Como proteger empresas contra a engenharia social?

fevereiro, 2025‎ ‎ ‎ |

‎Por Fabio Szescsik

A engenharia social não é apenas uma ameaça no campo da segurança digital, mas também um campo em constante evolução, alimentado pelo comportamento humano e pela psicologia. Diferentemente de ataques tradicionais que dependem de vulnerabilidades técnicas, os ataques de engenharia social exploram os erros humanos, manipulando emoções e comportamentos para obter acesso a informações sensíveis ou sistemas críticos.

Com a crescente digitalização e o uso massivo de tecnologias conectadas, as táticas empregadas por cibercriminosos estão se tornando cada vez mais sofisticadas, utilizando inteligência artificial, redes sociais e até mesmo engenharia comportamental para enganar suas vítimas. De acordo com o “Data Breach Investigations Report 2023” da Verizon, 74% das violações de dados envolvem o elemento humano, evidenciando a prevalência de ataques de engenharia social no cenário atual de ameaças. Esses ataques exploram vulnerabilidades humanas por meio de técnicas como phishing e pretexting, manipulando indivíduos para obter acesso não autorizado a informações sensíveis. O relatório também destaca que o comprometimento de e-mails corporativos (Business Email Compromise, BEC) quase dobrou em relação ao ano anterior, representando mais de 50% dos incidentes de engenharia social.



A evolução da engenharia social

A engenharia social, em sua essência, baseia-se na manipulação psicológica para persuadir indivíduos a realizar ações ou compartilhar informações confidenciais. Contudo, nos últimos anos, essa prática evoluiu de forma alarmante, com cibercriminosos combinando tecnologia avançada a estratégias comportamentais, resultando em ataques personalizados e difíceis de detectar.

Um exemplo claro dessa evolução é o phishing personalizado, também conhecido como spear phishing. Diferentemente dos e-mails genéricos, essa técnica utiliza dados públicos, como informações disponíveis em redes sociais, para criar mensagens altamente específicas. Os criminosos imitam fornecedores, colegas ou gestores, tornando o ataque mais convincente. Por exemplo, um colaborador pode receber um e-mail que parece ser do seu gerente, solicitando informações financeiras críticas, aumentando as chances de sucesso do golpe.

Outra ameaça crescente é o uso de deepfakes e voice phishing, conhecido como vishing. Com a popularização de ferramentas de clonagem de voz e manipulação de vídeos, os atacantes conseguem replicar com precisão a aparência e o tom de voz de pessoas reais. Imagine receber uma ligação do “CEO” da sua empresa pedindo uma transferência urgente de recursos. Essa abordagem já causou prejuízos milionários em organizações ao redor do mundo.

Além das ameaças digitais, a engenharia social também ocorre no ambiente físico, como no caso do tailgating. Essa técnica envolve criminosos entrando em áreas restritas ao seguir um funcionário, aproveitando momentos de distração ou gestos de empatia, como segurar a porta para um suposto colega. Essa prática demonstra que as ameaças não se limitam às interações virtuais.

Por fim, redes sociais como LinkedIn e Twitter tornaram-se um campo fértil para ataques de engenharia social. Criminosos criam perfis falsos de recrutadores ou parceiros de negócios para construir confiança ao longo do tempo, com o objetivo de extrair informações confidenciais de colaboradores ou até mesmo de líderes empresariais.

Diante da crescente sofisticação desses ataques, é essencial que empresas e indivíduos permaneçam atentos, invistam em educação e conscientização sobre segurança digital e implementem tecnologias de proteção robustas para minimizar riscos e proteger dados críticos.



O impacto devastador na segurança das organizações

Os ataques de engenharia social podem ter consequências financeiras, legais e reputacionais catastróficas. Empresas de diversos setores relatam prejuízos milionários causados por esses golpes. Um relatório patrocinado pela Proofpoint e conduzido pelo Ponemon Institute, revelou que incidentes de ameaças internas que levaram mais de 90 dias para serem contidos custaram, em média, US$ 17,19 milhões por ano às organizações. Isso destaca a importância de uma resposta rápida para minimizar os custos associados a ameaças internas.

Os impactos podem incluir:

  • Roubos financeiros: Transferências bancárias fraudulentas e acesso a contas corporativas.
  • Roubo de propriedade intelectual: Projetos, planos estratégicos e dados de clientes vazados.
  • Comprometimento de sistemas críticos: Resultando em interrupções operacionais que afetam a produtividade.
  • Danos reputacionais: A perda de confiança dos clientes e parceiros comerciais pode ser irreparável.



