estereotipadas ou rótulos, mas devem ser valorizados pela forma com que analisam e enfrentam os desafios.

Ao reunir diferentes perspectivas, e promover um ambiente interseccional respeitoso e construtivo, as empresas conseguem abordar as questões de múltiplas formas e chegar a soluções diferenciadas, a descobertas mais criativas e a estratégias verdadeiramente disruptivas, essenciais em um ambiente corporativo em constante transformação.

Exemplo prático

Imagine uma empresa de tecnologia que está buscando desenvolver um novo produto. Ao incluir colaboradores de diferentes gerações no processo de brainstorming e prototipagem, ela pode combinar o conhecimento técnico dos Millennials e da Geração Z com a experiência dos Baby Boomers e a visão prática da Geração X. Essa diversidade de perspectivas amplia significativamente a probabilidade de encontrar soluções mais adequadas e disruptivas.

Mentoria e aprendizado contínuo

Cerca de 70% das empresas listadas na “Fortune 500” possuem programas de mentorias. Mas o termo “mentoria reversa”, geralmente associado a mentores mais velhos, deve ser substituído por “mentoria bilateral”, destacando a valiosa troca de conhecimentos entre ambos os participantes.

Nessa abordagem, colaboradores mais jovens compartilham seus conhecimentos sobre novas tecnologias, tendências digitais e comportamentos de consumo com os profissionais mais experientes que, por sua vez, transmitem a sabedoria de uma jornada profissional e de vida conquistada ao longo de vários anos, criando, desta forma, um movimento de aprendizado que valoriza os participantes e beneficia toda a organização.

A mentoria encurta distâncias, seja qual for o objetivo. Estudos da StartSe mostram que a mentoria é uma ferramenta eficaz para capacitar líderes, preparar empresas para novas demandas tecnológicas e fortalecer a cultura organizacional.

E vou além: muitas destas organizações têm buscado esta opção para transformar os colaboradores em “solucionadores”, trazendo ideias personalizadas para a empresa; para aprimorar as tão valorizadas soft skills dos mentorados e aprofundar questões muito debatidas no mundo corporativo, como a diversidade, a inclusão e o alto índice de turnover, além do fortalecimento da marca empregadora.

“Retenção” de talentos nem pensar. Engajar sim!

A palavra “reter” está defasada, pois remete a “aprisionar”… Engajar talentos representa um grande desafio, principalmente em um cenário de alta rotatividade de jovens profissionais. Uma estratégia de integração geracional bem-sucedida é fundamental para trazer mais satisfação e reduzir essa rotatividade.

Quando os colaboradores sentem que suas habilidades são agregadoras e que podem aprender uns com os outros, independentemente da idade, eles tendem a se sentir mais conectados à empresa e motivados para o trabalho, o que também foi comprovado pela pesquisa da McKinsey. Além disso, um estudo da MDI revela que funcionários que se sentem parte de uma cultura inclusiva têm 18 vezes mais chances de permanecer na empresa a longo prazo. Outras fontes, como a Loeb Leadership, confirmam que a diversidade e inclusão geram um ambiente de trabalho positivo, o que influencia diretamente na permanência e na satisfação dos colaboradores.

A presença de profissionais mais experientes pode oferecer maturidade e orientação aos mais jovens, enquanto a energia e a inovação dos novos colaboradores servem como impulso para o entusiasmo dos mais antigos, criando um ciclo de trocas contínuas que fortalecem a equipe.

Fortalecimento da cultura organizacional

A integração geracional contribui para o fortalecimento da cultura da organização. Ao promover a inclusão de diferentes faixas etárias, as empresas demonstram seu compromisso genuíno com a diversidade e o respeito às diversas formas de pensar e trabalhar. Essa abordagem melhora o ambiente de trabalho e estimula um sentimento coletivo de pertencimento.

Ao adotar uma cultura que valoriza a integração real e enriquecedora entre as gerações, as empresas podem construir um ambiente de trabalho onde a colaboração, a empatia e a inovação se tornam pilares essenciais.

Casos de sucesso

Empresas como IBM e General Electric têm investido ativamente em programas para unir diferentes faixas etárias, criando iniciativas de inclusão e promovendo o respeito mútuo entre as diferentes faixas etárias. Elas relatam uma melhora significativa no clima organizacional e no engajamento dos talentos, reforçando a importância de uma cultura corporativa que valorize a diversidade.

Adaptação ao futuro do trabalho

O mercado está em constante transformação e ter a capacidade de responder de forma ágil às mudanças é crucial para a sobrevivência e o crescimento das empresas. A integração geracional prepara as organizações para o futuro do trabalho, oferecendo a flexibilidade necessária para responder às novas demandas.

A empresa deve levar em consideração anseios de cada uma das gerações e buscar um ponto de equilíbrio que permita adaptar políticas e práticas de trabalho para um futuro mais ágil, produivo e digital.

Os relatórios “Global Human Capital Trends”, da Deloitte, frequentemente discutem o impacto positivo da inclusão e flexibilidade organizacional na performance e inovação. A edição de 2024 , por exemplo, destaca que empresas que implementam modelos de trabalho mais inclusivos conseguem maior engajamento ao criar ambientes que acolhem a diversidade e permitem que as equipes se adaptem melhor às mudanças constantes do mercado de trabalho, como o impacto de tecnologias emergentes e novas formas de trabalho híbrido e remoto.

Em um mercado altamente dinâmico e competitivo, onde a inovação e a busca pelos talentos mais qualificados são fundamentais, investir na conexão entre diferentes gerações é uma estratégia que pode impulsionar o sucesso a longo prazo.

Para líderes de tecnologia e empresários, essa é uma oportunidade de transformar o ambiente corporativo em um espaço de aprendizado contínuo, onde cada colaborador pode contribuir com suas habilidades únicas e onde o respeito e a valorização da diversidade são práticas consolidadas. Ao abraçar a convivência geracional, as empresas criam um ecossistema mais colaborativo e resiliente, mais capacitado, sólido e motivado para enfrentar os desafios do futuro.

Mauro-Wainstock

CONSELHEIR@

Mauro Wainstock

Eleito Linkedin TOP VOICE (3 selos), “Um dos RHs mais influentes da America Latina” (RH Summit), “TOP 100 People” (Feedz/TOTVS) e “Líder Inovador em Saúde” (HIHUBTECH).

Colunista da Exame, sócio-fundador da consultoria HUB 40+ (diversidade etária e integração geracional), diretor da Associação Brasileira dos Profissionais de Recursos Humanos, membro do Instituto Brasileiro de ESG, além de mentor de executivos, conselheiro e consultor de empresas, professor da ESPM (RJ/SP) e da Exame Corporate Education.

Jurado do “Hackathon International Space Apps Challenge”/NASA, parceiro do “Startup World Cup”, maior competição startups do mundo; idealizador e realizador do Hacka4All, o primeiro Hackaton sobre diversidade e inclusão do Brasil.

Quem também está com a gente

Empresas, Startups, Centros de Pesquisa e Investidores