Como proteger sua empresa contra engenharia social avançada

Proteger uma organização contra as sofisticadas táticas de engenharia social requer uma abordagem multifacetada, que combine tecnologia, processos robustos e educação contínua dos colaboradores.

Treinamento e conscientização dos colaboradores

O elo mais fraco na cadeia de segurança costuma ser o fator humano. Implementar programas regulares de conscientização pode ajudar os funcionários a identificar e evitar armadilhas.

  • Simulações de Phishing: Realize testes simulados para educar e reforçar a vigilância.
  • Workshops de Segurança: Ensine os sinais comuns de engenharia social, como mensagens urgentes, links suspeitos e pedidos incomuns.
  • Cultura de Segurança: Promova uma política de “confiança, mas verificação”, incentivando os colaboradores a validar solicitações, mesmo que pareçam legítimas.

Implementação de tecnologia antifraude

Embora a engenharia social tenha um forte componente humano, ferramentas tecnológicas podem atuar como barreiras adicionais.

  • Autenticação Multifator (MFA): Mesmo que um atacante obtenha credenciais de login, a MFA adiciona uma camada extra de segurança.
  • Soluções de Filtragem de E-mails: Utilizar softwares para detectar e-mails suspeitos ou maliciosos antes que cheguem aos colaboradores.
  • Monitoramento de Redes: Ferramentas como SIEM (Gestão de Informações e Eventos de Segurança) ajudam a identificar comportamentos anômalos que podem ser indicativos de um ataque.

Políticas e procedimentos internos

Estabelecer processos claros para solicitações de informações ou transferências financeiras pode minimizar o risco de decisões precipitadas.

  • Dupla Verificação: Solicitar validação secundária para transações financeiras ou alterações em dados críticos.
  • Política de Acesso Físico: Controle rigoroso de acesso a áreas sensíveis da empresa.
  • Plano de Resposta a Incidentes: Estabeleça um plano detalhado para lidar com incidentes, reduzindo o impacto de possíveis ataques.

Parcerias com especialistas em segurança

Muitas organizações carecem de recursos internos para lidar com ameaças crescentes. Contratar empresas especializadas em cibersegurança pode fortalecer a defesa contra engenharia social e outras vulnerabilidades.

  • Auditorias de Segurança: Avalie vulnerabilidades por meio de testes de invasão e análises de risco.
  • Suporte Proativo: Empresas especializadas podem monitorar continuamente sistemas e responder a incidentes rapidamente.



O papel dos líderes no combate à engenharia social

A liderança desempenha um papel crucial na proteção contra a engenharia social. Os CEOs, CTOs e CISOs devem priorizar a segurança como parte integral da estratégia empresarial.

  • Visão Estratégica: Considere a segurança como um investimento, não como um custo.
  • Exemplo de Liderança: Promova boas práticas de segurança ao adotar medidas preventivas pessoalmente.
  • Inovação Constante: Mantenha-se atualizado sobre as tendências de ameaças e novas tecnologias para combate.

Logo, a engenharia social avançada representa uma ameaça crescente e insidiosa para as organizações modernas, utilizando a combinação de psicologia e tecnologia para explorar o elo mais vulnerável: o humano. Líderes empresariais e de tecnologia devem reconhecer que a segurança da informação vai além de firewalls e antivírus – ela exige um compromisso contínuo com a educação, o fortalecimento de processos e o uso estratégico de tecnologias preventivas.

Investir na proteção contra engenharia social não é apenas uma medida de defesa, mas uma vantagem competitiva, capaz de salvaguardar ativos críticos e manter a confiança de clientes e parceiros. Com treinamento adequado, ferramentas robustas e uma liderança visionária, as empresas podem minimizar riscos e construir uma postura de segurança resiliente.

Fabio-Szescsik

CONSELHEIR@

Fabio Szescsik

Sou um profissional polivalente, apaixonado por tecnologia e pessoas e que acredita que a segurança digital, produtos e negócios podem caminhar juntos para viabilizar uma solução diferenciada aos clientes internos e externos. Possuo mais de 25 anos de experiência nas áreas de tecnologia e segurança, tendo atuado em diversas empresas de diferentes segmentos de negócio, inclusive em consultorias como EY, PwC e KPMG, alcançando cargo de sócio na última citada. Atualmente sou responsável por segurança, privacidade e operações para o Open Finance Brasil

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